O nome dela é Rosângela Dias Domingos, mas na Biblioteca organizada pela Casa Dom Hélder Câmara, em um projeto que recebe crianças e adolescentes do Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio, para reforço escolar, ela é mais conhecida como Tia Rose.
Há um ano e meio, quando chegou ao projeto, Rose percebeu que os livros do local eram usados para rabiscar, fazer bolinha de papel, menos para ler. Foi aí que ela criou o projeto “Caixote de Leitura”, em que cada aluno deveria pegar um livro, levar para casa e fazer um resumo.
Muitos não sabiam nem o que era um resumo. Não tem problema! Tinha Rose inventou a “Fofoquinha”. Um jeito de você ler o livro e contar para ela o que se passava na história, como se fosse uma fofoquinha.
Um dos alunos do projeto de leitura da Tia Rose — Foto: Tv Globo
“Eles não sabiam fazer resumo porque também não tinham o hábito de escrever. Falei: quero que contem igual a fofoca”, lembra.
O projeto começou a dar certo, mas começou a ficar repetitivo, sempre com os mesmos leitores. Tia Rose teve nova ideia.
“São sempre as mesmas pessoas pegando (os livros). Vamos melhorar isso aí. Criei prêmios tipo passeios para o leitor do mês, certificado, bombons e não sei o quê. Aumentou interesse”, conta.
Ti Rose e seu projeto — Foto: TV Globo
Muita gente chegou pelo prêmio, mas depois começou a gostar de ler.
“As primeiras escritas não eram bacanas, mas a gente foi melhorando. Na minha turma tem roda de leitura, leitura coletiva, interpretação e gramática oral. Muita doação de livros. A gente também tem uma pequena verba. Aí se não tem como comprar livros novos, compramos no sebo”, diz ela que empresta cerca de 280 livros por mês, e tem 70 leitores no seu projeto.
Projeto expandiu para o Lins
A iniciativa de estímulo à leitura deu tão certo, que os alunos de Tia Rose começaram a virar professores.
“Eu sinto que criança, se você mostrar os caminhos, elas absorvem e ensinam para outras, ensinam até para os adultos”, diz.
Foi assim com a Niccole, aluna da Tia Rose que hoje em dia lê e escreve cartas para a avó, Alessandra; e o Erick, que amou tanto os livros que até já escreveu um.
“É um livro da minha escola sobre folclore, que fala sobre a Iara, a Cuca, o Saci e o Curupira”, diz ele que um dia falou para mãe dele que era para esvaziar a sala dela que ele ia dar aula.
Erick pediu livros emprestados para levar o Caixote de Leitura para o Lins — Foto: TV Globo
Ele também já pediu para a Tia Rose levar os livros do ”Caixote de Leitura” para o Complexo do Lins, para ao amigos lerem, e sonha em viajar para ver e conhecer mais do mundo que vê nos livros.
“Aquelas cidades, aqueles lugares até o mundo da fantasia, que está dentro do livro, eles podem ter acesso, ainda mais quando a leitura fala da cidade que eles vivem”, diz Rose que agora também faz passeios com seus pequenos leitores para conhecerem o Rio de Janeiro e as bibliotecas da cidade.
“Eu não aceito falar que criança ou adolescente de comunidade não tem direito. Eles acreditam nisso, tá? Se você ficar falando para eles ‘você não tenho direito de entrar ali, eles acreditam’. Eu tenho uma coisa que me move como professora, que é uma frase da minha vó, que era analfabeta, e que acordava sábado, domingo cedinho e falava assim: ‘Vamos ver o mundo’. Eu quero isso para eles. Quero que eles vejam mundo, que sejam e se sintam pertencentes a essa cidade maravilhosa”, diz Tia Rose.
Tia Rose e seus alunos na Biblioteca Nacional — Foto: Divulgação
FONTE: Lapada Lapada