O ex-secretário de Saúde de Cuiabá Célio Rodrigues admitiu, durante depoimento à Justiça, que a Prefeitura fez aquisições “atípicas” durante a pandemia da Covid.
As compras realmente foram um pouco atípicas, porque não existiam medicamentos para serem comprados
Célio foi preso na última quinta-feira (9) durante o cumprimento de mandatos da Operação Hypnos, que investiga suspeita de fraude e desvio de R$ 1.000.080 na aquisição do medicamento Midazolam 15mg pela Empresa Cuiabana de Saúde Pública, da qual ele foi diretor. A suspeita é de que os remédios jamais foram entregues.
O ex-secretário passou pela audiência de custódia ainda no mesmo dia e a Justiça manteve sua prisão.
“As compras realmente foram um pouco atípicas, porque não existiam medicamentos para serem comprados, não estavam escolhendo muito o que comprar, porque compravam o que tinha”, afirmou ao juiz João Bosco Soares da Silva.
Apesar de confessar a atipicidade da compra, o ex-servidor dividiu a responsabilidade com outros setores da Empresa Cuiabana.
“Eu era o diretor do hospital, as compras não eram feitas por mim. Existia um setor que fazia compra, um setor que recebia e um setor que traria os processos prontos para realizar os pagamentos. Então, nenhum administrador tem autonomia do início da compra até o fim do pagamento”, disse.
De acordo com as investigações, no dia 20 de maio de 2021, a Remocenter emitiu a nota fiscal Nº 4 correspondente à venda das 9 mil unidades de Midazolam, totalizando R$ 1.000.080.
Ainda conforme as investigações, no dia 16 de junho de 2021 a ECSP fez a transferência de R$ 1.000.080 para a Remocenter. A transação foi assinada eletronicamente por Célio Rodrigues, na época diretor-geral da ECSP, e o então coordenador administrativo da empresa pública, Eduardo Pereira Vasconcelos, que também é investigado.
No entanto, segundo a Polícia Civil, foi identificado que os medicamentos comprados durante a pandemia da Covid-19 não foram entregues. Além disso, a Remocenter, que recebeu a verba da Saúde de Cuiabá, foi identificada como uma empresa “fantasma”.
Mesmo com as descobertas, Célio confirmou que os remédios foram utilizados pelos pacientes, apesar de afirmar não ter conhecimento do processo de compra do Midazolam.
Eu era o diretor do hospital, as compras não eram feitas por mim. Existia um setor que fazia compra, um setor que recebia e um setor que traria os processos prontos para realizar os pagamentos
“Fiquei surpreso com a prisão, porque não esperava, nunca fui chamado nem para esclarecer isso. Achei que se tivesse sido chamado poderia esclarecer o percurso ali. Se pegar a disponibilidade do medicamento para os pacientes vai conseguir identificar que o medicamento foi ofertado lá”, disse.
Inimizade
O ex-secretário ainda deu a entender que teria sido envolvido na compra suspeita por inimizade de outros servidores da Empresa Cuiabana com ele.
Apesar de ter assinado o documento da compra e ter sido diretor da empresa no período investigado, Célio afirmou que já estava afastado do cargo há mais de um ano, desde sua prisão em 2021, e citou que outros diretores passaram pelo cargo.
“Pelo que eu li lá, falam que não encontraram o processo, mas eu saí da Empresa Cuiabana faz um ano e sete meses. Durante esse período passaram vários diretores, várias pessoas trabalhando”, disse.
“Como eu disse, várias pessoas passaram lá depois de mim. Não sei se gostavam ou não gostavam [de mim]… Quem era o detentor do processo, se tinha algum problema comigo ou não”, acrescentou.
Veja trechos da audiência:
FONTE: Midia News