Famílias de refugiados ucranianos contam o que enfrentaram até chegar ao EUA | Jornal Nacional

Nos Estados Unidos, o correspondente Felipe Santana visitou famílias de refugiados ucranianos acolhidos no país e ouviu relatos do que elas passaram até chegar lá.

Os desenhos de Estefânia são a única forma que uma família tem para agradecer ao casal americano que emprestou um apartamento. Os desenhos também vão pelo correio para Ucrânia, onde o pai dela luta perto de Mariupol. Olesya não imaginava que as tropas estacionadas fossem invadir. Mas a ficha caiu quando as bombas começaram a atingir Kiev às 5h.

Eles nem acompanharam o discurso de Putin pela TV, em que ele anuncia uma operação militar. Era 24 de fevereiro – faz cem dias. Ela diz: “Meus amigos começaram a ligar e percebemos que era realmente uma guerra”.

Olesya conta que foi para um abrigo subterrâneo, como tantos ucranianos. Quando Anna ouviu os primeiros os primeiros barulhos de explosão em Kiev, acho que eram fogos de artifício. A família da Anna também foi ver o abrigo no dia 24 de fevereiro. Ela diz que, por causa da falta de estrutura, resolveram pegar a estrada em direção ao oeste da Ucrânia. Só que os engarrafamentos eram enormes e as filas dos postos de gasolina eram quilométricas. Levaram 35 horas para fazer uma rota – que geralmente leva cinco – para chegar nos arredores de Lviv.

A família de Olesya passou três primeiros dias no abrigo subterrâneo. Foi aí que se convencerem de que a situação estava piorando. Foi neste dia, em que Zelensky se recusou a sair do país e decidiu ficar para lutar, que a família resolveu pegar o mesmo engarrafamento para ir para o oeste. Olesya, o marido, dois filhos e a mãe dela.

Olesya diz que a sorte foi que eles tinham enchido o tanque de gasolina dois dias antes, porque já não havia mais combustível para todo mundo. Cada família só podia comprar 15 litros. Conseguiram hospedagem também perto de Lviv. Esperaram oito dias.

Durante esse tempo, viram Putin avançando para Kharkiv, bombardeando o prédio do governo e áreas residenciais, e o ataque à torre de TV. Nesse dia, a família de Anna já tinha abandonado Lviv e cruzado a pé a fronteira com a Hungria.

Do outro lado, uma amiga com os filhos levou a família até a Itália. Uma outra amiga, nos Estados Unidos, ligou para saber como estavam e disse que poderia ajudá-los. A família de Olesya, depois de oito dias em Lviv, resolveu sair do país.

Mas o marido foi na direção contrária; pegou o trem que trazia refugiados de volta para Kiev para lutar a guerra. Essa é a última foto deles juntos.

Olesya atravessou a fronteira da Eslováquia e percorreu caminhos sinuosos e cidades pequenas até a fronteira com a Polônia. Foi direto para o aeroporto em Varsóvia – bem no dia do ataque à maternidade em Mariupol. Ela conta que a atendente disse que cada passagem custava US$ 2,5 mil. Olesya disse que só tinha US$ 900 e um carro. Ofereceu o carro para pagar as passagens.

Percebendo o desespero, a funcionária deixou ela comprar três passagens com o pouco dinheiro que tinha. Nesta sexta (3) faz cem dias. Cem dias desde o começo da guerra que nenhuma das duas famílias se arrisca em dizer quando vai acabar. Nenhuma das duas famílias pensa em ficar nos Estados Unidos.

Anna diz que não tem como ser feliz lá; não com essa incerteza e com o marido lutando na guerra. Ela lembra da vida confortável que tinha em Kiev, que foi interrompida por bombardeios muito próximos de casa.

Olesya não tem mais dinheiro para se sustentar e nenhum auxílio oficial. Depende da ajuda de pessoas que conhece pelas redes sociais, e o agradecimento vem da Estefânia, de 10 anos de idade, que tenta trazer as cores da alegria para um momento em que é difícil encontrá-la. E já faz cem dias.

FONTE: Lapada Lapada

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