terça-feira, agosto 5, 2025

Reajuste no salário do prefeito em Ribeirão Preto deve impactar 20 vezes mais que previsão da Câmara


Proposta aprovada na última semana desconsidera que subsídio do chefe do Executivo é teto do funcionalismo local. Texto virou alvo do Ministério Público e pode gerar gasto extra anual de R$ 25 milhões a partir de 2025. Câmara Municipal dos Vereadores de Ribeirão Preto, SP
Cedoc/EPTV
O projeto de lei que aumenta em quase 50% os salários do prefeito, vice-prefeito, secretários municipais e vereadores em Ribeirão Preto (SP) deve causar aos cofres públicos impacto 20 vezes maior do que a previsão feita pela Câmara Municipal.
Sob bate-boca entre parlamentares e protesto de populares, a proposta foi aprovada na última semana no plenário.
O texto assinado pela mesa diretora afirma que, no Executivo, o impacto anual seria de quase R$ 1,3 milhão a partir de 1º de janeiro de 2025.
No entanto, não considera o fato de que o salário do prefeito serve como teto do funcionalismo municipal e que qualquer mudança pode gerar um efeito cascata na folha de pagamento.
Entre 382 servidores da ativa e inativos que atingiram o limite constitucional, os gastos extra seriam de ao menos R$ 25,6 milhões ao ano, apontam cálculos feitos pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-USP) e obtidos pelo g1.
A proposta virou alvo de um inquérito civil e aguarda a sanção ou veto do prefeito Duarte Nogueira (PSDB). Nesta reportagem, você vai entender os efeitos que o projeto pode causar na administração municipal.
1. Quais contas foram feitas
2. Como o teto funciona
3. Quem são os outros beneficiados
4. O que dizem as partes contrárias
5. Qual a justificativa
6. O que dizem Prefeitura e Câmara
1. Quais contas foram feitas
O levantamento considera 114 servidores da ativa e 268 pessoas que integram o Instituto de Previdência dos Municipiários (IPM), que reúne pensionistas e aposentados.
Todos atingiram o limite (R$ 23.054,20) e têm os valores excedentes descontados no contracheque. Os dados foram calculados com base na folha de pagamento de janeiro, disponível no Portal da Transparência.
No Executivo, se o limite aumentar para R$ 34.384,86, o impacto será de 7,9 milhões ao ano, enquanto no IPM, R$ 17,7 milhões.
Dessa forma, a previsão é de ao menos R$ 25,6 milhões anualmente. O montante não considera outros órgãos de administração indireta, como fundações e autarquias, e o reajuste ao prefeito, secretários e vice: R$ 1.291.695,24 – único valor apresentado no projeto.
Logo, considerando ambas as situações, o impacto real seria de pelo menos R$ 26.966.654 ao ano, valor 20 vezes superior à projeção da Câmara.
Impacto no reajuste do salário do prefeito em Ribeirão Preto
O que pensam vereadores em Ribeirão Preto sobre aumento no número de parlamentares
2. Como o teto funciona
Os descontos são feitos a partir da remuneração bruta dos servidores que atingiram o limite constitucional. Um fiscal fazendário aposentado, por exemplo, teve descontados R$ 27,6 mil no mês retrasado.
Se o teto não existisse, ele receberia R$ 50,6 mil, desconsiderando outros descontos como imposto de renda e previdência, conforme explica o professor de contabilidade da FEA Marcelo Botelho.
“Se faz um deflator em função do limite constitucional para o bruto ficar dentro do valor. Aí, obviamente, existem os descontos para ele receber o líquido. É uma conta complexa que leva em conta muitos fatores”, conta o professor.
3. Quem são os outros beneficiados
Além do prefeito, vice, secretários e vereadores, o reajuste também beneficia o chamado “Grupo do teto”, do qual fazem parte servidores da ativa, pensionistas e aposentados que recebem o limite do prefeito.
À reportagem, um fiscal fazendário que faz parte do grupo comemorou o fato e lembrou que eles não recebem reajuste pela inflação desde 2017.
“[Estamos] muito felizes, embora os anos de congelamento e perda salarial sejam irrecuperáveis”, diz o profissional, que preferiu não ser identificado.
Vereadores aprovam aumento de salário de parlamentares, prefeito, vice e secretários em Ribeirão Preto
Reprodução/TV Câmara
4. O que dizem as partes contrárias
O promotor Sebastião Sérgio da Silveira instaurou na terça-feira (28) um inquérito civil para apurar supostas irregularidades na tramitação do projeto.
A medida ocorreu após o Ministério Público (MP) receber ofício de instituições contrárias à forma pela qual o texto foi conduzido, como a Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp) e o Instituto Ribeirão 2030, entidade que atua no controle de gastos públicos na cidade.
Membro do Instituto, Márcio Minoru diz que, pela importância, a pauta necessitaria de audiências públicas para um debate com a população, como aconteceu na proposta que pretende aumentar o número de cadeiras no Legislativo municipal.
“A gente até acha correta a recomposição salarial por conta da inflação. Isso deve acontecer para todo mundo. Mas não fazer da forma como foi feita. A forma extremamente apressada para que não houvesse tempo de as pessoas se organizarem para questionar. Essa forma que eles fizeram, apresentando um projeto às vésperas de Carnaval. O que a gente gostaria de saber, principalmente, era sobre o estudo de impacto orçamentário que, claramente, estava errado”, argumenta.
Minoru ressalta, ainda, que o prazo limite para votação do reajuste na próxima legislatura seria em meados de 2024.
5. Qual a justificativa
O projeto de lei foi apresentado pela Mesa Diretora da Câmara dos Vereadores durante sessão ordinária de 16 de fevereiro. O texto prevê reajuste de 35,56% mais a projeção de inflação de 5,79% em 2023, e de 4% em 2024.
Conforme a Constituição Federal, o reajuste dos valores precisa ser proposto e votado pela Câmara Municipal dos Vereadores e só pode ser autorizado para o próximo mandato, por isso a validade a partir de janeiro de 2025, que é quando assumem os novos eleitos.
Segundo a Mesa Diretora da Câmara, a justificativa é que o último reajuste foi autorizado em janeiro de 2016 e que a inflação acumulada desde a última revisão é de aproximadamente 45%, calculada pelos índices de preços Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Atualmente, cada ministro do STF recebe R$ 39,3 mil. Em janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou o reajuste parcelado de 18%, que vai elevar o valor para R$ 46,3 mil em fevereiro de 2025.
Já a remuneração dos vereadores, segundo o texto, “está bem abaixo do total recebido pelos deputados estaduais, cuja vinculação se baseia, exclusivamente, na parcela atinente ao subsídio do parlamentar da Assembleia Legislativa Estadual”.
O reajuste nos salários do alto escalão do Executivo impacta, ainda, os diretores superintendentes das autarquias municipais e os presidentes das empresas municipais, cujo controle acionário pertença ao município de Ribeirão Preto. O percentual, no entanto, está condicionado à lei e aos estatutos sociais.
De acordo com o texto aprovado, os novos salários brutos em Ribeirão Preto serão:
Prefeito: de R$ 23.054,20 para R$ 34.384,86 (reajuste de 49.14%)
Vice-prefeito e secretários municipais: de R$ 11.527,10 para R$ 17.192,43 (reajuste de 49,14%)
Vereadores: de R$ 13.809,95 para R$ 20.597,25 (reajuste de 49,14%)
Conforme o último holerite, os salários líquidos, isto é, com desconto, são:
Prefeito: 17.051,93
Vice-prefeito e secretários municipais: mais de R$ 8 mil (varia de acordo com cada desconto)
Vereadores: 10.336,40
Não há como prever, no entanto, como ficarão os salários líquidos após o aumento por conta dos descontos.
Plenário da Câmara Municipal dos Vereadores de Ribeirão Preto, SP
Cedoc/EPTV
6. O que dizem Prefeitura e Câmara
Procuradas, a Prefeitura e a Câmara de Ribeirão Preto não haviam se posicionado até a última atualização do texto. Já o presidente da Casa, Franco Ferro (PRTB), afirmou que o projeto foi votado dentro da legalidade.
Votação
A proposta foi aprovada pela Câmara na sessão de 23 de fevereiro. O texto, que entrou em discussão na Casa de Leis ao ser protocolado há duas semanas, recebeu 19 votos favoráveis e um contrário, dado por Ramon Faustino (PSOL).
Quando o projeto foi anunciado pelo presidente da Câmara, os manifestantes começaram a vaiar e a gritar “vergonha”. Antes da votação, os vereadores aprovaram um substitutivo ao projeto original que alterava uma questão jurídica do texto, mas nada que alterasse o teor do reajuste.
Vereadores discutem durante votação de aumento de salário em Ribeirão Preto, SP
Ao justificar o voto contrário, Ramon Faustino defendeu que o projeto deveria ter sido mais discutido antes de ser votado e chegou a ser interrompido por outros parlamentares, como Igor Oliveira (MDB) e Franco Ferro, que citaram que ele havia se comprometido a votar favorável ao aumento em dezembro.
Na época, Faustino considerou “lamentável a hostilidade e a violência, as interrupções a minha fala e ao meu direito de expressão e defesa de voto”.
Franco Ferro, por sua vez, disse que não houve discussão alguma e que apenas estava representando a posição dos demais vereadores, pois Ramon havia apalavrado com todos sobre o apoio ao projeto. Igor Oliveira também foi procurado, mas não havia se manifestado.
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FONTE: Lapada Lapada

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