Como advogada que acompanha as eleições da OAB há décadas, tenho testemunhado um teatro político que se repete a cada ciclo eleitoral. A peça em cena é a tentativa desesperada dos velhos caciques da OAB de se manterem no poder, mesmo quando parecem abrir espaço para novos rostos. A verdade, porém, é que as peças mudam, mas os verdadeiros donos do jogo seguem intocados nos bastidores, manipulando as marionetes que colocam na linha de frente.
A mais recente encenação envolve nomes conhecidos por todos: Xênia, Gisela, Leo Capataz e Faiad. A narrativa de “racha” no grupo que dominou a OAB nos últimos 10 anos é, na verdade, uma cortina de fumaça. Xênia, que durante toda a gestão de Gisela foi uma fiel aliada, agora surge como a “oposição”. Mas será que quem esteve ao lado de Gisela durante tanto tempo, compartilhando das mesmas decisões, pode ser chamada de renovação? Ou isso é mais uma tentativa de apagar o passado?
Vejamos os fatos. Xênia esteve ao lado de Gisela por mais de uma década, sendo parte integrante de todas as decisões da gestão atual. Nunca manifestou sua oposição enquanto as portas do poder estavam abertas para ela. Pelo contrário, aceitou tudo o que foi determinado, sendo uma mera extensão dos desejos de Gisela, Capataz e Faiad. Agora, com a candidatura, tenta se descolar do passado, apagar sua história de alinhamento e se apresentar como a nova face da advocacia. Mas por que não vem a público mostrar de forma clara o que levou a esse “descolamento”? Será que os motivos não são “confessáveis”? Esse silêncio é revelador.
E quanto a Leo Capataz? Por que ele, um dos maiores apoiadores de Gisela e Xênia, está escondido, sem sequer aparecer nas campanhas ao lado de sua pupila? Será que teme que sua presença prejudique a “imagem de renovação” que Xênia tenta desesperadamente construir? Sabemos que Capataz e Faiad carregam um desgaste enorme junto à classe, e a estratégia agora é tentar vender a ideia de que Xênia é a ruptura. Mas ruptura de quê, se nem sequer explicam os motivos reais desse suposto racha?
A verdade é que estamos diante de uma tentativa descarada de manipular a percepção dos advogados. Um jogo de cadeiras em que os verdadeiros donos permanecem ocultos, enquanto as marionetes continuam seguindo as ordens. A advocacia merece saber a verdadeira história, os bastidores desse teatro de dissimulação.
Xênia e Gisela agora se posicionam a primeira como “renovação” e a segunda como “vítima recém libertada de antigos caciques, donos da OAB, que não a deixavam tomar decisões “. Mas como é possível uma renovação surgir das mesmas pessoas que sempre estiveram no controle de tudo e nada fizeram de consistente pela advocacia? Como é possível aceitar que a atual Presidente tenha se submetido durante tantos anos a esses “opressores” ou “vilões” sem se manifestar? A advocacia, mais do que nunca, exige honestidade e transparência de seus líderes, que devem ser destemidos e não submissos a líderes, caciques, governos, nem tribunais. Chega de discursos pagos e narrativas produzidas por equipes de marketing milionárias que apenas escondem o continuísmo e a falta de novas ideias.
Os advogados e advogadas merecem a verdade. Precisam enxergar que o que está sendo vendido como novidade é apenas mais uma manobra para manter o poder nas mãos daqueles que sempre estiveram no controle. A renovação não pode vir de quem faz parte do passado que tenta criticar.
É hora de desmascarar essa farsa e mostrar que, por trás das aparências, nada mudou. A advocacia exige autenticidade, e essa renovação fabricada não passa de um ciclo vicioso, onde as peças mudam de lugar, mas o roteiro segue o mesmo.
Luciana Castrequini é Advogada há 20 anos em Rondonópolis/MT
FONTE: Folha Max