O erro do Lula no Rio Grande do Sul | RDNEWS

Rodinei Crescêncio

A recente catástrofe natural que devastou o Rio Grande do Sul não apenas trouxe desolação e perdas humanas, mas também desencadeou uma crise econômica que ameaça a sobrevivência de inúmeras empresas gaúchas, e do próprio Estado. A resposta do governo federal, embora rápida em termos de segurança e saúde, revela uma lacuna significativa na reconstrução econômica. A abordagem adotada, centrada na ortodoxia econômica com foco em metas fiscais e superávit, parece desconsiderar a profundidade da crise enfrentada pelo estado.

As inundações afetaram mais de 94% da atividade econômica gaúcha, com estimativas apontando que os municípios atingidos representam 87,2% dos empregos industriais da região. Diante dessa realidade, a necessidade de um plano de recuperação econômica não apenas ao Estado, mas também às empresas, robusto e eficaz é inquestionável. No entanto, a solução proposta pelo governo – uma linha de crédito com juros de 0,7% ao mês – impõe um fardo adicional às empresas já sobrecarregadas pela necessidade de reconstrução, mesmo com a carência estimada.

A crítica central a essa política é que, em momentos de crise aguda, o governo deveria não apenas financiar no sentido de emprestar, mas efetivamente doar recursos para as empresas comprovadamente afetadas. Essa abordagem não é um ato de populismo, mas sim uma estratégia econômica alinhada com os princípios keynesianos, que defendem a intervenção estatal para preservar a dinâmica econômica e a capacidade produtiva do estado.

A situação atual demanda uma intervenção estatal mais robusta e menos restritiva, que possa efetivamente auxiliar na reestruturação das empresas e na manutenção da harmonia econômica

A comparação com as ações do governo anterior durante a pandemia, onde houve um aporte significativo de recursos à população, ilustra a discrepância das abordagens. A concessão de empréstimos às empresas, em vez de auxílios diretos, reflete uma postura menos flexível e potencialmente prejudicial à recuperação econômica do Rio Grande do Sul. Seria o mesmo que os auxílios destinados a população, durante a pandemia (algo que salvou o país de entrar em colapso), fossem cobrados, mesmo a taxa de juros baixas comparadas ao mercado e com carência. Imaginemos o endividamento adicional que caberia à população brasileira.

A situação atual demanda uma intervenção estatal mais robusta e menos restritiva, que possa efetivamente auxiliar na reestruturação das empresas e na manutenção da harmonia econômica. A adoção de uma política econômica mais flexível e adaptada às circunstâncias excepcionais poderia mitigar os efeitos devastadores da catástrofe e garantir um futuro mais estável para o Rio Grande do Sul.

O impacto das inundações no PIB brasileiro é significativo, com previsões de contração de 2% para a economia gaúcha, em vez do crescimento de 3,5% que vinha registrando. A necessidade de um plano de metas para a recuperação do estado é urgente, pois sem ele, a reconstrução pode levar décadas. A retomada da economia após a enchente deve começar pelo saneamento e pela garantia de dignidade das pessoas.

Em resumo, a crise econômica pós-tragédia no Rio Grande do Sul é um teste para a política econômica do governo brasileiro. A escolha entre adotar uma abordagem ortodoxa ou uma intervenção keynesiana pode determinar o futuro econômico do estado e, por extensão, do país. É imperativo que o governo reconsidere sua estratégia e opte por uma solução que não apenas alivie o fardo imediato das empresas afetadas, mas também estabeleça as bases para uma recuperação econômica sustentável e de longo prazo.

Escrito com Sara Nadur Ribeiro

Maurício Munhoz Ferraz é sociólogo e professor. Atua atualmente como assessor do conselheiro Sérgio Ricardo na presidência do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Foi superintendente federal de Agricultura e Pecuária no Estado de Mato Grosso, ocupou o cargo de secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso em 2022. Trabalhou também como consultor, diretor de pesquisas da Fecomércio-MT e professor de economia da Unemat. Tem mestrado em sociologia, é vice-presidente da Câmara de Comércio Brasil-Rússia,  membro do projeto governança metropolitana do Instituto de Pesquisa Economia Aplicada do Governo Federal (IPEA), vencedor do Prêmio Celso Furtado de economia e escreve nesta coluna com exclusividade aos sábados. E-mail: mauriciomunhozferraz@yahoo.com.br

FONTE: RDNEWS

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