“Deixa, deixa mesmo de ser importante…”, cantou Marília Mendonça no refrão de “Eu sei de cor”, um dos hits de sua carreira meteórica, que durou apenas uma década — de 2011, quando começou a se destacar como compositora, passando pelo sucesso retumbante de “Infiel”, em 2016, música que a projetou como intérprete, até o fim trágico, em 5 de novembro do ano passado, com o acidente aéreo que tirou a vida da Rainha da Sofrência. Deixar de ser importante é tudo o que não aconteceu neste um ano sem a artista. A saudade da família, dos amigos e dos fãs mantém viva sua imagem e sua arte. E os números ratificam a grandiosidade da goiana, que saiu de cena precocemente, aos 26 anos, mas continua sendo uma das cantoras mais ouvidas do país.
De acordo com a Som Livre, gravadora que lançou toda a obra musical de Marília Mendonça, ela hoje faz números superiores aos do passado. Comparando o mesmo período (janeiro a setembro de 2021 e de 2022), a artista cresceu 101% nas plataformas de áudio e 56% no YouTube. Há um ano, não sai do Top 3 Artistas do Spotify. E ficou 17 semanas consecutivas no Top 1 da plataforma, totalizando 28 semanas no primeiro lugar. Em 2020, foi a mais ouvida. Em 2021, ficou em segundo lugar.
— Mesmo depois de um ano, é difícil assimilar a perda de Marília. Ela deixou como parte do seu legado um caminho pavimentado para as mulheres cantoras e autoras, não só dentro do sertanejo. Sua ausência abriu uma lacuna que será impossível de ser preenchida. Ela tem o lugar eterno que só os grandes artistas conquistam — sublinha Júlia Braga, diretora de marketing e comercial da Som Livre.
Um gráfico mostra que no dia seguinte à sua morte, 6 de novembro de 2021, as músicas de Marília atingiram um pico de 30 milhões de streams no Spotify. Ao longo dos últimos meses, a média de execuções se manteve alta, 8 milhões, praticamente o dobro do que era observado até a partida da cantora, quando ela se encontrava no auge. Atualmente, ela soma 10.424.696 ouvintes mensais no Spotify, sendo acompanhada principalmente por paulistanos, cariocas, belo-horizontinos, curitibanos e gaúchos.
Já na Deezer, Marília acumula 1.766.354 fãs. Suas músicas mais ouvidas de janeiro a outubro deste ano foram “Mal feito (ao vivo)”, “Vai lá em casa hoje”, “Te amo demais”, “Presepada” e “Esqueça-me se for capaz”, considerando o número de streams proporcional diário em 2022.

Ainda segundo informações da Deezer, Brasil, Estados Unidos, França, Irlanda e Portugal são os países onde suas canções mais tocam. Falando sobre cidades, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Brasília estão no topo das que mais a ouvem. E as faixas etárias dos ouvintes ficam entre 18-25 anos (21%), 26-35 anos (43%), 36-45 anos (25%) e 46-55 anos (12%) anos no Brasil, e 18-25 anos (21%), 26-35 anos (43%) e 36-45 anos (25%) no mundo. Entre novembro e dezembro de 2021, a plataforma registrou um crescimento de 63% de streams de Marília no Brasil e 61% no exterior. O maior pico de execuções foi em janeiro deste ano.
— Em sua música e atitude, Marília trazia mensagens muito potentes e criou um relacionamento ímpar com toda uma geração. Sua obra segue atual e sua voz seguirá sendo ouvida, seguramente, por muitos anos — acredita a executiva Júlia Braga.
O Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) também divulgou um levantamento sobre o legado da artista, que tem 335 obras musicais e 444 gravações cadastradas no banco de dados da entidade. No ranking das músicas mais regravadas de sua autoria, três empataram em primeiro lugar, com 19 gravações cada: “Calma”, “O que falta em você sou eu” e “Infiel”. Como determina a Lei de Direitos Autorais (9.610/98), Léo, de 2 anos, único herdeiro da cantora, continuará recebendo os rendimentos de suas músicas até 2091, 70 anos depois do trágico acidente em Minas.
Após sua morte, Marília teve lançado o projeto “Decretos reais”. Em 21 de julho, véspera de sua data de aniversário, foi apresentado o primeiro EP, com quatro faixas extraídas da live “Serenata”. Outros EPs do projeto ainda devem ser lançados, mas sem previsão de data. Também vieram à tona músicas gravadas em parceria com Dulce María (“Amigos con derechos”), Naiara Azevedo (“50 por cento”), Lucas Lucco (“Amava nada”), Hugo & Guilherme (“Mal feito”), Ludmilla (“Insônia”) e Dom Vittor & Gustavo (“Calculista”). Em setembro, esta última dupla se desfez, quando João Gustavo, irmão de Marília, desistiu de seguir a carreira ao ser diagnosticado com depressão e esofagite aguda.
Enquanto isso, Dona Ruth, mãe de Marília e Gustavo, lançou um canal no YouTube, onde exibe entrevistas, culinária e números musicais para seus 358 mil inscritos. Em conversas com o “É de casa” e o “Fantástico”, que vão ao ar hoje e amanhã, respectivamente, a youtuber, que completou 54 anos ontem, contou que mantém em Goiânia um espaço de homenagem à filha, como um museu, com cômodos decorados com fotos, desenhos, cartas de fãs e memórias. E que o quarto da Rainha da Sofrência permanece intacto, do jeitinho deixado por ela.
FONTE: Folha Max