quinta-feira, agosto 21, 2025

Olimpíadas: Palco global do soft power e das dinâmicas políticas | RDNEWS

Rodinei Crescêncio

As Olimpíadas são um evento esportivo global que transcende a competição atlética, ilustrando questões políticas e representando o soft power das potências globais. O conceito de soft power, introduzido por Joseph Nye, refere-se à capacidade de um país influenciar outros através de meios culturais, ideológicos e diplomáticos, ao invés de força militar ou coerção econômica. As potências globais utilizam o soft power para moldar percepções e fortalecer sua posição no cenário internacional.

Os Jogos Olímpicos da Era Moderna foram idealizados pelo francês Pierre de Coubertin e realizados pela primeira vez em 1896, em Atenas. Inspirado pelos Jogos Olímpicos da Antiguidade, que ocorriam na Grécia entre 776 a.C. e 393 d.C., Coubertin viu no esporte uma ferramenta para promover a paz e a compreensão entre as nações. Na Grécia Antiga, as Olimpíadas serviam como uma trégua entre as cidades-estado em guerra, permitindo que os atletas competissem em honra aos deuses. Coubertin desejava que os Jogos Modernos tivessem um impacto similar, unindo países em um espírito de competição saudável e cooperação, um ideal que se alinha com o uso do soft power para promover valores e ideais pacíficos.

Atualmente, a China tem se destacado cada vez mais nas Olimpíadas, refletindo sua ascensão em diversos aspectos, incluindo o econômico, político e de soft power

Um exemplo notável de como as Olimpíadas refletem questões políticas globais é o escândalo de doping na Rússia. Em 2017, o documentário “Ícaro”, financiado em parte pelo governo dos EUA, expôs um esquema estatal de doping que envolvia atletas russos.

O documentário revelou como Grigory Rodchenkov, ex-diretor do laboratório antidoping de Moscou, ajudou a encobrir o uso de substâncias proibidas por atletas russos. As revelações levaram à suspensão da Rússia de várias competições internacionais, incluindo os Jogos Olímpicos, e prejudicaram significativamente a imagem do país no cenário global. Este episódio ilustra como o soft power pode ser utilizado para deslegitimar adversários políticos e influenciar a opinião pública internacional.

Atualmente, a China tem se destacado cada vez mais nas Olimpíadas, refletindo sua ascensão em diversos aspectos, incluindo o econômico, político e de soft power. Desde sua reentrada nos Jogos Olímpicos em 1984, após um longo período de ausência devido a questões políticas, a China investiu massivamente em programas de treinamento e infraestrutura esportiva.

Em 2008, ao sediar os Jogos Olímpicos de Pequim, a China não apenas liderou o quadro de medalhas, mas também utilizou o evento para demonstrar seu progresso econômico e capacidade organizacional. Este uso estratégico das Olimpíadas ajudou a fortalecer a imagem da China como uma potência emergente e a promover sua cultura e valores no cenário internacional.

As Olimpíadas representam muito mais do que uma competição esportiva. Elas são um palco onde questões políticas globais são ilustradas e onde potências globais exercem seu soft power. Desde sua criação, com o objetivo de promover a paz e a cooperação, até os dias atuais, onde escândalos de doping e a ascensão de novas potências refletem as dinâmicas políticas e econômicas globais, os Jogos Olímpicos continuam a ser um evento de grande importância geopolítica. Eles nos lembram que o esporte pode ser uma poderosa ferramenta de influência e que as competições atléticas são, muitas vezes, um reflexo das complexas relações internacionais.

Escrito com Sara Nadur Ribeiro

Maurício Munhoz Ferraz é sociólogo e professor. Atua atualmente como assessor do conselheiro Sérgio Ricardo na presidência do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Foi superintendente federal de Agricultura e Pecuária no Estado de Mato Grosso, ocupou o cargo de secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso em 2022. Trabalhou também como consultor, diretor de pesquisas da Fecomércio-MT e professor de economia da Unemat. Tem mestrado em sociologia, é vice-presidente da Câmara de Comércio Brasil-Rússia,  membro do projeto governança metropolitana do Instituto de Pesquisa Economia Aplicada do Governo Federal (IPEA), vencedor do Prêmio Celso Furtado de economia e escreve nesta coluna com exclusividade aos sábados. E-mail: mauriciomunhozferraz@yahoo.com.br

FONTE: RDNEWS

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