quinta-feira, novembro 6, 2025

'Vim de lá': Marambaia guarda ruínas de senzala e tradições quilombolas

'Vim de lá': Marambaia guarda ruínas de senzala e tradições


Sinos que anunciavam embarcações de escravizados dão nome à praia que era o destino final de navios. Programa que vai ao ar neste sábado (25) mostra grande influência na cultura da cidade que africanos escravizados trouxeram em temas como língua, música, culinária, entre outros. Ruínas da senzala ‘de engorda’ na ilha da Marambaia, no Rio de Janeiro
Globoplay/Reprodução
Milhares de negros escravizados de Angola e outros países da África tinham como seu primeiro destino no Brasil a praia do Sino, na restinga de Marambaia. A ilha ainda mantém as ruínas de uma senzala, local que abrigava as pessoas escravizadas no Brasil.
Os navios que chegavam eram chamados de “Tumbeiros”. A palavra vem de tumba, e tem uma origem mórbida: muitos morriam nos navios antes de chegar ao destino final.
Griô e mestre da história oral do quilombo da Marambaia conversa com o repórter Alexandre Henderson
Globoplay/Reprodução
Os sinos que dão nome à praia anunciavam as embarcações vindas da África. A “senzala de engorda” era o local de recuperação dos sobreviventes.
“É o que restou da existência dos meus antepassados, elas são as testemunhas e também de onde viemos, os negros que vinham desse processo, de roubos, de tráfico. Aqui eles eram recuperados para trabalhar”, contou Vânia Guerra, griô e mestre da história oral do quilombo.
Os quilombolas que moram na ilha da Marambaia são todos descendentes de uma única mulher: Camila, uma negra que foi escravizada e vendida junto com a fazenda. Tradições como o Jongo, a pesca da tainha e outras atividades permanecem, passadas de geração em geração.
Quilombolas da Marambaia são descendentes de uma só matriarca: Camila.
Globoplay/Reprodução
Ela utilizava um fogão para fazer chás para os que estavam na senzala. Com o tempo, uma árvore nasceu e tomou a estrutura do fogão, tornando-se um local simbólico para os quilombolas da região.
Descendente conta história de parente
A região pertencia ao fazendeiro e traficante de pessoas Joaquim de Souza Breves, que era temido pelas pessoas escravizadas que trabalhavam em suas terras.
“Os escravos tinham verdadeiro temor de cometer alguma falta: eram severamente castigados em todas as propriedades. Foram encontrados inúmeros objetos de tortura: tronco, argolas, a famosa máscara de Flandres para impedir que os escravos se alimentassem “, Aloysio Clemente Breves, pesquisador e membro da quinta geração da família de Joaquim. Ele pesquisa as ações de seu parente na região desde os anos 90.
“Isso me levou a criar um conteúdo digital. As pessoas têm que saber disso. Não há porque esconder”, pontuou.
Programa foi ao ar neste sábado
‘Vim de lá’ fala sobre a herança africana e sua influência no Rio
Reprodução/TV Globo
Neste sábado (25), no mês da Consciência Negra, a Globo exibiu para o Rio de Janeiro o programa “Vim de lá”, que conta a formação do Rio a partir de africanos escravizados e trazidos à força.
Com apresentação de Alexandre Henderson e direção de Chico Regueira, o programa, que vai ao ar após o Jornal Hoje, refez os caminhos por onde os escravizados passaram. A praça onde eram expostos em Angola, o porto onde embarcavam na capital Luanda. No Rio, o Cais do Valongo, principal ponto de chegada de escravizados no Brasil.
O programa mostra o legado que essa rota deixou na Pequena África, como ficou conhecida a parte central da cidade, e também no subúrbio, com destaque para o Mercadão de Madureira.
“Vim de lá” busca ainda pontos de conexão na linha direta Rio-Angola. Semelhanças entre as favelas, as feiras de rua e os ritmos. O baile funk tem um correspondente na África: o kuduro. A música, aliás, é o que dita o andamento do programa. Tem samba de partido alto versado especialmente para a ocasião, bateria da Portela e samba de terreiro. A pluralidade cultural carioca é resultado de um encontro de povos africanos que não aconteceu nem mesmo na própria África. Uma oportunidade para lembrar de quem realmente somos e como chegamos até aqui, diversos e potentes.
‘Vim de lá’ vai mostrar influência africana na cultura e costumes do Rio
Lucas von Seehausen/TV Globo
‘Vim de lá’ vai mostrar influência africana na cultura e costumes do Rio
Lucas von Seehausen/TV Globo

FONTE: Lapada Lapada

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