“Dor impossível de explicar.” A frase no texto de Luísa Sonza não é metáfora: psicólogos e psiquiatras ouvidos pelo g1 afirmam que a descoberta da traição em um relacionamento pode causar um trauma agudo capaz de provocar vários sintomas físicos, desde dores no peito, ansiedade e até insônia ou mesmo episódios de crise do pânico.
Contexto: Na quarta-feira (20), a cantora Luísa Sonza revelou durante sua participação no programa Mais Você, com Ana Maria Braga, que terminou o relacionamento com Chico Moedas após uma traição do influenciador. A revelação causou comoção no estúdio e no público de casa.
Segundo Renata Bento, Renata Bento, psicanalista e psicóloga especializada em família, não é incomum que o sofrimento psíquico seja sentido também fisicamente.
Nosso físico e o nosso mental estão juntos. Há situações que são tão impactantes que nos impedem de pensar e dar um significado, a gente joga para o corpo e aí então dói. Por isso a gente usa termos como ‘foi uma facada no coração’ ou ‘é um soco no estômago’, porque são sensações que parecem ser exatamente como dito.
— Renata Bento, psicanalista e psicóloga.
Marina Simas de Lima, que é mestra em psicologia clínica e especialista em terapia de casal, explica que cada pessoa recebe a traição de uma maneira. Nem todas sofrem intensamente, e quem sofre pode ter sintomas diferentes, com graus variados. Para muitas, o desgaste pode ser físico.
Tem quem fique muito puto da vida, agressivo. Outros ficam deprimidos, desesperados. É uma situação parecida com um luto, de ficar sem chão, e reações físicas, de não conseguir dormir, de não conseguir comer.
— Marina Simas de Lima, mestra em psicologia clínica.
Luto, pânico e mais sintomas
Entre os principais sintomas do sofrimento psíquico imposto por uma traição, estão:
Insônia
Falta de apetite
Agressividade
Comportamento depressivo
Ansiedade
Oscilação de humor
Ataques de pânico
“O mais comum é a insônia, a sensação de angústia, perder apetite e não conseguir mais se concentrar no trabalho e nos estudos”, diz o psiquiatra Saulo Ciasca.
O sofrimento se origina na perda do lugar de segurança e estabilidade no qual o relacionamento amoroso é construído.
Quando ocorre a traição, é como se fosse um rompimento, um luto desse ideal de afeto estável e seguro. [Envolve] angústia, insegurança, ansiedade e raiva. É realmente um trauma agudo, digamos assim, para o cérebro naquele momento.
— Nina Ferreira, médica psiquiatra.
Do ponto de vista biológico, é o cérebro que comanda as reações e por isso é possível ver sintomas físicos, de acordo com a especialista. “Sempre que o cérebro tiver uma dor, vai de alguma forma impactar no resto do organismo por questões de comunicação bioquímica, de neurotransmissores, de hormônios e estímulos neuronais”, afirma Nina.
Ajuda profissional
O psiquiatra Saulo Ciasca explica que, em casos extremos, a pessoa traída pode cogitar se matar e se machucar para conseguir o amor de volta, em um quadro de dependência emocional. Neste caso, a indicação é procurar um psiquiatra.
Mas é importante buscar ajuda também antes de chegar a este extremo. Segundo Nina Ferreira, uma boa nota de corte é quando sofrimento está muito intenso.
“Depois de 15 dias, se a vida e o mundo interior estão muito bagunçados, muito sofrido, é importante buscar ajuda médica para avaliar essa saúde física e mental e orientar. Não necessariamente vai haver tratamento medicamentoso ou algum procedimento, mas orientações técnicas bem direcionadas vão ajudar aquele trauma agudo”, explica a médica.
Além do psiquiatra, os psicólogos são profissionais de referência no tema. Eles podem ser acionados até mesmo para que o casal possa avaliar se há possibilidade de superar o trauma ou se a separação é mesmo o caminho a ser seguido.
“Geralmente para as pessoas que têm filhos, faz diferença [buscar a terapia de casal], isso ajuda o casal a se separar de um jeito melhor, mais respeitoso, para não ficar uma coisa abrupta. A terapia ajuda até a pensar se aquela é mesmo a melhor decisão”, explica a psicóloga Marina de Lima.
“Aquele até que a morte nos separe hoje é muito raro, né? É enquanto dure”, define Marina.
Impacto da traição masculina
A psicóloga e mestra em psicologia da saúde Natália Marques aponta ainda que há uma carga extra sobre as mulheres nestes ciclos de infidelidade. “A traição masculina por mais que seja julgada, ela é muito mais aceita socialmente. A monogamia sempre foi imposta para as mulheres, para os homens não”, avalia Natália Marques.
“Muitas vezes, uma traição pode reativar outras vivências traumáticas. É preciso lidar com uma exposição, e além de tudo eu vou me preocupar também com o julgamento que recebo da sociedade”, lembra Natália.
Nem todo mundo precisa de terapia
O psiquiatra Saulo Ciasca afirma que nem todo mundo que perdeu um relacionamento precisa de terapia. Como primeiros passos, indica que é preciso “tentar se conectar com pessoas, nos ambientes adequados”.
“O processo de cuidar de si envolve cuidar do outro. Procurar por amigos, família, trocar, não ficar sozinho é muito bom, você se conecta e investe afetivamente em outras pessoas. Invista em afetos autênticos”, aconselha Ciasca.
FONTE: Folha Max







