O g1 apresenta, neste Dia da Visibilidade Trans, as vivências de duas cearenses que acharam, nas artes, uma alternativa para conseguir o que não encontraram no mercado tradicional: oportunidade e respeito. Empreendedora Lavínia Vieira e cantora Angel History de Fortaleza.
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Quem busca por uma vaga de emprego pode encontrar diversos obstáculos pelo caminho, e fica ainda mais difícil quando sua identidade — e sua existência — não é respeitada. É assim o cotidiano de pessoas transsexuais, que muitas vezes precisam enfrentar o desrespeito ao próprio nome e gênero. O g1 apresenta, neste domingo (29), Dia da Visibilidade Trans, as vivências de duas cearenses que acharam, nas artes, uma alternativa para conseguir o que não encontraram no mercado tradicional: oportunidade e respeito.
O dia 29 de janeiro é marcado como símbolo pela luta contra transfobia no Brasil porque nesta data, em 2004, foi organizado um ato nacional para o lançamento da campanha denominada “Travesti e Respeito”, em Brasília. Combater a transfobia, 19 anos depois, ainda se mostra necessário, especialmente no Ceará. O estado é o segundo que mais mata travestis no país, com 11 vítimas mortas em 2022, o mesmo número registrado em São Paulo.
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Após 19 anos, pessoas trans ainda buscam findar o preconceito que sofrem, inclusive, nos locais de trabalho. “Eu trabalhei durante alguns dias em um salão de beleza. Mas ele ficava na rua onde meu pai mora, e lá eu fui bastante violentada. Porque essa pessoa me conhecia desde criança, da minha infância, então ela me tratava no pronome masculino. Desde então eu não tive nenhum interesse em adentrar no CLT”, disse Lavinia Vieira, travesti criadora da Preta Chic, coletivo de arte e moda de Fortaleza.
Ela diz que a ideia de investir na moda surgiu a partir do interesse de trabalhar com maquiagem e beleza, e teve a oportunidade de fazer cursos especializados nessas áreas.
Lavínia criou a marca Preta Chic devido ao desejo de trabalhar com moda e beleza.
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Lavínia avaliou que as pessoas trans não são bem recebidas nas oportunidades tradicionais de empregos. “Abre um leque na minha mente para falar sobre CLT, porque nunca foi uma opção para mim. Colocando na balança com minha realidade, como uma travesti preta, periférica, a arte pesa bem menos. Eu sempre tive em mente que, se eu não fosse classificada, eu ia ser desrespeitada”
“Através da minha arte, eu consigo adentrar em vários espaços, equipamentos onde eu nunca imaginei que poderia estar ocupando. Eu gosto de levantar ato político quando eu estou adentrando espaços como esses”, explicou a empreendedora.
Ela disse que, através da moda, já conseguiu levar o trabalho dela a diferentes plataformas como clipes, produções audiovisuais, cinema, desfiles, etc. “A arte me abriu várias portas, é onde eu consigo estar alimentando o meu portfólio e cada vez crescendo mais”, complementou.
“[Com a arte] eu acho que eu consigo sobreviver, sabe? Ainda não vivo, ainda não consigo viver de uma forma digna. Ainda estou em busca dessa dignidade, que eu acho que é o mínimo para que eu consiga viver bem, em paz, com fartura, luxo, muito glamour, porque é isso que a gente merece”, destacou Lavinia.
Empregos para pessoas trans
Em 2021, o IDT no Ceará lançou a plataforma LGBT+ para facilitar o cadastramento e contribuir com o acesso da comunidade LGBT+ aos serviços de intermediação de mão de obra e às vagas de emprego disponíveis no sistema do órgão. O g1 questionou ao IDT sobre a quantidade de vagas ofertadas e currículos cadastrados desde a inauguração da ferramenta, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
Cantora e DJ Angel History sempre quis seguir na carreira musical.
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Para a cantora e DJ, Angel History, estratégias de empregabilidade para pessoas trans precisam ser criadas — e incentivadas — nas empresas para reverter o atual cenário. “É preciso um programa de empregabilidade trans, para que seja obrigação das empresas contratar. Precisa ter uma cota garantida por lei, porque é o único jeito de garantir que as pessoas trans vão ser contratadas, que vão aderir ao mercado de trabalho”, explicou a artista.
“Para você ser bem recebida no mercado de trabalho, eu acho que ainda se analisa muito a aparência e os padrões cisgêneros. Para além de tudo, os documentos não são um processo fácil no Brasil. É extremamente burocrático, complicado, inacessível. Então, não acho que as pessoas trans são bem recebidas no mercado tradicional”, lamentou a produtora musical.
“Pelas pessoas cis da sigla não terem nenhuma pendência de documento, acaba que a maioria das vagas que são ‘pessoas LGBTs’ acabam sendo ocupadas por pessoas cis”, complementou a cantora, que optou por uma carreira artística de maneira natural, já que sempre foi ligada à música.
Estratégia para inclusão
Gandaia Club tem como política possuir um quadro de funcionários com, pelo menos, 50% de pessoas trans em Fortaleza.
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Em Fortaleza, um dos estabelecimentos que se preocupa com a diversidade do quadro de funcionários é a Gandaia Club, que adotou uma política de que, pelo menos, 50% dos colaboradores sejam pessoas transgêneros.
“Analisamos o perfil de cada caso (por meio de currículos que se encaixem nas mais possíveis possibilidades de cargos da casa) e também buscamos, através de uma rede de apoio, contatar o máximo número de pessoas transgêneros em busca de emprego”, explicou Victor Wesley, sócio proprietário da Gandaia.
“Temos pessoas trans em todas as áreas da Gandaia: seguranças, caixas e no bar, equipe de DJs, entre outras. Destacamos que em nosso casting de DJs mais de 60% dos profissionais em questão são pessoas transgêneros”, complementou.
E a decisão não veio à toa, uma vez que o público do estabelecimento e a gestão da casa é composta por uma diversidade de pessoas. “Somos uma casa LGBTQIA+, por isso, achamos imprescindível fazer com que todas as letras presentes da nossa comunidade se façam, de algum modo, pertencentes a nossa família”, complementou Victor Wesley.
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FONTE: Lapada Lapada







