quinta-feira, maio 15, 2025

Cartinhas para o Papai Noel revelam vulnerabilidade em Cuiabá

As cartinhas endereçadas ao Papai Noel, na campanha dos Correios, revelam muito mais do que meros desejos de criança. As frases escritas em letras cursivas e de forma, às vezes garranchadas, revelam uma profunda vulnerabilidade social e emocional em que os pequenos estão inseridos.

 

Os pedidos são dos mais variados e vão desde os convencionais carrinhos de controle remoto e bonecas, à comida. É notável, ao passar de uma carta a outra, como as finanças da família afetam essas crianças interferindo até mesmo em seus sagrados “pedidos para o Natal”.

A situação lá em casa está muito difícil, tenho sete irmãos e meus pais não tem condições de me dar um presente

 

“Querido Papai Noel, para que meu natal fosse mais feliz gostaria de ganhar uma fantasia do Homem Aranha, do Naruto, e um sacolão de comida”, escreveu a pequena Y.S.L.P., de 9 anos, preocupada com as refeições de casa.

 

A falta de dinheiro é um argumento recorrente para justificar os pedidos feitos ao personagem fictício e legitimar a possibilidade de ganhar o presente.  

 

“Nos últimos anos tem sido muito difícil comprar as coisas no mercado e nas lojas, por isso estou pedindo uma bicicleta”, diz P.M.X.A., de 10 anos, ao contar que se sente triste nos últimos dias. “Meu cachorro morreu e eu doei meus brinquedos. Por favor me dê uma bicicleta”, reforça o pedido.

 

B.V.C, de 8 anos, fala em detalhes sua também difícil situação. Com 4 irmãos e a mãe desempregada ela sonha em ganhar uma bicicleta ou a camisa do time do coração – Flamengo.

 

Também com muitos irmãos, I.P.S., de 9 anos, reclama da falta de condições da família e sonha em ganhar uma bicicleta. “A situação lá em casa está muito difícil, tenho sete irmãos e meus pais não tem condições de me dar um presente”.

 

Outra pequena que sonha com o brinquedo é E.V.S., de 11 anos. “Eu sei que você faz o seu melhor para ajudar as crianças. Eu sei que você não é velho e também sei que você não tem trenó voador”, diz a pequena após desabafar com o “Sr. Noel”, demonstrando a ele empatia pela difícil tarefa de salvar o Natal de tantos.

 

“Eu espero do fundo do meu coração que você possa realizar o meu sonho e de todas as crianças do mundo”, completa.

Preciso de uma bicicleta para a minha saúde, estou pesando 69 quilos e a bicicleta vai me ajudar a emagrecer, então, senhor Papai Noel, me ajuda

 

Imagem e bullying

 

A história de V.F.R.M., de 10 anos, mostra outro tipo de vulnerabilidade para além da econômica.

 

“Preciso de uma bicicleta para a minha saúde, estou pesando 69 quilos e a bicicleta vai me ajudar a emagrecer, então, senhor Papai Noel, me ajuda”. diz o garoto.

 

Ele conta que os pais estão separados e trabalham muito, o pai em dois empregos e a mãe dia e noite e, ainda assim, “as vezes não tem dinheiro para comprar o almoço”. Ele finaliza o relato com um último apelo emocionado: “Então, Papai Noel, me ajude a emagrecer e eu serei grato ao senhor”.

 

Dois pedidos são feito na cartinha de L.Z.S. um é a camisa do seu time do coração, o outro motivado pelo bullying das colegas.

 

“Quero um Xbox série S, é bem caro, mas eu quero isso porque minhas ‘amigas’ me zoam e meu celular trava demais”, diz colocando ela mesma entre aspas a relação com as demais crianças.

 

Morte e solidão

 

N.G., de 7 anos, se abre com o “bom velhinho” e conta sobre o falecimento do pai no ano passado e em como isso ainda o afeta. “Estou muito triste, me recuperando de tudo isso”, diz. O pai deixou a esposa e os quatro filhos.

 

“Estou muito triste ainda, será que você pode me deixar um pouco feliz com um presente de natal. Eu estou feliz em poder estar conversando com você”, diz o garoto.

 

Filho único, N.P.L.N., de 7 anos, pediu apenas 8 pacotinhos de figurinhas da Copa para brincar com os coleguinhas. “Meus amigos da escola são igual irmãos para mim”, diz ele em sua cartinha ilustrada com uma árvore de natal e um pacotinho das figurinha.

Querido Papai Noel esse ano eu não vou querer presente, pois tenho trauma do natal. Então agradeço, mas não quero

 

N.P.R.  de 10 anos, conta que seu sonho é ganhar um carrinho de controle remoto, mas que se não der ele fica feliz somente em ter a sua cartinha lida.

 

Sem presente para mim

 

No auge de sua uma década vivida, M.C.S.B. demonstra altruísmo pedindo não para ela, mas para os demais.

 

“Nesse ano não vou pedir nada pra mim, mas queria só que o senhor consiga dar o que meus colegas pedirão e também ajudar a minha professora. Ela precisa entrar em uma escola muito boa, ela merece”, diz a pequena, pedindo também pelos seus familiares.

 

A.C.V.B., de 11 anos, também não quis nenhum presente este ano, mas por outras razões.

 

“Querido Papai Noel esse ano eu não vou querer presente, pois tenho trauma do natal. Então agradeço, mas não quero”, disse incisiva a garota.

 

O “bom velhinho” dos Correios é você

 

A campanha Papai Noel dos Correios atende crianças de até onze anos de escolas públicas em todo o País. A ação em Mato Grosso vai até o dia 23 de dezembro e qualquer pessoa pode apadrinhar uma das cartinhas e presentear as crianças nesse natal.

 

O objetivo é incentivar os pequenos a se interessar pela escrita e, de quebra desenvolver habilidades cognitivas e emocionais.

 

Cada um, a seu jeito, faz seu pedido e espera que, até o Natal, o presente venha tendo treno voador ou não.  

 

 



FONTE: Midia News

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