sábado, setembro 6, 2025

Imvel adquirido por ladres de carga foi doado por prefeitura; bando faturou R$ 70 mi

 

Um imóvel adquirido por uma quadrilha especializada na “venda” de agrotóxicos e cargas de soja roubados, que age no “Nortão” de Mato Grosso, tinha sido doado pela prefeitura de Sorriso (420 km de Cuiabá), em data anterior, ao antigo proprietário que fez o negócio com o bando.

A informação consta da decisão do juiz da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Jean Garcia de Freitas Bezerra, proferida no último dia 8 de março, que manteve as prisões dos membros da quadrilha, revelada na Operação Xeque Mate. Continuam presos João Nassif Massufero Izar, Valdelírio Krug, Viviane Menegazzi, David dos Santos Nascimento, Sandoval de Almeida Júnior, Ângelo Henrique Markoski da Cunha, Rodrigo Calça e Danilo Pereira de Lima.

Nos autos, o juiz justifica a manutenção da prisão revelando um episódio ocorrido entre dois suspeitos de fazer parte do bando – João Nassif Massufero Izar, apontado como um dos líderes da organização criminosa, e Rodrigo Calça, que “intermediou” a venda do imóvel.

As investigações revelam que João Nassif Izar estaria, ao mesmo tempo, “comprando e vendendo”, denominado como “barracão”, no ano de 2021. A propriedade está localizada no Distrito Industrial de Sorriso.

“Esse fato foi constatado numa conversa interceptada na qual o acusado João Izar estaria comprando e ao mesmo tempo revendendo um Barracão, negócio que estava sendo intermediado por Rodrigo, tratando-se do acusado Rodrigo Calça, conforme as análises no aparelho de celular. Consoante consignado pela autoridade policial no relatório, a compra e venda do respectivo barracão seria na verdade uma forma de aplicar o valor obtido por meio das atividades ilícitas e ao mesmo tempo esquentar o dinheiro”, diz trecho da decisão.

Na sequência, segundo revelou o juiz, um diálogo pelo WhatsApp entre João Nassif Izar e Rodrigo Calça indicou que o proprietário do imóvel estava querendo “vazar fora do negócio”, que deveria ser realizado “debaixo dos panos”. Os membros do bando temiam a aquisição de risco, e eventuais repercussões legais ou midiáticas, em virtude da propriedade ter sido fruto de uma doação da prefeitura de Sorriso. 

“Em certo trecho da conversa, aparece Rodrigo afirmando a João Izar que o negócio estava ficando muito exposto, que o dono do barracão estava querendo vazar fora do negócio e que a compra teria que ser debaixo dos ‘panos’, pois ninguém poderia saber, já que o terreno seria doação da prefeitura”, revela ainda a decisão.

Ainda na avaliação do juiz Jean Garcia de Freitas Bezerra “as conversas deixam evidente que verdadeiramente o imóvel não poderia ser vendido, uma vez que foi doação da prefeitura, de acordo com as informações obtidas pela equipe policial a prefeitura municipal de Sorriso/MT”.

AMEAÇA A FAMÍLIA

Em outra conversa interceptada pelas investigações, João Nassif Izar adverte Ângelo Henrique Markoski da Cunha sobre um cheque de uma carga de soja roubada, e vendida pela organização criminosa, que não teria “caído” na conta movimentada pela quadrilha.

Na conversa, também realizada no ano de 2021, Ângelo Henrique Markoski da Cunha mostra “apreensão” ao relatar que sua família vinha sendo ameaçada pelos ladrões da carga de soja.

“Verificou-se nessa interceptação uma discussão entre os interlocutores pelo atraso no pagamento dos grãos roubados, sendo que Ângelo relata ao acusado João Izar que os ladrões estariam ameaçando inclusive seus familiares”, revela a decisão.

Na sequência, as investigações apontaram que a transação ilegal acabou sendo concretizada, tendo em vista que “o pagamento da venda dos grãos roubados havia se concretizado”.

OPERAÇÃO XEQUE MATE

Segundo informações da PJC, os alvos da Operação Xeque Mate são suspeitos de crimes de associação criminosa, receptação qualificada e lavagem de capitais, que movimentaram quantias equivalentes a R$ 70 milhões. A atuação do grupo criminoso era, inicialmente, na diluição dos produtos de roubo e furto de defensivos agrícolas.

Foram presos na operação João Nassif Massufero Izar, David dos Santos Nascimento, Danilo Pereira Lima, Vadelírio Krug, Viviane Menegazzi, Cassiane Reis Mercadante e Rodrigo Calca. Estão foragidos Sandoval de Almeida Júnior, Ângelo Marcosi da Cunha e Mauri Moreira Silva.

A apuração realizada pela delegacia de Sorriso identificou que a associação criminosa armada possuía um líder que agia em diversas frentes, especialmente na receptação qualificada de defensivos agrícolas e de cargas de grãos roubados. Além disso, o bando atuava na lavagem de capitais oriundos de crimes de diversas naturezas.

A investigação apurou ainda que os defensivos agrícolas eram comprados de diversas associações criminosas especializadas neste tipo de atividade. Posteriormente, os produtos eram revendidos a outros receptadores, que figuravam como “consumidores finais”.

Outra atividade utilizada pelo grupo criminoso para diluir o dinheiro angariado com as atividades ilícitas era a compra e venda de jóias. O pequeno volume e alto valor de jóias, relógios e diamantes, tornaram atrativa a atividade para esquentar seus ativos. Um dos integrantes da quadrilha fazia, periodicamente, a oferta desses bens para venda especificamente para traficantes.

FONTE: Folha Max

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