Holocausto Brasileiro | FOLHAMAX

 

O holocausto germânico levou para os fornos de cremação seis milhões de judeus, eliminando-os sumariamente. Além disto, utilizou-se de outros meios, não menos ortodoxos, para liquidar com um sem-número de pessoas. A ordem: eliminar os judeus e ciganos da face da terra. O motivo supremacista era de que não deveria sobreviver no novo mundo inventado – um império que duraria 1000 anos – outra raça que não fosse a germânica e outros povos que não tivessem a mesma raiz dessa raça pura. Esta hecatombe histórica o mundo quer esquecer, mas as raízes profundas que levaram a ela, insistem em desafiar, pelos mesmos motivos e por outros parecidos, a paz do século XXI. 

O último livro lançado no Brasil intitulado “Nunca”, Ed. Arqueiro/2022, do festejado escritor inglês Ken Follett – que comecei a ler, abre uma discussão sobre a questão acima relatada. Um dos seus personagens afirma: 

“Estamos estudando os nazistas, e tudo gira em torno de quantos judeus foram assassinados… Havia dez milhões de nativos americanos quando Cristóvão Colombo desembarcou, mas no final das Guerras Indígenas restavam apenas duzentos mil. Isso não foi holocausto?” (pag. 66).                               

O colonizador empunhando a cruz de Cristo, impôs aqui uma nova ordem, onde os indígenas tinham que aprender o pretenso certo/errado e, sobretudo, a culpa e o pecado que são responsáveis por tantos medos e traumas que ainda permeiam a nossa sociedade. Os que insurgiram contra foram isolados ou liquidados. Liquidação esta que ainda ponteia, nos dias de hoje, como o genocídio perpetrado contra os índios Yanomanis, sob a égide da mesma cobiça e a ganância que alimentaram o colonizador: o ouro, o diamante, madeira e outros metais estratégicos. 

Quando Cabral aqui pisou havia mais de três milhões e quinhentos indígenas e hoje pouco mais de oitocentos mil, segundo dados fornecidos pelo Google.  Este também, não é um holocausto imposto a eles ao longo do tempo? 

Se aprofundarmos mais, nesta questão, vamos ver que não somente os índios foram vítimas das perseguições, do abandono, da fome e do desprezo, mas também os negros que foram forçados a trabalhar como escravos, bem como foram perseguidos, mortos e obrigados a se esconderem em Quilombos. Depois de libertos foram abandonados à própria sorte e o País não os resgatou como cidadãos. A mesma pergunta não cala: isso, também, não é holocausto?

Afinal, o que é holocausto: “A palavra Holocausto é utilizada desde a década de 1980 para designar o extermínio em massa de cerca de seis milhões de judeus pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. O termo tem sua origem na palavra greco-latina holocaustum e significa “totalmente queimado” ou “vítima de um incêndio”……. Em Israel, é usado o termo secular hebraico Shoah, que significa “destruição” ou “catástrofe”. (Google).

O acima exposto, nada mais é do que uma destruição, uma catástrofe, um extermínio e, sobretudo, uma chaga aberta que, apesar dos danos irreversíveis, está a exigir mea culpa e severos reparos. 

A propósito do teor deste texto, concluo, citando novamente o autor do livro acima abordado que, referindo-se ao Sermão da Montanha, afirma: “Antes de tentar tirar um cisco do olho do teu irmão, certifique-se de não haver um pedaço de madeira no teu próprio olho, obstruindo tua visão, recomendou Jesus.”

Renato Gomes Nery

FONTE: Folha Max

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