Um quiosque de culinária africana foi dado à família de Moïse no Parque Madureira, na Zona Norte da cidade
Mateus Rodrigues/g1
O caso de Moïse Kabagambe , o congolês brutalmente morto a pauladas em um quiosque na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, completa um ano no próximo dia 24 de janeiro (terça-feira). Três agressores estão presos, viraram réus e aguardam julgamento.
A família também espera pelo desfecho. Dada a sentença, provavelmente deixarão o Brasil — e consequentemente o quiosque no Parque Madureira, que ainda não deu lucro.
Em conversa com o g1, Djodjo Kabagambe, irmão da vítima, lamentou a falta de informações do caso.
“A gente não tem notícia nenhuma, nenhum resultado. A gente está um ano sem notícia do processo. Parece que não está andando nada”, disse Djodjo.
“Na terça (24), a gente vai fazer uma homenagem em forma de protesto. Uma homenagem pedindo justiça. A gente não está vendo nenhuma justiça até agora”, emendou.
O processo segue na 1ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Os três acusados pelo crime — Fábio Pirineus da Silva, Brendon Alexander Luz da Silva e Alesson Cristiano de Oliveira Fonseca — permanecem presos, denunciados pelo Ministério Público e réus desde 22 de fevereiro.
Em outubro, o advogado de Brendon da Silva apresentou a defesa às acusações. Os outros dois suspeitos ainda não se manifestaram. Em 6 de dezembro passado, os defensores de Fábio e Alesson renunciaram ao processo.
Com a repercussão do caso, a família da vítima ganhou a concessão de um quiosque no Parque Madureira, na Zona Norte, para administrar o comércio. No entanto, segundo Djodjo, o Quiosque Moïse não está trazendo muitos benefícios.
“A gente mora no Rio ainda, mas a gente não fala onde está morando por medo. O quiosque em Madureira está dando retorno mais ou menos. Está dando mais problema do que coisa boa. Estamos indo devagar, devagar. É muito custo”.
O pai de Moïse, Claude Kabagambe Magbo e os irmãos, Djodjo Baraka Kabagambe, e Maurice Magbo Mugenyi trabalham no quiosque doado à família do congolês
Mateus Rodrigues/g1
Adeus ao Rio
Depois da tragédia, a família de Moïse cogita até em sair da cidade. Eles esperam que o caso seja solucionado antes disso.
“Eu moro com minha mãe e meu irmão. A gente não quer sair do Rio enquanto o caso do meu irmão se resolva. A gente quer que se resolva para poder sair. A gente quer que tudo seja resolvido para ir embora. A minha mãe sente saudade do filho dela, perder um filho é muito difícil”, afirmou Djodjo.
Lembrança presente
Djodjo Baraka afirmou que lembra do irmão todos os dias desde que o perdeu. Durante seu intervalo de trabalho no Quiosque Moïse, ele disse ao g1 que se questiona por que os suspeitos pelo crime ainda não foram julgados mesmo depois de presos.
“É uma dor muito grande. Muitas pessoas pensam: ‘Deram o quiosque pra vocês e a dor acabou’. Não é verdade. Todo dia que eu tô aqui, lembro dele. Eu tô sempre lembrando dele. É difícil”, afirmou Djodjo.
“Nada muda mesmo depois de um ano. Continua a mesma coisa. A gente pergunta como está o andamento e a resposta é sempre a mesma. Nem notícia da audiência a gente tem. O que falta para os presos serem julgados? Já temos prova e já temos tudo. A gente está esperando o processo acabar para ir embora. Isso está demorando mais do que a gente imaginava”, completou.
O irmão mais velho de Moïse, Maurice Magbo Mugenyi, de 27 anos, disse que toda a família vai participar de um ato em homenagem ao irmão que foi brutalmente assassinado.
“Vamos fazer uma homenagem a ele. Vai ser no local onde tudo aconteceu, no quiosque da Barra da Tijuca. Um ano e nada aconteceu. É um evento para homenagear ele e fazer uma oração”.
Relembre o caso:
Moïse Kabagambe, morto após cobrar diárias atrasadas em um quiosque na Barra da Tijuca
Facebook/Reprodução
Moïse veio para o Brasil em 2014 com a mãe e os irmãos, como refugiado político, para fugir da guerra e da fome.
Segundo a família, Moïse foi vítima de uma sequência de agressões após ter cobrado dois dias de pagamento atrasado. Seu corpo foi achado amarrado em uma escada.
Testemunhas disseram que Moïse apanhou de 5 homens e confirmaram que os agressores usaram pedaços de madeira e um taco de beisebol.
Laudo do Instituto Médico-Legal (IML) indica que a causa da morte foi traumatismo do tórax, com contusão pulmonar, causada por ação contundente.
Três homens foram presos pela morte de Moïse: Fábio Pirineus da Silva, o Belo; Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove; e Brendon Alexander Luz da Silva, o Tota.
FONTE: Lapada Lapada
Um ano após morte de Moïse, família diz que quiosque ‘dá problema’, lamenta demora no julgamento e espera deixar o país
