Segundo maior produtor de madeira nativa do Brasil, Mato Grosso enfrenta dificuldades para despachar sua produção para o exterior devido à lentidão na liberação de contêineres carregados no Terminal Portuário de Paranaguá (PR), onde as indústrias madeireiras deixam suas cargas aguardando liberação para serem levadas para os navios com destino internacional.
“O Terminal de Paranaguá, no Paraná, é o principal porto para o qual nós enviamos os produtos de exportação. Toda madeira de exportação chega no terminal e fica em contêineres nos armazéns de retaguarda, no entorno da estrutura portuária. O produto tem que passar por um processo de emissão de licença, que é feito pelo Ibama. O Ibama faz as análises ambientais e emite a licença, que demora em média 30 dias. O grande gargalo nosso está aí, dentro do próprio terminal portuário, que não está conseguindo atender essa demanda”, explica Ednei Blasius, presidente do Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (Cipem-MT).
Reprodução/Fiemt
Ednei Blasius, presidente do Cipem-MT
Ednei explica que o ciclo da exportação da madeira começa com o manejo florestal e segue com o transporte do produto em caminhões até as indústrias madeireiras, onde a tora é transformada em madeira serrada. Com a documentação de custódia, a madeira beneficiada sai nas carretas pela BR-163 e segue para o Porto de Paranaguá (PR) citado por ele, onde o produto fica em contêineres nos armazéns de retaguarda. No entanto, esse ciclo está sendo atrasado e os empresários tem sofrido grandes prejuízos. Isso porque o tempo de análise e emissão das licenças tem demorado muito mais que os 15 dias que os empresários têm de prazo médio para a madeira permanecer no armazém de retaguarda gratuitamente. Após esse prazo, são cobradas taxas exorbitantes.
“Os prestadores de serviço estão cobrando essas taxas dos empresários por uma ineficiência do terminal. Essa taxa está vindo, U$ 2 mil, U$ 3 mil dólares ou até mais, dependendo do tempo que fica ali. Fora que perdemos a demanda da janela, deixamos de cumprir prazo com os fornecedores. Temos casos de exportador perder o contrato com cliente por não conseguir entregar o produto no prazo. O Terminal está um caos”, relata Ednei.
“Temos casos de exportador perder o contrato com cliente por não conseguir entregar o produto no prazo”
Ednei Blasius, pres. do Cipem-MT
O presidente do Cipem relata que esse não é um problema de agora, e que o reduzido contingente de técnicos do Ibama nos portos marítimos tem prejudicado o setor desde o início do ano. Em julho deste ano, servidores federais do órgão fizeram uma paralisação nacional que durou 40 dias, ocasionando acúmulo de cargas paralisadas. Mesmo três meses depois do fim da paralisação, as indústrias madeireiras continuam sentindo impactos negativos com a lentidão da emissão das licenças e contêineres paralisados.
O cenário caótico no porto impacta de forma significativa na indústria madeireira, principalmente no Nortão de Mato Grosso e em alguns municípios onde o produto é a principal fonte de receita e geração de emprego, como Apiacás, Nova Bandeirantes, Colniza e Aripuanã.
Gabriela Carvalho/Cipem

A indústria madeireira está em 44 municípios mato-grossenses, mas a produção em geral é oriunda de 75 municípios. No ano passado, foram produzidos 2,1 milhões de metros cúbicos (m3) de madeira em tora, avaliados em R$ 498,1 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Neste ano foram gerados cerca de 11 mil empregos direto, somente nas indústrias madeireiras nessas regiões. Com mais de 40 tipos espécies de madeiras, Mato Grosso exporta para os países da União Europeia, Estados Unidos, China, Índia, Coreia do Norte, República Dominicana e México.
“Apesar do potencial, a nossa representação de exportação em relação a importação ainda é pequena e por isso precisamos melhorar a logística. Neste ano, participamos de uma feira na França de 28 empresários, 15 conseguiram novos contratos. Mas não adianta termos demanda e não termos como enviar o produto para esses países, por isso precisamos resolver esses gargalos”, pontua Ednei.
“Temos grandes distâncias até os portos para exportar, chegando aos portos, temos tarifas absurdamente altas em relação ao resto do país”
Gustavo Oliveira, pres. da Fiemt
Para o presidente em exercício da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), Gustavo Oliveira, precisam ser resolvidos muitos gargalos logísticos, principalmente no interior do Estado. “Temos grandes distâncias até os portos para exportar, chegando aos portos temos tarifas absurdamente altas em relação ao resto do país, tempo de permanência nos portos gigantesco, não só por ineficiência logística, mas por exemplo, este ano, pela greve dos fiscais do Ibama. Muitos empresários perderam produtos ou pagaram mais de armazenamento do que o valor do produto que estava lá”, exemplifica.
Alternativas e novas rotas
O Cipem e a Fiemt têm discutido alternativas para resolver o problema. A mais viável, segundo as entidades, é a estruturação e internacionalização do Porto Seco, em Cuiabá, para que a burocracia, análises ambientais e emissões de licenças sejam feitas na Capital. Desta forma, o contêiner já sai daqui pronto para ir para o navio.
“Assim iríamos eliminar todo esse entrave que está sendo causado na região Sul. Nesse caso não depende só de Porto Seco, mas dos entes envolvidos na cadeia da madeira nativa, principalmente o Ibama. O que queremos é conseguir trabalhar junto aos órgãos ambientais”, diz o presidente do Cipem.
Rodinei Crescêncio

Gustavo Oliveira, presidente em exercício da Fiemt
Gustavo Oliveira defende a internacionalização da economia de Mato Grosso como o meio mais eficaz de desenvolvimento e mitigação destes gargalos.
“Estamos trabalhando para desenvolver alternativas para poder exportar a partir daqui de Mato Grosso. Temos o Porto Seco, temos a Zona de Processamento de Exportação, a ZPE, em Cáceres, nós temos demais recintos alfandegados, não só para exportar através desses recintos, como também para importar. Para que possamos trazer mercadoria de outros países e pagar os tributos, todas as taxas de importação aqui dentro do Estado de Mato Grosso, e não em Santa Catarina ou São Paulo, como acontece na maior parte do tempo”, esclarece.
O presidente da Fiemt afirma também que uma ligação com a Bolívia é fundamental. “Há 200 milhões de consumidores aqui nesse mercado andino, que hoje não tem uma rodovia pavimentada de Mato Grosso que chegue até os principais portos, principalmente do Pacífico, aqui na América do Sul. Mato Grosso do Sul já tem uma ferrovia que sai de Corumbá, atravessa todo o oeste da América do Sul e chega aos principais portos de exportação, isso reduz a distância para a China, traz uma certa vantagem. Nós precisamos dessa ligação com o Pacífico também, aqui pela Bolívia, que é o país vizinho”, pontua.
FONTE: RDNEWS







