Silvio Tupinambá
A competitividade empresarial é fundamental para o desenvolvimento econômico de qualquer país. O conceito de competitividade abrange diversos fatores que incluem um ambiente regulatório eficaz, agências de fiscalização competentes, educação de qualidade, infraestrutura robusta, segurança jurídica e um sistema tributário eficiente. Esses elementos são essenciais para criar um ambiente propício para investimentos empresariais, tanto nacionais quanto internacionais.
Dentro desse contexto, a infraestrutura de transportes desempenha um papel crucial. O custo de transporte é um dos maiores componentes dos custos logísticos, e a escolha do modal de transporte pode ter um impacto significativo na competitividade empresarial. A competitividade dos modais de transporte pode ser analisada da seguinte forma:
Marítimo: Considerado o mais competitivo, especialmente no transporte de cabotagem ao longo da costa brasileira.
Hidroviário: Muito próximo ao ferroviario em termos de competitividade.
Ferroviário: Competitivo, mas ainda atrás dos modais marítimo e hidroviário.
Rodoviário: Menos competitivo que os modais anteriores, mas ainda amplamente utilizado.
Aéreo: O menos competitivo devido aos altos custos.
A agroindustrialização também é um componente essencial da competitividade empresarial. No Brasil, o setor agroindustrial é um dos mais importantes, contribuindo significativamente para a economia do país. A produção de etanol de milho, por exemplo, tem se expandido rapidamente. O etanol de milho e seus subprodutos, como o DDG (dry distillers grains), possuem grande demanda no mercado e são fundamentais para a cadeia de produção agroindustrial. Além disso, a cadeia do algodão é outra área de destaque, onde a eficiência logística pode agregar valor significativo.
A Ferrovia Estadual, que está sendo implantada pela Rumo, promete resolver vários gargalos logísticos e melhorar a competitividade empresarial. A tabela a seguir ilustra a competitividade dos diferentes modais de transporte em relação à distância, densidade da carga, tempo de atendimento (lead-time), valor agregado da carga e tonelagem útil:
A ferrovia estadual Vicente Vuolo, em especial, corrigirá distorções significativas na infraestrutura de transportes do Mato Grosso. Atualmente, grandes volumes de commodities são transportados por caminhões em longas distâncias, o que resulta em altos custos e perdas de competitividade. A implantação da ferrovia permitirá um transporte mais eficiente e menos custoso, melhorando significativamente a competitividade das empresas locais.
O exemplo prático disso é a logística do Mato Grosso, onde a produção de soja cresceu de 9 milhões de toneladas em 1999/2000 para 45 milhões de toneladas em 2022/2023, enquanto a infraestrutura ferroviária praticamente não acompanhou esse crescimento. A nova ferrovia proporcionará uma solução sustentável para o escoamento dessa produção, reduzindo custos e aumentando a eficiência.
Além disso, a intermodalidade, que envolve o uso de terminais intermodais e o transporte combinado por rodovia e ferrovia, será crucial para melhorar a competitividade logística. A Rumo já prevê a construção de novos terminais intermodais que impulsionarão a economia do Mato Grosso, gerando renda, empregos e impostos, consolidando a posição do estado nas cadeias de suprimentos locais, regionais e globais.
A dramaticidade da falta de modais mais competitivos, como as hidrovias e ferrovias com maior escala de tração, no Mato Grosso é evidente. Com a produção agrícola aumentando exponencialmente, a infraestrutura de transporte não acompanhou esse crescimento, gerando um gargalo sistêmico. A implantação da Ferrovia Estadual Vicente Vuolo solucionará esse problema, oferecendo um meio de transporte eficiente para as commodities, que atualmente são transportadas em caminhões por longas distâncias, resultando em altos custos e perdas de competitividade empresarial.
Particularmente, conheço o Mato Grosso desde 1995, percorri a BR-163 em apenas um sentido, do Nortão composto pelos municípios altamente produtores de soja e milho, como Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sinop para o Porto de Santos, e ainda sem a duplicação da Serra de São Vicente (entre Cuiabá e Rondonópolis) demandava 7 horas para uma distância física de 220 km, quando não havia acidentes, era uma verdadeira epopeia.
Evidentemente, que atualmente, o fluxo do Nortão está se dividindo entre Miritituba no Pará e o Terminal da Rumo em Rondonópolis que “tomba” 2000 carretas diárias, executando a intermodalidade entre rodovia/ferrovia de lá para o Porto de Santos, corroborando significativamente o escoamento dessa gigantesca produção.
Sendo assim, a Ferrovia Estadual Vicente Vuolo, oportuniza uma maior competitividade empresarial, tanto nas cadeias de suprimentos atuais como as futuras. Isso inclui produtos já existentes nas cadeias de suprimentos americanas, como o etanol de milho e seus subprodutos, como o DDG, além da cadeia do algodão. A construção de novos terminais intermodais, gerenciados por grandes operadores logísticos e tradings de grãos, impulsionará significativamente a economia do Mato Grosso, gerando renda, empregos e impostos, consolidando definitivamente o estado nas cadeias de suprimentos locais, regionais e globais.
Silvio Tupinambá Fernandes de Sá, Engenheiro Civil e Ferroviário, MBA Logística Empresarial e Mestre em Economia Empresarial
FONTE: RDNEWS