sexta-feira, setembro 26, 2025

Dia da Mulher: 'o que quero que aconteça, eu vou lá e crio', diz Luhh Dandara, ativista que carrega o nome de sua comunidade


Referência da Ocupação Dandara, a ativista é criadora e força motriz de diversos projetos sociais voltados para mulheres e jovens de Belo Horizonte. Espaço de acolhimento para mulheres
Christiano Borges / g1
Ela nasceu Luciana da Cruz, em 1986. A vida de abusos e privações, mas também de luta e dedicação aos outros, a transformou em Luhh Dandara.
Luhh Dandara são muitas – mulher, preta, mãe, filha, empreendedora, liderança comunitária, universitária, professora e ativista.
Neste 8 de Março, Dia da Mulher, o g1 conta a história desta mulher, que inspira dentro e fora da comunidade que lhe deu nome, a Ocupação Dandara.
Aura da Luta
Luhh Dandara mostra a biblioteca do Aura da Luta
Luhh é uma das fundadoras da rede de apoio Aura da Luta, voltada para mulheres vítimas de abuso. Um espaço de luta e de defesa, de acolhimento e de amparo. Por lá, são realizados encontros, rodas de conversa, cursos e eventos.
No projeto há também outra iniciativa criada por ela, um cursinho pré-vestibular voltado para a juventude da Comunidade Dandara.
“Nós fazemos a mobilização de professores voluntários que queiram e possam ajudar porque não recebem nada. Inclusive a gente sempre precisa de voluntários”, disse.
A iniciativa já trouxe resultados. Um dos alunos se formou em medicina veterinária na Universidade de Minas Gerais (UFMG) e já está fazendo especialização na área.
“Fico muito feliz com essas coisas. A pessoa sai daqui da comunidade, sai do cursinho, ou do Aura, e depois vem o retorno, dizendo que passou por aqui e que pode fazer algo por alguém também”, falou Luhh que também é universitária. Ela cursa pedagogia.
Quem é Luhh?
Luhh e sua comunidade, Dandara
Christiano Borges / g1
Quando perguntam quem é a Luhh, a líder comunitária da Ocupação Dandara, comunidade que fica na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, ela não titubeia.
“É uma mulher que é mãe, teve três filhos, nascida e criada em uma ocupação, com uma história de muita luta, que já morou na escadaria da Igreja São José. É uma pessoa que teve uma infância muito pobre, mas de muitas brincadeiras, que morou no Novo Aarão Reis, que já nadou e pescou no Córrego do Onça. É também uma mulher que foi abusada sexualmente por volta dos 12 anos, por uma pessoa próxima da família”, contou.
Mas a dor cedeu lugar à determinação.
“ Luhh é uma mulher de 37, com carinha de 27 e energia de 18”, resumiu.
Dandara
Luhh chegou na Ocupação Dandara, na Região da Pampulha, quando ainda havia luta por moradia digna. Uma batalha judicial, que durou 11 anos, terminou em 2020, com o assentamento de duas mil famílias em uma área de 315 mil metros quadrados.
“Queria fazer mais coisas aqui na comunidade. Comecei a ser conhecida aqui”, contou. A adoção do nome “Dandara” acabou sendo natural.
Os moradores a procuravam cada vez mais para pedir ajuda e ela começou a virar referência. Entrou para o Conselho Municipal da Juventude, como conselheira suplente. Daí, para se tornar uma das lideranças da comunidade foi um pulo.
Arquitetura na Periferia
Mutirão do projeto na casa da Luhh
Lucas Monteiro
Luhh participou do primeiro grupo do Arquitetura na Periferia, projeto que ensina mulheres de comunidades a reformar, sozinhas, as próprias casas, em 2013.
Projeto ensina mulheres da periferia a reformar sozinhas as próprias casas em BH
“No começo pensei que não precisávamos de arquitetos na comunidade, precisávamos de médicos, de advogados, muitas aqui nem tinham casa ainda. Mas aí vi que era um projeto muito bonito e importante”, disse.
No começo, ajudou na mobilização de grupos de três a cinco mulheres. Na edição de 2023, já são nove participantes.
Desde 2013, ela vem fazendo mudanças em sua própria casa com o que aprendeu no projeto. O que era um cômodo com banheiro, e uma torneira do lado de fora – usada para cozinhar e lavar tudo – hoje virou um imóvel de dois andares, com nove cômodos e três banheiros.
“O meu quarto é suíte porque eu mereço!”, brinca.
Quem cuida de quem cuida?
No ano passado, outro projeto saiu da cabeça de Luhh e ganhou vida. A ideia era fazer, dentro dos moldes do Arquitetura na Periferia, um recorte voltado para lideranças femininas que trabalham em prol de suas comunidades em Belo Horizonte.
“O que eu quero que aconteça, eu vou lá e crio”, contou.
Em sua primeira edição, o projeto Cuidar de Quem Cuida se volta à três mulheres das comunidades do Novo Aarão Reis, Anita Santos e do Taquaril.
Ao longo de sua trajetória, Luhh Dandara nem sempre percebeu o alcance do trabalho desenvolvido por ela, mas, com o tempo, passou a enxergar a importância dele.
Eu sempre falei para as meninas e para os meus filhos que não existe pequeno movimento, pequeno trabalho. Todo trabalho gera um efeito no macro. Às vezes a pessoa fala ‘eu só plantei uma árvore’, mas essa árvore gera um efeito em todo o ecossistema. Não é só na sua comunidade, é na vida de todo mundo. Aprendi a olhar para o meu trabalho com um olhar de muita grandiosidade, de muita importância, de muito valor.”
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FONTE: Lapada Lapada

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