Cheia de 2014: quando o rio Madeira inundou Porto Velho e causou a primeira paralisação da maior hidrelétrica do país


Em 2014, a água do rio Madeira subiu gradativamente até bater uma sequência de recordes e alcançar a marca histórica de 19,74 metros. Quase 10 anos depois, o nível do rio está abaixo de 1,20 metros. Cheia histórica deixou casas, plantações e até cemitério cobertos de água em Porto Velho
Em um período de quase 10 anos, a hidrelétrica de Santo Antônio, uma das maiores do país, foi desligada por duas vezes em situações extremas e completamente opostas: a primeira vez em 2014, durante a cheia histórica do rio Madeira. Recentemente, a seca do mesmo rio foi o motivo do desligamento.
De acordo com a Santo Antônio Energia, nas duas ocasiões a medida de suspender as operações foi adotada para preservar a integridade das unidades geradoras.
Em 2014, a água do rio Madeira subiu gradativamente até bater uma sequência de recordes e alcançar a marca histórica de 19,74 metros. O evento é reconhecido como extremo centenário, já que foi a maior cheia do rio ocorrida nos séculos 20 e 21.
A cheia histórica deixou casas, pontos turísticos, plantações e até cemitério cobertos pela água. Relembre:
Familias recebem assistência da Defesa Civil em Jacy-Paraná
Assem Neto/G1
Consequências da cheia
Mais de 30 mil famílias foram afetadas em 17 bairros, três distritos e em todas as comunidades ribeirinhas de Porto Velho. Moradores viram suas casas e estabelecimentos comerciais destruídos. Plantações que garantiam o sustento das famílias ficaram debaixo d’água.
“Eu nasci e me criei aqui [na zona ribeirinha]. Passei duas enchentes grandes: a de 1997 e a de 2014. Em 2014 foi quando eu mais chorei, todo dia eu chorava. Perdi a minha casa, perdi tudo. Nossas plantações centenárias que meu avô plantou, perdemos tudo. Em 2014 foi a pior [cheia] de todas”, relembra Severino Nobre, morador e líder comunitário da comunidade de Cujubim Grande, no Médio Madeira.
RO Rio Madeira Ave pousa sobre telhado de casa alagada em Brasileira, no Baixo Madeira, em Porto Velho
Ivanete Damasceno/G1
Bens históricos da capital também foram inundados pela água do Madeira: o Complexo Turístico da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, obra centenária e patrimônio histórico nacional, ficou praticamente embaixo da água.
Além disso, o fornecimento de água potável de quatro distritos foi interrompido e a energia elétrica foi desligada em vários pontos da cidade, segundo a Defesa Civil.
A região portuária foi comprometida, dificultando a distribuição de bens, combustíveis e alimentos para Rondônia e outros estados.
Cheia histórica do Rio Madeira atinge Porto Velho
Decom/divulgação
O tráfego na BR-364, que interliga Rondônia a Amazonas foi interrompido e a cidade do Acre ficou isolada do restante do país.
De acordo com um levantamento feito pelo Serviço Geológico do Brasil, nos meses que antecederam à cheia foram registradas chuvas acima da média histórica.
Homem nada ao lado de carretas na BR-364, inundada pelo Rio Madeira, em 2014
Sérgio Vale/Secom Acre/Arquivo
Desligamento de uma das maiores hidrelétricas do país
Durante a cheia de 2014, foi a primeira vez que a hidrelétrica de Santo Antônio precisou ser desligada. O motivo foi o recorde de vazão de água registrado no Madeira. Segundo a Santo Antônio, a quantidade volumétrica de água superou 54 mil m³ por segundo.
A paralisação durou cerca de dois meses, até que a usina estivesse novamente dentro dos limites operacionais.
Hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia
Beethoven Delano/Divulgação
Nesta semana, a hidrelétrica foi desligada pela segunda vez em uma situação completamente oposta: a falta de água suficiente para que as turbinas funcionem com segurança.
“Em 11 anos de geração de energia, esta é a segunda vez em que as condições naturais do rio Madeira alcançam os limites operativos da usina”, informou a Santo Antônio.
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O extremo oposto
Quase 10 anos depois, uma situação oposta à cheia de 2014 afeta o rio Madeira: uma seca histórica. Ao longo dos meses, o rio registrou níveis mínimos nunca vistos pelos órgãos de monitoramento.
Cerca de 15 mil famílias sofrem com falta de água, mesmo às margens do rio Madeira. Locais onde antes era possível se afogar, secaram completamente. As margens do rio também “sumiram” em muitas comunidades ribeirinhas.
Por conta da baixa vazão do Madeira, a hidrelétrica de Santo Antônio foi desligada pela segunda vez esta semana. Depois dela, o Linhão do Madeira, que conecta Rondônia ao Sudeste do país, também foi desativado para priorizar o abastecimento de energia em Rondônia e no Acre.
Seca no Rio Madeira paralisa uma das maiores hidrelétricas do país
Reprodução

FONTE: Lapada Lapada

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