quinta-feira, agosto 21, 2025

'Todo dia tem que ser uma superação': médico sobrevivente de atentado no Rio fala sobre recuperação após tragédia

Ao Fantástico, Daniel Proença fala o que mudou em sua vida depois do ataque que terminou com a morte de três médicos em um quiosque na Barra da Tijuca. Médico sobrevivente de ataque de criminosos fala com exclusividade ao Fantástico
Na madrugada de 5 de outubro deste ano, três médicos foram assassinados em um quiosque na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Marcos de Andrade Corsato e Perseu Almeida morreram na hora. Diego Ralph chegou a ser socorrido, mas morreu no hospital. O quarto médico, Daniel Proença, foi baleado mas sobreviveu ao ataque.
O Fantástico entrevistou Daniel para contar sua história de reconstrução após o crime. Ao programa, ele fala o que mudou em sua vida depois daquela madrugada, destacando a exigência diária com a reabilitação. Veja no vídeo acima.
Daniel faz fisioterapia todos os dias desde a noite do ataque, há quase dois meses e meio. Ele já passou por cinco cirurgias, com pelo menos mais duas estão previstas. A primeira para retirada da bolsa de colostomia e a segunda para mais uma correção ortopédica.
“Muda um pouco a cabeça, o jeito de se ver um pouco as coisas. Entende-se um pouco mais da brevidade da vida, todos esses fatores que às vezes assustam um pouco mais e mudou que todo dia está sendo exigido muito de mim. Está sendo todo dia uma reabilitação. A gente sabe que tem dias bons, dias piores. É um processo longo, mas botei na minha cabeça que espero que todo dia tem que ser uma superação, um degrau a mais”, relata.
Segundo o médico, a tragédia também fez com que ele se tornasse mais “humanizado”
“O novo Daniel é o Daniel que virou paciente mas, agora está ficando mais fácil entender as dificuldades que as pessoas passam, as dores, as inseguranças. Então acho que me deixou mais humanizado.”
Autoconsulta na hora do ataque
O sobrevivente relembra o dia do atentado.
“Eu estava de costas. Inicialmente comecei ouvir as explosões. O Fluminense tinha se classificado para semifinal da Libertadores, tinha passado um carro na orla, soltando fogos. Quando eu comecei a ouvir os disparos, eu confundi eles com fogos, e senti o calor nas costas. Quando eu comecei a virar, protegendo meu rosto com a mão direita pra me jogar no chão, para sair do nível dos fogos, comecei a sentir muita dor no braço direito, em vários lugares. Aí, eu caí no chão. Nesse momento, eu comecei a ter noção do real, da gravidade”, diz.
Questionado, ele destaca o que foi pior nesse momento.
“Ver a execução. No momento do crime, exatamente, eu cheguei a ver meus amigos executados e sabia que eu perdi os três. O doutor Corsato, quando olhei para o lado, já estava evidente que ele não respondia, já estava na cadeira com os braços esticados. O Perseu vi ele tentando fugir, aí infelizmente o executor esticou o braço direto e disparou alguns tiros, ele parou de se mexer, e eles foram embora. O Diego começou a gritar”.
Segundo Daniel, durante o ataque, ele realizou uma autoconsulta para avaliar suas próprias lesões e decidir as melhores ações a serem tomadas para sobreviver.
“Naquele momento eu estava frio, em relação que eu estava com um pensamento de médico sobre mim, então eu estava me examinando. Então eu tentei dentro do máximo possível, diminuir minha respiração, diminuir minha frequência cardíaca e ficar mais calmo”.
“Tentei forçar vômito, para ver se tinha alguma perfuração abdominal. Eu via o sangue escorrendo pelo meu corpo. Eu sabia que possivelmente essa seria a principal causa daquele momento da minha luta pela vida. Foi uma violência muito grande”, relata.
O médico conta que levou um tiro no pé esquerdo, na perna esquerda, tiros no braço, no ombro esquerdo, mais o tiro que passou em raspão em uma mão, atingindo todos os ligamentos.
“Não sei a quem eu tenho que agradecer diretamente, além de Deus, mas com certeza foi uma coisa que passava muito na minha cabeça, na hora era meu pai. Ele faleceu no final do ano passado. Não tem outra escolha. É seguir. Sou muito grato por tudo que aconteceu comigo. Claro, eu não entendo ainda o porquê teve que levar os meninos, ou até porque eu não fui levado, mas qual outra opção, de não ser grato e lutar pelo que está, eu não vou conseguir mudar a realidade”.
O último momento com os amigos
Ele também fala sobre a última foto tirada com os amigos, no dia do ocorrido e sobre o que eles conversavam.
“A foto é uma ideia do Doutor Corsato. Nossa, foi muito agradável. A gente tinha uma amizade muito grande, muito próxima. Então ali estávamos confidenciando projetos, confidenciando futuro. Perto de umas dez horas, imagino eu, quando a gente já estava praticamente pensando em ir embora, o doutor Corsato passou, reconheceu o Perseu, aí ele abraçou o Perseu, cumprimentou a gente e aí ele escolheu sentar na nossa mesa”, conta.
O médico expressa incerteza sobre retornar ao Rio de Janeiro devido à insegurança, mesmo antes do ataque.
“Hoje não, não consigo te dizer. Não só a questão do acidente, a questão do Rio de Janeiro em si mesmo, antes do acidente, eu já me sentia inseguro lá. Gostaria que tivesse mais segurança, que o dia 5 de outubro não fosse lembrado só como um novo aniversário meu, mas como um dia que algo muito absurdo aconteceu e que nunca mais deva acontecer, deva ser combatido de toda forma de violência”.
Confusão com miliciano
Os suspeitos de serem os assassinos dos médicos também foram executados 17 horas depois do crime. A principal linha de investigação indica que um dos médicos assassinados foi confundido com um miliciano.
Daniel relata qual foi o sentimento ao saber disso.
“Meu sentimento era de choque. Simplesmente, eu estava inerte, e saber que foi por causa de guerra, de tráfico, essas coisas. É muito revoltante”.
O sobrevivente destaca ainda seu compromisso em seguir em frente honrando a memória dos amigos.
“Quando eu voltar, o cuidado ao próximo, com certeza vou fazer representando não só a mim, mas aos quatro que estavam naquela mesa porque tinham o mesmo padrão de trabalho, de compromisso com o próximo. Seguirei como se eles estivessem lá, com alegria, deixando o clima do centro cirúrgico um clima gostoso, fazendo com que as cirurgias andem bem, deem certo, o resultado seja satisfatório e o clima muito bom pra todo mundo”.
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FONTE: Lapada Lapada

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