A Depressão é a principal causa de incapacidade no mundo todo, mas isso não é novidade para ninguém. A questão é: ‘’como nós estamos cuidando dessas pessoas?’’. Os tratamentos estão conseguindo reestabelecer sua funcionalidade? Será que as pessoas estão conseguindo voltar à sua vida de antes, correndo atrás de seus sonhos e se sentindo revigoradas?
Infelizmente essa não é a realidade de boa parte das pessoas que sofrem dessa doença. A taxa de sucesso dos tratamentos atuais está muito abaixo da ideal, e eu vou lhe contar aqui alguns motivos para que isso esteja acontecendo.
Mas primeiro vamos aos dados – cuidado que você pode se decepcionar um pouco aqui: 30% dos pacientes melhoram da depressão com placebo, enquanto 40-60% das pessoas melhoram com os antidepressivos, ou seja, os antidepressivos não são medicamentos milagrosos, que garantem a remissão dessa doença, infelizmente.
Estamos falando de milhões de pessoas incapacitadas, mas calma! Nós ainda não desistimos. Na verdade, o intuito desse artigo é justamente fornecer uma dose de esperança para quem ainda não melhorou e já está se acostumando com a ideia de ‘’se aceitar’’ como uma pessoa depressiva.
É impressionante o número de pessoas que estão estacionadas nessa fase, acreditando que esse resultado é tudo que a medicina tem a oferecer.
A psiquiatria classifica uma depressão como ‘’refratária’’ após duas tentativas de tratamento com antidepressivo em doses otimizadas e por tempo suficiente. E aqui vão alguns pontos a serem considerados nessa situação:
– O diagnóstico está correto? Quase metade das pessoas resistentes, possuem na verdade depressão bipolar (o que muda bastante o tratamento), também é preciso investigar condições associadas, como os transtornos de personalidade. Outras doenças podem confundir os sintomas ou agravá-los, como no hipotireoidismo, demências, dores e inflamações crônicas, desregulações hormonais e distúrbios do sono.
– A medicação está sendo absorvida e metabolizada corretamente? Além da questão óbvia da adesão ao tratamento proposto, precisamos considerar as incapacidades de absorção, como nos casos pós-cirurgia bariátrica. Existem interações medicamentosas com outros tipos de remédios, além da própria genética da pessoa, algumas mutações podem reduzir muito o efeito daquele fármaco, mas exames para investigar esses genes já são uma realidade.
– Como vamos potencializar o tratamento? Existe um enorme arsenal terapêutico para atuar na depressão, e isso vai muito além dos antidepressivos de 1° linha. Nós podemos associar outros medicamentos, como Antidepressivos Tricíclicos, Estabilizadores de Humor, Antipsicóticos Atípicos, Psicoestimulantes e até hormônios (Ex: T3, testosterona). Temos novas pesquisas em andamento, explorando mecanismos de ações diferentes, como no caso da Escetamina (já liberada pela ANVISA para tratamento da depressão), Psiloscibina e LSD.
O uso do Metilfolato (Vitamina B9), principalmente em pessoas com mutação do gene MTHFR, já se mostrou um tratamento eficaz. A Brexanolona, um esteroide derivado da progesterona, já foi aprovado pelo FDA para a depressão pós-parto, e temos estudos com uso de Celecoxibe e Ácido Acetilsalicílico para tratamento em pessoas com atividade inflamatória elevada. Além disso, existem diversas estratégias não-farmacológicas, como a Estimulação Magnética Transcraniana e a Eletroconvulsoterapia.
Eu fiz questão de citar todas essas possibilidades de tratamento, com todos esses nomes estranhos, mas é para que você entender que não devemos nos dar por derrotados tão cedo.
O ‘’Mal do Século’’ continua sendo um desafio, mas estamos cada vez mais equipados para combate-lo, então não deixem de procurar o tratamento adequado.
João Lucas Carneiro de Oliveira é psiquiatra intervencionista.
FONTE: Midia News