quinta-feira, setembro 4, 2025

Mano a mano | FOLHAMAX

 

Outro dia, eu ouvi de uma especialista que eu sou nostálgico. De uma nostalgia que veio de outra vida. Vá lá saber! E aí eu comecei fazer associações, sob este mal atávico que persegue os latinos, agravado, no Brasil, com o banzo dos negros africanos.  Eu gosto de isolamentos, solilóquios, fados e de tangos. Este último é trágico. Enfim, ambos são nostálgicos e fatalistas. Por que me lembrei desta borrasca? Talvez seja porque ouvi a música Mano a Mano, nas vozes de Carlos Gardel e Nelson Gonçalves. 

A vida é um grande compromisso, com um acerto de pendências, no final da caminhada. Mano a Mano é este acerto de contas que temos que fazer para arrematar e selar a nossa estada por aqui.  Em algum dia e em algum lugar, haveremos de nos encontrar conosco. Será o pior dos nossos dias ou o nosso momento maior. De onde foi que eu tirei esta sábia afirmação, eu não me lembro mais! Fico devendo ao autor.  Enfim, é preciso fechar a conta corrente da vida. Geralmente, este fechamento, é traumático, pois o “face a face” que adiamos estará sempre no presente e, sobretudo, no futuro, a cobrar um “zero a zero”.

As pessoas, normalmente, fogem delas mesmas, pois não se encaram, certamente com medo ou receio de se incomodarem ou se ferirem. E você já teve coragem de se olhar dentro dos seus olhos, num espelho de reflexos ou fugiu e foge dele como o diabo foge da cruz? Os nossos olhos nos desafiam a enxergar dentro de nós mesmos, o nosso eu, os nossos fracassos, os nossos erros, os tropeços, os desacertos e tudo que adiamos inconsequentemente.   Não se esqueça deque antes de se fechar os olhos, a conta vem e salgada! 

Não é boa política escondermos de nós mesmos, como um viciado que omite o vício de si mesmo. É necessário resolver todos os problemas, tropeços e traumas que vão aparecendo, pois se assim não o fizer, o passivo poderá ficar insuportável e a consciência (para quem tem uma) será o verdugo que armará, no futuro, o cadafalso, para onde seremos empurrados com uma corda no pescoço. 

Eu tinha prometido para mim mesmo, não discorrer mais sobre temas sombrios. Entretanto, eles continuam me perseguindo ultimamente, como se eu fosse à palmatória do mundo ou um Dom Quixote que se distanciou ainda mais do prumo, a combater as malfeitorias insolúveis do mundo.

Enfim, meu caro leitor, viver não é fácil, não…

Se você ainda não se acautelou e procurou a paz consigo mesmo, jogando tudo numa névoa escura, só lhe resta a fatalidade, o sofrimento e a nostalgia, sob os acordes de um tango portenho. De preferência, faça sob a batuta do Último Tango de Herivelto Martins, na belíssima interpretação de Nelson Gonçalves:

“Tango, meu tango triste

Meu bom parceiro…

Meu companheiro de boemia…                            

Serás eternamente meu companheiro….

A noite sobre ti também desceu…”

Renato Gomes Nery

FONTE: Folha Max

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