A história recente mato-grossense é marcada pela ação corajosa e pioneira de homens, mulheres e famílias que migraram para o interior do estado com a determinação de criar uma nova realidade. Pessoas empreendedoras que possibilitaram a consolidação de diversas cadeias agroindustriais que tornaram Mato Grosso um dos principais atores do mercado agrícola nacional e internacional. Mas quais são os fatores que contribuem para ações empreendedoras no setor agroindustrial? O acesso a recursos financeiros é o principal gargalo?
Durante minha pesquisa de doutorado na Universität Hohenheim (Alemanha), tive a oportunidade de analisar o processo de estabelecimento de cadeias agroindustriais de girassol em diferentes regiões do Brasil, com destaque para Mato Grosso. Parte dos resultados dessa pesquisa foi publicada (em inglês) em um artigo na Revista Científica “Sustainability”, que traduzido para o português foi intitulado “Estabelecimento de Cadeia Agroindustrial como um Meio para Aumentar a Sustentabilidade nos Sistemas Alimentares: Lições do Girassol no Brasil”.
Com base em entrevistas com representantes dos segmentos de insumos, produção e processamento, ficou claro que a criação da cadeia agroindustrial de girassol em Mato Grosso, centralizada em Campo Novo do Parecis, foi um processo empreendedor coletivo, que envolveu a descoberta, a implementação, a avaliação e a exploração de uma oportunidade para agregar valor ao sistema de produção agrícola, por meio da introdução de uma nova cultura e de sua agroindustrialização.
A pesquisa identificou que esse processo empreendedor foi influenciado por um conjunto de fatores, dentre as quais se destacaram: habilidades empreendedoras, relações sociais, disponibilidade de recursos e cultura de cooperação. E isso traz à tona um ponto importantíssimo: o acesso a recursos financeiros é a parte mais fácil de ser solucionada dentro de um processo empreendedor para criação de uma cadeia agroindustrial envolvendo grupos de produtores. “Como assim, professor?”
Eu explico. Uma política pública ou um projeto de uma organização não-governamental pode facilmente disponibilizar recursos financeiros para fomentar a criação de uma cadeia agroindustrial entre agricultores, sejam eles pequenos ou grandes. Isso é simples. A parte complexa é “entregar ou criar” os outros três fatores também fundamentais: habilidades empreendedoras, relações sociais e cultura de cooperação. Essas são características difíceis de serem “forjadas”.
Por isso, é fundamental reconhecer que o sucesso de empreendimentos no setor agroindustrial vai além do acesso aos recursos financeiros. É necessário investir no desenvolvimento de habilidades empreendedoras e, quando o projeto é colaborativo, na promoção de uma cultura de cooperação, fundamentais para liderar e sustentar iniciativas inovadoras. Sem elas, mesmo com recursos financeiros à disposição, os empreendimentos dificilmente alcançarão o sucesso desejado.
Prof. Dr. Lucas Oliveira de Sousa é PhD em Ciências Agrícolas pela Universität Hohenheim, Mestre em Economia Aplicada pela UFV, Bacharel em Gestão do Agronegócio pela UFV, Professor da Faculdade de Agronomia e Zootecnia
FONTE: Folha Max