O Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), na denúncia oferecida e acatada contra 14 suspeitos investigados na Operação Ragnatela, revelou que o grupo tinha uma estratégia de fazer depósitos fracionados e funções definidas para cada um de seus integrantes. Os investigadores destacaram ainda que, um deles, ostentava fotos com armas e com o líder da organização criminosa.
A Operação Ragnatela tinha como objetivo desarticular o núcleo da maior facção criminosa do estado de Mato Grosso, responsável por lavagem de dinheiro em casas noturnas cuiabanas, entre elas o Dallas Bar e o Strike Pub. Com uso dessa estrutura, o grupo passou a realizar shows de cantores nacionalmente conhecidos, custeados pelo Comando Vermelho, em conjunto com um grupo de promoters.
Na ocasião, foram cumpridos mandados de prisão preventiva, busca e apreensão, sequestro de bens, bloqueio de contas bancárias e afastamento de cargos públicos, para desarticular um núcleo da facção responsável pela lavagem de dinheiro em casas noturnas, através de um grupo chamado G12. Ao deflagrar a operação, a Polícia Federal apontou que os investigados teriam movimentado pelo menos R$ 77 milhões.
As investigações apuraram que os acusados repassavam ordens para a não contratação de artistas de unidades da federação com influência de outras organizações criminosas, sob pena de represálias deliberadas pela facção criminosa. Durante as apurações, identificou-se também esquema para a introdução de celulares dentro de presídios, bem como a transferência de lideranças da facção para estabelecimentos de menor rigor penitenciário, a fim de facilitar a comunicação com o grupo investigado que se encontrava em liberdade.
São réus Ana Cristina Brauna Freitas, Agner Luiz Pereira de Oliveira Soares, Clawilson Almeida Lacava, Elzyo Jardel Xavier Pires, Joanilson de Lima Oliveira, Joadir Alves Gonçalves, João Lennon Arruda de Souza, Kamilla Beretta Bertoni, Lauriano Silva Gomes da Cruz, Matheus Araújo Barbosa, Rafael Piaia Pael, Rodrigo de Souza Leal, Willian Aparecido da Costa Pereira e Wilson Carlos da Costa. Na denúncia, os investigadores apontaram que um dos suspeitos, Elzyo Jardel Xavier Pires, que atuava como assessor parlamentar do vereador Paulo Henrique (MDB), tinha diversas fotos portando arma de fogo, entre elas um fuzil, o que demonstra, segundo o Gaeco, um alto nível de periculosidade.
Ele também demonstrava apreço pelo líder da organização criminosa, Joadir Alves Gonçalves, o “Jogador”, com quem também tinha fotos, demonstrando uma relação de intimidade entre eles. Joadir, inclusive, é apontado como sendo o homem responsável pelo recolhimento de ganhos obtidos pelo Comando Vermelho, através da venda de entorpecentes e dos pagamentos relacionados à lojinha e à camisa dos bairros de Cuiabá e Várzea Grande.
Segundo os investigadores, a operacionalização de recebimento é realizada por Joanilson de Lima Oliveira, o “Japão”, além de João Lennon Arruda de Souza. De acordo com o Gaeco, a organização criminosa tinha sua divisão de tarefas bem definida.
Ana Cristina Brauna Freitas, integrante do grupo G12, tinha como função organizar e promover shows financiados pelos denunciados. Agner Luiz Pereira de Oliveira Soares era o coordenador de operações, responsável pela rentabilidade dos lucros obtidos com os shows e venda de drogas, através de empréstimos a juros abusivos, bem como pelo fornecimento de veículos ao grupo.
Clawilson Almeida Lacava, o “Gauchinho”, é faccionado, sem função identificada na organização, e realizou a venda do estabelecimento comercial Dallas Bar para Jogador. Elzyo Jardel Xavier Pires, membro do grupo G12 e do “Comando Vermelho”, embora sem função identificada, atuava na organização de eventos e corrupção de agentes públicos, enquanto Joanilson de Lima Oliveira fazia parte do braço operacional da facção.
Joadir Alves Gonçalves, o Jogador, é apontado como uma das lideranças do Comando Vermelho, enquanto João Lennon Arruda de Souza foi identificado como sendo um “testa de ferro” da facção, sendo proprietário das empresas Clube CT Mangueiras Ltda. e Menino do Ação. Kamilla Beretta Bertoni, também membro do G12, era responsável pela realização de shows em casas noturnas de Cuiabá e responsável financeira sobre os eventos.
Lauriano Silva Gomes da Cruz, o “Coró”, também seria um “testa de ferro” e é apontado como uma das lideranças da facção, sendo proprietário formal do Restaurante e Peixaria Mangueira Ltda. Entre os denunciados também está Matheus Araújo Barbosa, ex-integrante do G12, que atuava como promoter, vendendo ingressos e camarotes.
Rafael Piaia Pael, que também integrava o G12, atuava na organização de eventos, enquanto Rodrigo de Souza Leal, que inicialmente era promoter, passou a atuar como responsável pela realização de eventos financiados pelo Comando Vermelho, sendo o responsável também pela corrupção de agentes públicos.
Por fim, aparecem os nomes de Willian Aparecido da Costa Pereira, o “Gordão”, apontado como “testa de ferro” de Joadir, sendo responsável por todas as transferências e custeio de cunho pessoal de “Jogador”, e de Wilson Carlos da Costa, integrante do G12, que atuava como organizador de eventos e promoção dos shows realizados pela organização criminosa.
Depósitos fracionados
Os investigadores apontaram, na denúncia, que durante a análise dos dados bancários das empresas Dallas Bar e Strike Pub e do denunciado Rodrigo de Souza Leal, foram encontrados padrões consistentes em relação à entrada de parte dos recursos nas contas vinculadas a essas entidades, como uma grande quantidade de depósitos de forma fracionada e realizados em datas específicas, com valores sempre inferiores a R$ 2 mil, para evitar a identificação do depositante e ocultar a origem dos recursos.
“No mais, foram identificados 383 depósitos, totalizando R$ 719.505,00, direcionados à empresa Dallas Bar, 33 depósitos, totalizando R$ 40.910,00, destinados à empresa Strike Pub, e 190 depósitos, totalizando R$ 309.550,00, direcionados a Rodrigo de Souza Leal, seguindo o mesmo padrão de depósitos fracionados. Nesse ínterim, identificou-se uma imagem de planilha compartilhada em 28 de janeiro de 2022 entre os contatos de Willian Gordão e Rodrigo Leal, na tabela é possível observar dados relativos a gastos com bebidas nos dois estabelecimentos no mês de janeiro, realizados por Willian, vulgo Gordão e Joadir, vulgo Jogador”, diz a denúncia.
FONTE: Folha Max