Vitória de Trump nos EUA é péssima notícia para Lula e cria “embaraço”, diz analista
Para Ricardo Ribeiro, analista político das consultorias MCM e LCA, relações entre Brasília e Washington tendem a ser, “na melhor das hipóteses”, protocolares
Marcos Mortari
A confirmação da vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, na manhã desta quarta-feira (6), representa uma “péssima notícia” para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na avaliação do cientista político Ricardo Ribeiro, das consultorias MCM e LCA.
Para o especialista, Lula assumiu um risco relevante ao tornar pública sua nada surpreendente torcida pela candidatura da atual vice-presidente Kamala Harris, do Partido Democrata. O episódio, avalia, trouxe riscos de criar uma espécie de “embaraço diplomático”, mesmo com o reconhecimento do resultado e dos cumprimentos feitos pelo mandatário brasileiro a Trump nas redes sociais.
Bolsonaro parabeniza “amigo” Trump e pede que Brasil siga mesmo caminho
Em longo texto publicado no X nesta quarta-feira, Bolsonaro chamou Trump de “amigo”, disse que a vitória do republicano, ainda não confirmada oficialmente, foi “épica”
“Ao tornar pública sua posição, Lula se arriscou a, no mínimo, criar um clima de embaraço diplomático em caso de vitória de Trump ─ o que acabou ocorrendo”, disse o especialista em análise distribuída a clientes.
Em mensagem publicada em sua conta oficial do X (antigo Twitter), Lula afirmou que a democracia “deve ser respeitada” e desejou sorte ao republicano.
Na avaliação de Ribeiro, embora a tendência seja de o governo brasileiro trabalhar para manter a normalidade das relações diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos, as expectativas podem não ser tão favoráveis.
“As relações entre os dois governos tendem a ser, na melhor das hipóteses, protocolares. No pior cenário, serão tensas. O grau de animosidade dependerá mais do governo Trump do que do governo Lula, a quem não interessará alimentar atritos com os Estados Unidos”, observou.
Reeleito, Trump promete choque na economia: o que está por vir para os EUA e o mundo?
As propostas de Trump geram expectativas quanto ao crescimento econômico dos EUA, mas também suscitam receios quanto à estabilidade financeira global; entenda as principais propostas ponto a ponto
Para o especialista, o retorno de Donald Trump à Casa Branca também terá impactos, ainda que indiretos, na política doméstica brasileira, soprando ventos em direção ao campo da direita e de uma agenda conservadora.
“Assim como é o caso da eleição municipal, a vitória de Trump não terá efeito direto sobre o cenário da eleição presidencial de 2026 no Brasil. Porém, como ocorreu com a eleição municipal, o sucesso de Trump reitera a força política contemporânea da direita e da agenda conservadora. E ajuda a criar um clima de animação para a direita e de apreensão para a esquerda”, avaliou.
Outro ponto levantado por Ribeiro é a maior proximidade da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com Trump e seu entorno, o que, a seu ver, será potencial fonte de “embaraço e ruídos” nas relações entre Brasília e Washington a partir de 2025. Soma-se a isso a importante participação do bilionário Elon Musk, com quem a atual administração brasileira alimenta animosidade, na campanha republicana.
No campo das relações internacionais, a expectativa do especialista é de que Trump ajude a turbinar governos e figuras de direita ─ o que seria boa notícia para Bolsonaro e o atual presidente da Argentina, Javier Milei, principal antípoda de Lula no continente.
Ribeiro também espera que um novo mandato de Trump enfraqueça as instituições multilaterais, prestigiadas pela diplomacia brasileira. O mesmo vale para a agenda ambientalista e de combate à crise climática, na qual a atual administração brasileira buscava ocupar posição de destaque.
“Ou seja, com Trump na Casa Branca, o Brasil, especialmente durante o governo Lula, ficará ainda mais escanteado internacionalmente. Enfim, havia mesmo muitas razões para Lula torcer pela vitória de Kamala”, concluiu.