Pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, conseguiram mostrar que o vírus da gripe é capaz de causar danos diretamente ao coração, o que contradiz a tese de que as complicações cardiológicas se davam pela inflamação intensa dos pulmões dos pacientes.
Em um artigo publicado na quarta-feira (11) na revista Science Advances, os cientistas mostram como o vírus influenza provocou avarias elétricas e cicatrizes no coração de camundongos por meio de uma infecção direta.
Anteriormente, os pesquisadores já haviam encontrado partículas do vírus da gripe nas células cardíacas de camundongos infectados, mas não conseguiram determinar se era a presença dele que estava causando os problemas.
Para resolver a questão, eles modificaram o influenza geneticamente de modo que não se replicasse no coração. Foi então que viram que os camundongos infectados desenvolveram sintomas clássicos da gripe, só que sem complicações cardíacas.
“Agora precisamos descobrir o que a infecção direta faz: está matando as células do coração? Tem ramificações de longo prazo? As infecções repetidas têm complicações cardíacas que se acumulam com o tempo? Há muitas perguntas agora para nós respondermos”, disse em comunicado o autor principal do estudo, o professor Jacob Yount, da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Ohio.
Genética e risco de complicações
O laboratório de Yount já havia descoberto que camundongos sem o gene IFITM3, que codifica uma proteína-chave na eliminação de infecções do sistema imunológico inato, tinham maior risco de desenvolver problemas do coração durante a gripe.
O mesmo pode ser estendido para os humanos. Estima-se que cerca de 4% da população europeia tenha essa variação genética que causa a deficiência do gene IFITM3.
“Sabemos que essas pessoas são mais suscetíveis a infecções graves por gripe, e nossa pesquisa com camundongos sugere que elas também são mais suscetíveis a complicações cardíacas com a gripe”, acrescentou o professor.
Embora o estudo ainda esteja em fase inicial, Yount diz acreditar que as descobertas sugerem que a capacidade que cada um tem de eliminar o vírus pode ser a chave para reduzir danos no coração em pacientes com gripe.
Ele ressalta a importância da vacinação contra a gripe. No Brasil, a campanha de imunização começou em 4 de abril para profissionais de saúde e idosos, e foi estendida a outros grupos prioritários no dia 2 de maio, como crianças até 5 anos, gestantes, puérperas, indígenas e outros.
A cobertura vacinal, todavia, está em 30,4%, muito aquém dos 90% desejados pelo Ministério da Saúde.
Em um evento do Instituto Butantan e da farmacêutica Sanofi, no fim de abril, a médica infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, chamou atenção para problemas do coração associados à gripe.
“Cada vez mais existe uma relação de vírus — e não estou falando só de influenza — com complicações cardiovasculares. Você ter alguém que teve gripe e depois teve um infarto não é um excesso de falta de sorte, e sim uma consequência do que a gente sabe que pode acontecer.”