sábado, dezembro 20, 2025

A IA e a modernidade líquida de Bauman | RDNEWS

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Rodinei Crescêncio

O novo ChatGPT-4.0 representa um avanço significativo na interação humano-computador, introduzindo a capacidade de conversar por voz com o usuário. Essa nova funcionalidade permite uma comunicação mais natural e intuitiva, semelhante à interação humana. O modelo pode processar entradas de áudio em tempo real, respondendo em apenas 232 milissegundos em média, o que é comparável ao tempo de resposta humana em uma conversa, além de interpretar a fala do usuário e se adaptar a ela, falando de forma mais lúdica ao perceber que está falando com uma criança, por exemplo. Além disso, o GPT-4o (“o” para “omni”) é capaz de entender e gerar não apenas texto, mas também áudio e imagens, proporcionando uma experiência multimodal.

Destarte, a comparação com o filme “Her” é inevitável, já que no filme, Theodore, um escritor solitário, desenvolve um relacionamento com Samantha, um sistema operacional inteligente que se comunica por voz. A relação entre Theodore e Samantha transcende a interação funcional, evoluindo para uma conexão emocional profunda. O ChatGPT-4.0, embora não seja projetado para formar laços emocionais, oferece uma interação que pode parecer incrivelmente pessoal e adaptada às necessidades do usuário, ecoando a dinâmica vista em “Her”.

O ChatGPT-4.0, embora não seja projetado para formar laços emocionais, oferece uma interação que pode parecer incrivelmente pessoal e adaptada às necessidades do usuário, ecoando a dinâmica vista em “Her”

Isso nos faz lembrar da teoria da modernidade líquida de Bauman, que descreve uma sociedade em constante mudança, onde as relações, identidades e economias globais estão em fluxo contínuo. O ChatGPT-4.0, com sua capacidade de se adaptar e responder a uma variedade de estímulos, reflete essa fluidez. A interação por voz do modelo pode ser vista como uma extensão da liquidez de Bauman, onde a tecnologia se adapta e muda para atender às necessidades em constante evolução dos indivíduos.

Diante dessas reflexões, surge um questionamento filosófico e sociológico: até que ponto a tecnologia pode e deve moldar nossas interações e relações? O desenvolvimento de sistemas como o ChatGPT-4.0, que oferecem interações cada vez mais humanizadas, está nos levando a um futuro onde as fronteiras entre humano e máquina se tornam cada vez mais tênues. Isso reflete uma sociedade “líquida” onde as estruturas tradicionais de relacionamento estão sendo dissolvidas pela tecnologia?

Essa questão nos convida a ponderar sobre o impacto da inteligência artificial em nossa concepção de humanidade e na forma como construímos e mantemos relações sociais. À medida que avançamos para um mundo cada vez mais integrado com a IA, talvez seja necessário reavaliar nossos valores e a maneira como definimos a interação humana. O ChatGPT-4.0 é um exemplo de como a tecnologia pode oferecer novas formas de conexão, mas também levanta questões importantes sobre a essência das nossas relações interpessoais em uma era de modernidade líquida.

Escrito com Sara Nadur Ribeiro

Maurício Munhoz Ferraz é sociólogo e professor. Atua atualmente como assessor do conselheiro Sérgio Ricardo na presidência do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Foi superintendente federal de Agricultura e Pecuária no Estado de Mato Grosso, ocupou o cargo de secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso em 2022. Trabalhou também como consultor, diretor de pesquisas da Fecomércio-MT e professor de economia da Unemat. Tem mestrado em sociologia, é vice-presidente da Câmara de Comércio Brasil-Rússia,  membro do projeto governança metropolitana do Instituto de Pesquisa Economia Aplicada do Governo Federal (IPEA), vencedor do Prêmio Celso Furtado de economia e escreve nesta coluna com exclusividade aos sábados. E-mail: mauriciomunhozferraz@yahoo.com.br

FONTE: RDNEWS

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