Integrantes de grupos teatrais populares que encenam a Paixão de Cristo no Ceará tiveram que se reinventar para superar as dificuldades financeiras e a perda de alguns atores que deixaram o elenco após contrair Covid durante os dois anos de pandemia, quando as apresentações dos espetáculos tiveram de ser interrompidas.
“Antes da pandemia os grupos de teatro se mantinham de bilheteria e dos seus cachês, que vinham das suas apresentações. Isso tudo ficou paralisado durante a pandemia e precisávamos nos manter de pé, pagar as despesas da nossa sede, onde realizamos os ensaios e guardamos os adereços usados pelos atores na peça”, explicou Expedito Garcia, diretor do coletivo Populart, que há 29 anos apresenta o espetáculo Gólgota – A Paixão de Cristo, em Fortaleza.
Segundo Garcia, só foi possível continuar mantendo o espaço onde cerca de 50 atores se reúnem para ensaiar porque o grupo venceu alguns editais de apoio aos artistas afetados pela pandemia.
“Quando a Lei Audir Blanc foi criada, ela foi pensada exatamente como uma lei de socorro aos artistas, uma lei criada pelo Congresso Nacional, com recurso federal que foi repassado tanto aos estados como aos municípios, então no nosso caso, a gente ganhou como auxílio à sede para pagar aluguel, energia, água e internet já que estávamos sem receber cachês. Outro edital que ganhamos e nos ajudou muito foi de um espetáculo virtual da Paixão de Cristo em 2021 que aconteceu em plena pandemia e foi transmitido via internet”, completa.
Encenação da Paixão de Cristo em Fortaleza — Foto: Divulgação
Com um espetáculo itinerante que passa por outros bairros da capital cearense, a expectativa do grupo é para a apresentação da Paixão de Cristo na comunidade do Bairro José Walter, na periferia da capital cearense. Expedito espera reunir um público estimado em 3 mil pessoas neste ano.
“Nós não fazemos uma única apresentação, começamos 10 dias antes com o espetáculo circulando pelos bairros até que culminamos na apresentação do Bairro José Walter. As pessoas estão em casa há muito tempo querendo sair, ver espetáculo, assistir teatro e nada melhor que assistir isso na sua própria comunidade”, finalizou.
Encenação da peça Gólgota – A Paixão de Cristo, em Fortaleza — Foto: Divulgação
O retorno das apresentações foi um alento para a atriz e produtora cultural Luana Lopes que disse ter tido sentimentos de vazio, ansiedade e saudade durante os dois anos sem encenar a peça. Além da perda de pessoas conhecidas, não necessariamente do grupo de teatro, ela diz que houve perda de empregos na pandemia.
“Pessoas perderam seus empregos fixos, ficaram deslocadas, deixaram a arte. Para mim isso teve um peso mais imaterial que qualquer outra coisa. Não estar no palco, sentir o calor humano. Vieram muitas coisas à tona, me senti vazia. Essa retomada é um feixe de luz na escuridão, uma esperança que dias melhores virão e que o lugar que me toca também poderá tocar outros e transformar vidas com nosso espetáculo”, disse.
Jovens de Massapê (CE) encenam a Paixão de Cristo pela ruas da zona rural do município — Foto: Divulgação
Para outro grupo de jovens que também realiza a encenação da Paixão de Cristo, além das dificuldades financeiras foi preciso superar a perda de alguns integrantes do elenco que tiveram Covid-19 no pico da primeira e decidiram não mais retornar aos ensaios para participar da peça realizada na zona rural de Massapê, no norte do Ceará.
“A gente passou aí dois anos nessa pandemia, onde algumas pessoas do elenco que tiveram Covid não conseguiram mais retornar para os ensaios e acabaram deixando o grupo. Então para nós, é mais que importante esse ano estarmos fazendo este espetáculo. Estamos ensaiando há meses com toda empolgação, com toda alegria e com a ajuda da comunidade”, afirma Gleicimauro Félix, diretor do grupo Juventude em Ação.
Há oito anos no grupo, o estudante Ivo Peregrino já interpretou Pedro, João e esse ano vai fazer o papel de Jesus e não esconde a emoção. “É muito gratificante. É uma emoção inexplicável você representar o Salvador”, comenta.
Desde os 15 anos, a auxiliar de produção Bianca Aguiar faz parte da encenação. Hoje com 21 anos e já familiarizada com a apresentação ela diz que cada papel é uma sensação diferente. “Madalena e Verônica tiveram sua história marcada. As pessoas que estão nos vendo querem sentir a emoção”, afirma.
Os 12 atos da Paixão de Cristo vão são encenados a partir das 15h30 da sexta-feira Santa (15) pelas principais ruas do distrito de Mumbaba de Baixo.
- Gólgota – Paixão de Cristo de Fortaleza
Sexta feira: 15/04 19h Campo do Colégio Onélio Porto – José Walter (doação de 1k de alimento ou R$ 2,00)
- Encenação a Paixão de Cristo de Massapê
Sexta-feira: 15/04 – 15h30
Distrito de Mumbaba de Baixo – Massapê
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FONTE: Lapada Lapada