quinta-feira, agosto 28, 2025

Me acusa ex por morte do filho e relata ameaa em jri

 

Alexandra Dougokenski responsabilizou o ex-companheiro Rodrigo Winques pela morte do filho durante interrogatório do júri, em Planalto no Norte do Rio Grande do Sul. O terceiro dia de audiência começou com quase uma hora de atraso e cercado de expectativas. Por volta das 9h25 desta quarta-feira (18), a ré, acusada de matar o filho, Rafael Mateus Winques, de 11 anos, começou a dar a sua versão sobre o que aconteceu no dia do crime.

“Me disse [o ex Rodrigo Winques] a todo momento que se eu contasse alguma coisa [que o ex teria matado o filho] ele ia voltar e matar toda a minha família. Que ia me deixar sozinha, que eu não ia ter ninguém, e eu só ia depender dele. Ele e o outro cara [suspeito que teria ajudado no crime] foram embora dali e eu fiquei desolada sem saber o que fazer. Como contar pra minha mãe que ela não ia mais ter o neto dela. Como falar pro Anderson que ele não ia mais ver o irmão? Como?”, relata Alexandra.

 

Segundo ela, Rodrigo chegou até a residência em um veículo e amarrou Rafael com uma corda. Ele estaria acompanhado de um outro homem a quem Alexandra disse não conhecer.

”A pior lembrança que eu tenho foi quando ele começou a amarrar meu filho, e acho que meu filho tava sentindo que ia morrer, porque começou a gritar, começou a se debater, e ele dizia para ele: “Não, pai, isso não, pai, para, pai”. Foi o único momento em que vi meu filho chamar ele de pai”, diz Alexandra.

”Até hoje eu me pergunto: por quê? Por que ele não me matou no lugar do meu filho?”, questiona Alexandra.

Alexandra afirma que foi o ex-companheiro Rodrigo Winques quem colocou o corpo de Rafael na caixa em que o menino foi encontrado 10 dias depois.

“Depois que ele viu o que ele tinha feito, ele só queria saber de um lugar para colocar o meu filho. Foi aí que nos encaminhamos para a casa do lado e lá ele avistou a caixa e resolveu colocar meu filho lá dentro”, relata.

Ao ser questionada pela juíza Marilene Parizotto Campagna sobre os medicamentos encontrados pela perícia no organismo do menino, Alexandra disse que ministrou “uns dois dias antes” do ocorrido. Segundo ela, Rafael vinha relatando que não conseguia dormir.

”Minha mãe guardava sempre num potinho os remédios e eu peguei dois remedinhos e acabei dando para ele. Só que ele começou a passar muito mal. Aí eu vi que aquele remédio não podia mais ser dado para ele”, diz a ré.

A magistrada perguntou a Alexandra por que ela decidiu, depois de dez dias, indicar a localização do corpo de Rafael e assumir a autoria do crime. Ela disse que não aguentava mais ver o outro filho, Anderson, definhando.

”Não dormia e não comia. Eu via a minha mãe em desespero. O Beto [tio de Rafael] louco atrás do meu filho. E aí, pra acabar todo sofrimento deles, quando eu tive na delegacia eu acabei falando isso. Mas foi muito triste o que nós passamos na delegacia aquele dia. Porque naquele dia eles prenderam até a minha mãe”, explica Alexandra.

No final do interrogatório, Alexandra chorou e pediu para as pessoas a ajudem a colocar o assassino do seu filhos atrás das grades. “Não sou eu que tenho que tá passando humilhação, não é a minha família que tem que tá sofrendo. Eu tenho culpa, mas ele não pode ficar impune. Foi ele que tirou a vida do meu filho”, diz Alexandra, às lágrimas.

Relação de Rafael e Anderson

Em diversos momentos do interrogatório, Alexandra afirmou que Rodrigo Winques e o filho Rafael tinham uma relação ruim. Ela confrontou o depoimento do ex-companheiro, que afirmou que o menino gostaria de sair da casa da mãe quando completasse 12 anos para morar com ele.

”Acho que o Rafael preferia ver “o bichinho” na frente dele a morar com o pai. O Rafael nunca teve boa relação com ele”, diz

Alexandra também disse que o filho Rafael a salvou da morte em pelo menos duas oportunidades. Na primeira vez, segundo ela, Rodrigo teria se revoltado com alguma coisa e a agrediu com um soco. Ela caiu por cima de um fogão à lenha da casa e o ex-companheiro pegou um garfo para matá-la, mas teria sido impedido pelo menino.

”A outra vez foi numa tarde. O Anderson tinha saído, acho que tinha turno inverso na escola, para fazer algum trabalho. O Rodrigo veio com uma faca para cima de mim porque eu não quis ter relação com ele naquele momento. Tava só o Rafael ali e eu não achava conveniente quando ele queria ter relações quando meus filhos estavam em casa. Ele pegou uma faca e veio para cima de mim. O Rafael viu e se jogou e ficou em cima de mim”, contou Alexandra.

Alexandra não respondeu perguntas do Ministério Público, por orientação de seus advogados. Ela foi questionada apenas pela própria defesa e pela juíza.

Primeiro dia de júri

O primeiro dia do júri da morte de Rafael Mateus Winques teve depoimentos de dois delegados e da ex-professora do menino.

A primeira a depor nesta segunda foi a ex-professora de Rafael, Ana Maristela Stamm. Ela dava aulas de ciências e artes à vítima. Disse que menino era muito inteligente, disciplinado e querido, mas muito quieto. Ela lembrou que, durante as buscas por Rafael, foi algumas vezes à casa de Alexandra. Disse que a mãe do menino não parecia aflita com o desaparecimento do filho e “se mostrava tranquila”.

O segundo a depor foi o delegado Ercilio Raulileu Carletti, que conduziu as investigações na época do crime. Ele destaca que ao fim do inquérito, não restou dúvidas para a polícia de que Alexandra matou o filho. “Tenho certeza absoluta que foi ela [que matou Rafael]. Se não tivesse certeza não teria indiciado ela”, disse.

Na sequência, foi realizado o depoimento do delegado Eibert Moreira Neto. Segundo o delegado, todas as hipóteses foram investigadas pela polícia, porém todas elas foram “totalmente” afastadas, como a de que Alexandra encobria outra pessoa ou contava com ajuda de terceiros. “Ela confessava a prática do crime, mas a dinâmica que ela estabelecia não era inverossímil”, disse.

Houve discussões entre a equipe de defesa da ré e os representantes da acusação, sendo necessário que a juíza interrompesse a sessão.

Segundo dia de júri

O segundo dia do júri da morte de Rafael Mateus Winques, de 11 anos, nesta terça-feira (17), ouviu familiares da vítima e da ré.

O primeiro a depor foi ex-namorado de Alexandra, Delvair Pereira de Souza. Mais tarde, o filho dela e irmão de Rafael, Anderson Dougokenski, e o pai da vítima, Rodrigo Winques, foram ouvidos. Durante a tarde os jurados ouviram a mãe da ré e avó de Rafael, Isailde Batista. Uma ex-professora do menino também testemunhou no caso.

Hoje com 19 anos, Anderson pediu a absolvição da mãe pela morte do irmão. “Se pudessem absolver a minha mãe, a vida mudaria muito. Eu sei que não foi ela”, disse. O jovem disse que o pai de seu irmão era um homem “violento”.

O pai de Rafael solicitou que Alexandra não estivesse na sala durante a oitiva, o que foi atendido pela juíza. Rodrigo contou aos jurados que a ré dificultava o contato dele com o filho. A testemunha também negou ter problemas com o antigo enteado, Anderson. “O meu desentendimento era com a mãe dele”, contou.

Em um depoimento curto, a professora disse que Rafael Ladjane Ravagio “sempre foi muito reservado e aparentemente gostava da mãe”. Mãe de Alexandra e avó de Rafael, Isailde Batista afirmou que a filha seria uma “mãezona” e que “Rafael nunca chamou aquele homem [Rodrigo] de pai”. A mulher ainda defendeu a inocência da filha. “Ela não mata uma formiga”, disse Isailde.

Alberto Moacir Cagol, tio de Rafael e irmão de Alexandra, disse que a ré era uma boa mãe para os filhos. A testemunha disse que tanto Rafael quanto Alexandra chamavam o pai de menino de “Demo” e que a vítima não queria morar com o pai.

A perita criminal Bárbara Zaffari Cavedon foi a última testemunha ouvida nesta terça. A servidora pública foi questionada sobre a reconstituição do crime. Ela afirmou que Alexandra detalhou como posicionou corda no corpo de Rafael, sem mencionar ter feito nós. “Ela referiu até que começou a fazer alguns estalos quando ela estava puxando o corpo, puxando, enfim, a corda para fazer o carregamento do Rafael. E que aí, nesse momento, ela se deu conta que a corda estaria no pescoço do Rafael”, disse a testemunha.

Relembre o caso

Rafael desapareceu no dia 15 de maio de 2020. Alexandra sustentava que ele teria ido dormir e, na manhã seguinte, não estava mais em casa. Dez dias depois, ela confessou que havia assassinado o filho e indicou a localização do corpo, dentro de uma caixa de papelão em um terreno da casa vizinha.

Segundo o Ministério Público, responsável pela acusação, Alexandra teria feito com que o filho tomasse dois comprimidos de Diazepam, um ansiolítico com efeito calmante, sob o pretexto de que ele dormiria melhor. Assim que o medicamento fez efeito, Alexandra teria estrangulado o menino com uma corda.

A ré apresentou diferentes versões do crime ao longo do inquérito e da instrução judicial. Por fim, passou a acusar o pai de Rafael, Rodrigo Winques. A defesa dele nega.

FONTE: Folha Max

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