sexta-feira, agosto 22, 2025

Fila por cirurgia no SUS em Campinas inclui paciente com câncer de mama: 'Bomba relógio no peito'


Costureira descobriu a doença em novembro de 2022, passou por oncologista em fevereiro e ainda não teve o procedimento marcado; pela demora, ela diz, terá de fazer quimioterapia. Entre os milhares de pacientes à espera de cirurgia pelo SUS em Campinas (SP), em casos onde a demora chega a 1,2 mil dias, há moradores que temem pela vida enquanto o tempo passa sem uma solução. É o caso da costureira Josélia Severina da Silva Pereira, que descobriu um câncer de mama em novembro de 2022, passou por consulta em fevereiro na Rede Mário Gatti e ainda não sabe quando de fato será operada.
“Quando passei por consulta com o médico oncologista, ele me falou que a fila estava grande, que conseguiria apenas para o mês de maio. Tive consulta semana passada, e não tem vaga. O mais provável para agosto. E como é câncer de mama, por conta da demora, vou ter de passar pela quimioterapia, pela queda de cabelo e tudo mais”, lamenta Josélia.
A moradora de Campinas conta que o drama pela demora afeta toda a família. Recentemente, ela perdeu a irmã para a mesma doença, e com o passar do tempo, diz que já começou a sentir dores no local que descobriu pelo autoexame.
“Não ia passar pelas dores da quimio. Perdi uma irmã há pouco tempo, foi muito sofrido. Eu estava do outro lado. É um câncer de mama, é urgente. De novembro para agora já cresceu, hoje eu sinto dores. Estou com uma bomba relógio dentro do meu peito”, afirma.
Josélia Severina da Silva Pereira descobriu o câncer de mama em novembro de 2022 e aguarda por cirurgia pelo SUS em Campinas (SP)
Jefferson Barbosa/EPTV
Fila por cirurgia
Um levantamento obtido pela EPTV mostra que a maior espera por cirurgia na Rede Mário Gatti são de pacientes da neurocirurgia, onde a demora por um procedimento chega a 3 anos e meio. Depois são as especialidades de ortopedia e urologia reúnem o maior tempo de espera – veja quadros abaixo.
Ao todo, são pelo menos 4,7 mil pacientes à espera de cirurgias eletivas nos hospitais municipais Mário Hatti e Ouro Verde, administrados pela Rede Mário Gatti.
Tempo de espera por cirurgia na Rede Mário Gatti chega a 1,2 mil dias; veja raio-x de especialidades e filas
Espera por cirurgia no Hospital Mário Gatti
Na avaliação do médico Rodrigo Surjan, doutor em cirurgia pela Faculdade de Medicina da USP, qualquer atraso pode acarretar problemas e complicações ao paciente, fazendo com que cirurgias relativamente simples se tornem mais complexas.
Rodrigo Surjan, doutor em cirurgia pela Faculdade de Medicina da USP, comenta fila por cirurgias em Campinas (SP)
Reprodução
Sobre o caso da paciente com câncer de mama que ainda não teve a cirurgia agendada, Surjan destaca que precisaria de mais detalhes do quadro médico para opinar, mas que a mudança no esquema do tratamento por conta do atraso (inclusão da quimioterapia) aponta por falhas.
“O bom senso está dizendo que ela não está tendo o melhor atendimento que ela deveria ter”, diz.
Tempo de espera para cirurgia no Ouro Verde
Apesar do problema das filas por cirurgias ser muito relacionado com a pandemia da Covid-19, o especialista reconhece que a chegada da doença agravou a espera por cirurgias eletivas, “mas não criou essa situação.”
“Não há dúvida nenhuma que no mundo inteiro a pandemia foi um fator que agravou essa situação, mas a gente não pode dizer que foi um fator que criou essa situação. A gente tem que ter consiência e políticas para que minimize o tempo de espera das cirurgias. Que possam ser efetivas para momentos críticos como a pandemia. Nós temos a obrigação constitucional de atender a necessidade do povo. E uma cirurgia eletiva é uma necessidade básica”, diz Surjan.
Nem com vaquinha
A família do seu Gilberto bem que tentou fugir da fila por uma cirurgia na ortopedia, mas a falta de recursos de quem busca sobreviver o dia a dia com um salário-mínimo impede a busca de ajuda na rede particular.
Até vaquinha eles tentaram, mas levantar os R$ 30 mil necessários para a colocação de uma prótese no joelho do patriarca ficou inviável.
Na espera desde 2021, Gilberto preciso de ajuda da mulher e dos filhos para tudo. Não consegue se locomover sozinho, tem dificuldades para se alimentar, tomar banho.
“Tem que esperar a vontade deles. Nós pagamos imposto, todo ano. Paga água, luz, tudo com salário-mínimo. Não sei, não sei (quando será a cirurgia). Só Jesus e eles quem sabem”, afirma Gilberto.
Josefa da Silva pede ajuda para o pai, Gilberto, na fila por uma cirurgia na ortopedia pelo SUS em Campinas desde 2021
Jefferson Barbosa/EPTV
A filha faz um apelo.
“Eu peço às autoridades. Esses problemas existem antes da pandemia, bem antes já estava correndo atrás disso. Só Deus sabe quanto tempo mais vamos esperar. Fica na expectativa. Que deem atenção ao meu pai e a muitos outros. Nem sei mais o que falar, é muito sofrimento”, lamenta Josefa da Silva.
O que diz a Rede Mário Gatti
O presidente da Rede Mário Gatti, Sérgio Bisogni, afirmou que as longas filas ainda são reflexos da pandemia da Covid-19, quando as cirurgias eletivas precisaram ser suspensas.
“Como nós temos três hospitais: Mário Gatti, Ouro Verde e agora o Mário Gattinho, que são hospitais porta aberta, que é, tudo o que chega a gente tem que atender, e tem que priorizar urgência e emergência, então as eletivas ficam à carreira disso. Se tem um aumento no volume de urgência e emergência sobre menos espaço, tanto físico quanto de equipe, para fazer as eletivas”, explicou.
VÍDEOS: saiba tudo sobre Campinas e Região
Veja mais notícias da região no g1 Campinas

FONTE: Lapada Lapada

comando

DESTAQUES

RelacionadoPostagens