O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira, em São Bernardo do Campo, que a esquerda tem no máximo 136 votos na Câmara e que o governo precisará conversar com adversários se quiser aprovar matérias simples na Casa. O discurso do petista ocorre na semana em que ele precisou ir a campo pessoalmente para aprovar medidas de interesse do Executivo, como a Medida Provisória (MP) que reorganiza a Esplanada dos Ministérios.
— A esquerda toda tem no máximo 136 votos, isso se ninguém faltar. Para votar uma coisa simples, precisamos de 257. E, para aprovar uma emenda constitucional, é maior ainda o número de deputados. É preciso que vocês saibam o esforço para governar. Ontem a gente corria o risco de não ter aprovado o sistema de organização do governo. Aí, você não precisa procurar amigos. Tem que conversar com quem não gosta da gente — afirmou.
O Senado Federal aprovou na quinta-feira, no limite do prazo, a medida provisória que organiza a estrutura ministerial do governo federal. Ainda assim, o projeto sofreu uma desfiguração na Câmara, num sinal de insatisfação da oposição com a articulação de Lula. O Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, foi esvaziado.
Se a medida provisória não fosse aprovada a tempo, a Esplanada de Lula com 36 ministérios voltaria a ter a mesma configuração do governo Bolsonaro, com 22 pastas.
À plateia de estudantes, Lula afirmou que as pessoas precisam entender a “correlação de forças” no Congresso, e que a articulação exige esforços. Ele ouviu gritos de “fora, Lira” ao citar a dificuldade do governo na Câmara.
O presidente participou, nesta manhã, da inauguração do prédio do laboratório da Universidade Federal do ABC Paulista, a UFABC. O novo prédio beneficia quase cinco mil alunos e conta com 195 servidores, com investimentos de R$ 28,5 milhões, sendo R$ 13,6 milhões de repasses federais.
No auditório da faculdade, Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) foram ovacionados pelos estudantes, que levaram cartazes contra Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, e o arcabouço fiscal. O único vaiado foi o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB). A primeira-dama, Janja da Silva, e outros ministros estiveram presentes.
Em seguida, a comitiva marcou presença na inauguração de uma fábrica de ônibus elétricos da Eletra, na mesma cidade. Na ocasião, o presidente enalteceu o projeto de lei aprovado no Legislativo na quinta-feira prevendo igualdade salarial entre homens e mulheres e destacou o fato de a Eletra ter sido fundado e gerido por mulheres: Maria Beatriz Setti e sua filha, Milena Romano, atual presidente.
Na fábrica, Lula disse contar com a ajuda da Eletra para renovar a frota de ônibus escolares no país, que estaria, segundo ele, muito defasada.
— A gente tem a necessidade de facilitar a vida das pessoas que moram longe das escolas. Nós sabemos que nossa frota de ônibus escolares está muito velha. O Haddad vai ter que conversar com a Eletra para discutir a necessidade da renovação da frota — disse Lula.
Em coletiva de imprensa após a chegada no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, onde Lula formou sua carreira enquanto dirigente sindical, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, minimizou as derrotas do governo no Congresso e não acenou para mudanças na articulação — alvo de cobrança de Lira.
Já o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, seguiu na mesma linha de Padilha e afirmou que o governo teve uma semana de vitórias no Legislativo. Questionado sobre o esvaziamento do Meio Ambiente, Teixeira afirmou que o estrago pode ser revertido ou por um veto de Lula ou por judicialização do caso, sem dar maiores detalhes.
Indicação de Zanin
Alheio a críticas de que estaria beneficiando um amigo, Lula formalizou na quinta-feira a indicação de seu advogado pessoal à vaga aberta com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski.
Apesar da histórica ligação com o petista, Zanin angariou amplo apoio, manifestado por magistrados da Corte até figuras do meio político, como Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
No entanto, Lula vem sofrendo críticas de setores progressistas por nomear mais uma vez um homem branco do Sudeste para a vaga, perdendo a oportunidade de aumentar a diversidade na Corte. Hoje o Tribunal conta com duas mulheres entre os onze membros, e nenhum negro.
FONTE: Folha Max