No automobilismo, o piloto autista Dimitry Kalinowski, de 24 anos, conhecido como Dimy, garante medalha de ouro nas competições e na representatividade. Morando em Cuiabá há dez anos, o jovem se tornou o primeiro e único piloto autista registrado na história da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA).
A trajetória de Dimy começou em 2017, quando passou a frequentar o kartódromo de Várzea Grande e pilotar karts que ultrapassam 100 km/h, mas apenas em 2021 entrou nas competições. Ele encontrou nas pistas o grande sonho de se tornar piloto profissional e garante que “autistas podem fazer muito”.
Entre os títulos conquistados, está a medalha de ouro em uma das etapas do Campeonato Mato-Grossense de Automobilismo, na qual se consagrou o primeiro piloto autista vencedor ao disputar com 14 concorrentes. Ele conta que, na pista, todos competem de igual para igual.
“Atrás do volante não há obstáculo, não há diferença. O cronômetro não liga para isso. Não me facilitam a vida nem um pouco porque sou autista. Acabo até esquecendo que tenho essa condição”, revela.
A mãe Eliane Fernandes explica que Dimy foi diagnosticado com autismo enquanto estava no Ensino Médio e que o automobilismo é o hiperfoco dele. O jovem piloto não enxerga outra possibilidade profissional além das pistas.
“Ele sabe de todos os campeonatos e entende das máquinas. A vida dele é em torno do automobilismo. O Dimy disse ‘eu só quero ser piloto e nada mais’. Então eu soube que não tinha plano B”, explica.
Reprodução
Dimy e sua mãe, Eliane Fernandes
Eliane esclarece que os benefícios do esporte ao autista vão além do estímulo à competitividade. Ela viu, através do automobilismo, uma grande melhora na vida social de Dimy.
“O esporte para o autista é muito bom, porque ele se dedica e aprender a ganhar e perder, a respeitar os outros, saber que não é invencível, mas também saber que é bom. Ele faz acompanhamento e o médico notou uma diferença tremenda nele antes e depois de competir”, revela.
As conquistas impressionam. Dimy alcançou o pódio no primeiro campeonato que disputou e conta que jamais imaginou que teria tanto progresso no automobilismo. Mesmo com bastante experiência, ainda se sente nervoso ao competir e afirma que toda pessoa portadora de necessidades especiais deveria fazer esportes, pois a prática traz muitos benefícios à saúde física e mental.
“Não tem do que se envergonharem. São pessoas que, se tem alguma limitação ou deficiência, não é culpa delas. Elas deveriam tentar, pelo menos, para ver no que dá. Foi o que eu fiz, o que mostra que é possível uma pessoa portadora de necessidades especiais superar expectativas”, diz.
As maiores inspirações dele no automobilismo são o brasileiro Nelson Piquet e o britânico Dan Wheldon. Dimy revela que pretende levar o esporte como profissão e ser pago para correr. Uma de suas próximas metas é competir fora de Mato Grosso, usando o kart como porta de entrada para, posteriormente, ingressar em outras categorias.
O piloto treina de duas a três vezes por semana, cada treino com uma extensão de várias horas que, muitas vezes, o leva a guiar até de madrugada. Ele compartilha que, antigamente, o automobilismo não era acessível aos portadores de necessidades especiais, mas que, com o surgimento de novas tecnologias, o esporte se tornou mais inclusivo, permitindo até a participação de pilotos com dificuldades motoras.
Dimy conclui dizendo que seu grande sonho é competir no nacional e no mundial de kart. Para isso, no entanto, revela que ter patrocinadores é essencial, pois, segundo o próprio, ele ainda não tem muito dinheiro para as competições.
Eliane revela que é inevitável ficar apreensiva vendo o filho competir.
“O Dimy compete, então ele quer ir na frente, quer ultrapassar e eu quero que ele termine. O que importa é ele terminar. Eu fico muito contente, mas apreensiva, porque é um esporte de risco”, conta.
FONTE: Midia News