A onça-pintada morta com tiro na cabeça pelo fazendeiro Benedito Nédio Nunes Rondon, em março deste ano, em Poconé, se chamava Queixada e era monitorada pela Ong Jaguar Identification Project desde novembro de 2021.
A informação foi confirmada em laudo pericial elaborado pela Gerência de Perícias em Áudio e Vídeo da Politec e desmente a alegação dos advogados do fazendeiro de que o vídeo era antigo, feito há mais de um ano.
O exame foi requisitado com o objetivo de investigar a prática de crimes ambientais de caça ilegal de animais silvestres.
Benedito Nédio Nunes Rondon postou vídeos nas redes sociais debochando da morte da onça-pintada no dia 27 de março. Em uma das imagens, ele aparece deitado ao lado do animal, com uma pistola em cima do corpo dele. “Aqui não tem mamãe e não tem papai. É lapada do ‘língua preta’”, diz.
Após repercussão do caso, ele teve prisão decretada e se entregou no dia 18 de abril. Na época, a defesa alegou que o vídeo foi gravado há mais de um ano. Também afirmou que a arma que aparece no vídeo não foi a usada para matar o animal.
Benedito foi solto no dia 20 de abril após pagar fiança de R$ 166 mil.
Conforme o delegado Maurício Maciel Pereira Junior, responsável pelas investigações da morte do animal, “a prova objetiva e técnica diz que essa onça estava viva em novembro de 2021, o que põe por terra o argumento da defesa de que fazia mais de um ano que o vídeo havia sido produzido”.
A constatação de que se trata de Queixada se deu através do exame de Comparação de Padrão, que consiste na análise e comparação de características e detalhes presentes na imagem, para suportar ou contrapor, em maior ou menor grau, a hipótese de que um objeto padrão é responsável pelas características identificadas na imagem questionada.
Neste caso em questão, o confronto foi realizado com base em duas imagens, sendo a primeira uma fotografia tirada em novembro de 2021, que consta no guia de identificação de onças de uma pousada da região; e o vídeo que mostra um homem abraçado ao animal morto com um tiro na cabeça.
O exame pericial partiu da análise do padrão de pintas do animal, que, conforme o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), são características individualizantes das onças-pintadas.
As pintas localizadas na região da cabeça, nuca e cauda são sólidas, porém nos flancos elas formam rosetas grandes ou pequenas, fechadas ou abertas, com ou sem pintas no seu interior. Estas marcas são bastante variadas e podem ser usadas para identificar uma onça individualmente, como se fosse uma impressão digital.
De acordo com o perito oficial criminal responsável, Ozlean Dantas, nos exames realizados foi possível notar fortes convergências nos padrões das pintas localizadas na região do flanco direito do animal. Baseado nesses resultados, o perito concluiu que o resultado dos exames corrobora com a hipótese de que o animal presente no vídeo que circulou nas redes sociais é o mesmo fotografado em novembro do ano passado.
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