segunda-feira, dezembro 15, 2025

“A primeira conquista de muitas”, relembra casal homoafetivo

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Foi no cartório Xavier de Matos, na avenida Fernando Corrêa, em Cuiabá, que o diretor de imagem Jardes Johson Oliveira Pessoa, de 28 anos, e o sanitarista Victor Fernando Oliveira Pessoa, de 30 anos, realizaram um de seus maiores sonhos: se casar.

 

O casal é um dos 376 em Mato Grosso que oficializou o matrimônio homoafetivo em cartório. Apesar de ser um momento que causa receio por conta do preconceito, Victor e Jardes relembram ter sido um evento “inesquecível e repleto de felicidade”.

 

A história dos dois começou no final de 2020, após se conhecerem por um aplicativo de relacionamento. Uma semana depois, eles se encontraram em um bar da Capital, e Victor contou que no mesmo dia havia se apaixonado.

 

“Antes da gente definir algo, ele brincava falando que a gente estava namorando sério e que a gente já ia ficar junto para o resto da vida”, relembrou Jardes.

 

Quem foi me aceitar foi uma pessoa muito mais antiga, sem conhecimento, sem estudo, que é minha avó

“Eu sou da área da saúde e acredito muito que amor é química. Acho que todo mundo já deve ter se apaixonado alguma vez na vida e quando a gente olha para alguém e tem aquele mesmo sentimento de novo… Eu só senti uma certeza: de que queria estar perto dele”, acrescentou Victor.

 

Assim, um dia antes de completarem um ano de namoro, eles se casaram com a presença de amigos e familiares, e em seguida partiram para uma rápida lua de mel em uma pousada em Jaciara.

 

“No dia do casamento, acho que por muitas pessoas estarem ali para viver seus amores, eu vi muitas pessoas nos olhando com bons olhos, achando bonito”, disse o sanitarista.

 

Preconceito e direito ao mínimo

 

Apesar do “avanço” que a resolução de 2013 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) trouxe ao grupo LGBTQIA+, ao garantir o direito do matrimônio a casais homoafetivos, eles ainda precisam lidar diaramente com o temor do preconceito dentro e fora de suas casas.

 

Victor, por exemplo, foi expulso de casa assim que se assumiu gay, aos 15 anos. Já Jardes teve alguns intercalços com a mãe, mas hoje conta que ela é a uma das maiores apoiadoras de seu casamento, assim como a avó de Victor, que ele chama de mãe.

 

Arquivo pessoal

JARDES E VICTOR

O casal Jardes e Victor durante o casamento deles no final de 2020

“Eu nasci num berço evangélico, onde a minha mãe e minha irmã não me aceitaram. Quem foi me aceitar foi uma pessoa muito mais antiga, sem conhecimento, sem estudo, que é minha avó. Ela me aceitou exatamente como sou”, lembrou Victor.

 

“Em certos lugares a gente, até hoje, de vez em quando fica com receio de dar as mãos. Acho que mais eu do que o Victor. Porque a gente nunca sabe muito quem está ao redor. Tem algumas pessoas que podem ser extremistas”, contou Jardes.

 

“Mas procuro não deixar que isso me prive de fazer algo que quero, ou me prive de viver minha vida e tomar as minhas decisões”, completou.

 

“Eu já tento desmonstrar mais. Afinal, é um direito meu pegar na mão do meu esposo no shopping, se eu quiser. É um direito meu dar um selinho nele antes dele entrar para TV. É um direito meu poder abraçar ele na moto, é um direito meu poder abraçar ele numa praça de alimentação onde vai ter muitas pessoas”, disse Victor.

 

O casal também citou o fato de Mato Grosso ser um Estado conservador, o que acaba refletindo nas políticas e na sociedade.

 

“Aqui, para mim, é muito perigoso. Tenho medo de ir ao interior, às vezes. Tenho vontade de ir pra um lugar, como Sinop, mas não vou por quê? Porque é um lugar mais extremista. Eu prefiro me privar disso”.

 

“A gente encara esses olhares o tempo todo. Jardes talvez nem tanto por ele ser razoavelmente mais masculino do que eu, mas tento não deixar isso me afetar e demonstro através da minha postura, do meu jeito, da minha cultura que tenho direito ao meu lugar na sociedade”, disse Victor.

 

“Eu também sou cidadão, também pago meus impostos, também tenho o mesmo direito de casar, tenho o mesmo direito de ser feliz. E toda hora vem na minha boca para falar: ‘Como qualquer casal normal’. Mas o que é normal?”, questionou.

 

Eu também sou cidadão, também pago meus impostos, também tenho o mesmo direito de casar, tenho o mesmo direito de ser feliz

Filhos

 

 

Mesmo com os empecilhos e afirmando que terão várias batalhas pela frente, um dos maiores desejos de Jardes e Victor é de serem pais biológicos e adotivos.

 

“O casamento foi uma uma conquista, mas a gente sabe que é só a primeira de muitas. É como se cada coisa que a gente desejasse, e falo como casal homoafetivo, a gente sempre tivesse que estar se preparando para lutar, e a questão dos filhos é mais uma. Por questão financeira e pela lei mesmo“, disse o diretor de imagem.

 

“A gente quer ter biológicos e quer adotar também. A gente sabe que não vai ser fácil e mesmo depois que a gente conseguir, a gente vai ter outras lutas ainda pela frente, como a questão da educação, do que a gente vai enfrentar com a criança quando ela tiver na escola. O que os coleguinhas, o que os pais dos coleguinhas vão pensar”.

 

“É o início ainda de muita coisa que está por vir, mas eu tenho muita vontade, o Victor também tem muita vontade, eu sei que ele vai ser um pai incrível, porque ele é um ser humano incrível, e uma pessoa incrível”.

 

“E eu sei que, juntos, um do lado do outro, a gente vai conseguir enfrentar tudo isso. Porque a gente é muito parceiro do outro, a gente é muito amigo do outro. A gente está preparado para o que vier”, completou.



FONTE: Midia News

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