terça-feira, janeiro 7, 2025

Esgoto jogado no mar pode ser a causa do surto de virose no litoral

 

A contaminação do mar de Guarujá, no litoral de São Paulo, possivelmente causada pelo escoamento de esgoto clandestino nas águas da cidade pode ser a origem do aumento exponencial de casos de virose nas cidades da Baixada Santista, segundo a prefeitura. Os casos vêm registrando alta desde dezembro, com o início da temporada de verão.

A Prefeitura de Guarujá informou ter notificado a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) sobre a possibilidade de vazamentos e ligações clandestinas de esgoto na região da Enseada, que poderiam ter ocasionado o aumento no número de pessoas doentes.

As viroses geralmente afetam o trato gastrointestinal [sistema digestivo], provocando sintomas como diarreia, náuseas, vômitos, cólicas e febre. A duração pode variar de um dia a uma semana, e a desidratação pode ser classificada como leve, moderada ou severa (leia mais abaixo sobre a doença).

Enquanto diz aguardar respostas da Sabesp sobre o caso, a administração municipal ressaltou que foram coletadas amostras da água na Praia da Enseada. Agora, segundo a prefeitura, cabe esperar o resultado dos testes encaminhados ao Instituto Adolfo Lutz para tentar esclarecer a origem dos casos de gastroenterocolite aguda.

Em nota, a Sabesp informou que adotou as medidas para verificar as solicitações da prefeitura e prestou os esclarecimentos necessários à Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Ao mesmo tempo que a empresa disse monitorar o sistema de esgotamento sanitário da Baixada Santista, citou uma outra eventual causa para o aumento de casos de virose: “Cabe destacar que as fortes chuvas podem sobrecarregar o sistema devido à entrada irregular de água pluvial, já que o sistema não foi projetado para essa finalidade”.

Casos explodiram: hospitais lotados e farmácias zeradas

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Na cidade de Guarujá, por exemplo, várias pessoas se dirigiram às unidades de saúde relatando o problema entre o fim do ano e o início de janeiro. As unidades de saúde estão lotadas e nas farmácias as pessoas já têm dificuldades para encontrar medicamentos usados no controle dos sintomas.

Confira abaixo dados que reforçam a alta de casos de virose entre os dias 1º e 31 de dezembro nas cidades da Baixada Santista. as informações foram enviadas ao g1 pelas prefeituras da cidade.

Bertioga: O Hospital Municipal da cidade registrou 300 casos de virose;

Cubatão: Em janeiro, a cidade registrou 184 atendimentos nas unidade de saúde. A prefeitura não divulgou os dados de dezembro.

Guarujá: Foram 2.064 atendimentos nas unidades de Pronto Atendimento, sendo que o município registrou 1.457 em novembro;

Itanhaém: Foram registrados 790 casos.

Mongaguá: Houve um aumento de 10% no Pronto-Socorro Central e 15% no Hospital da cidade. A prefeitura não informou o número de casos;

Peruíbe: A administração municipal não informou a quantidade de notificações de virose, mas afirmou que não teve um aumento;

Praia Grande: A prefeitura informou que as unidades de saúde estão realizando atendimentos de pacientes com virose com maior frequência nos primeiros dias no ano. Mas, de acordo com a administração municipal, não foi necessário contabilizar os casos porque a cidade não está em cenário de surto.

Santos: Teve 2.264 atendimentos nas três UPAs em dezembro. Nos primeiros dias do ano, já foram 273.

São Vicente: Foram registrados 1.754 casos. Em novembro, tiveram 1.657. A prefeitura disse que não teve superlotação e falta de analgésicos e antitérmicos nas farmácias da cidade.

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De acordo com a Prefeitura de Guarujá, tanto a UPA Enseada como o PAM Rodoviária tiveram aumento de infraestrutura para que os pacientes possam receber o soro intravenoso. Desde a última sexta-feira, as unidades contam com o reforço de mais um médico e um enfermeiro.

Já as unidades da família dos bairros Jardim dos Pássaros, Vila Rã e Cidade Atlântica, que faziam apenas atendimento eletivo das 7h às 17h, agora estão abertas até as 22 horas sem a necessidade de agendamento de consultas.

As prefeituras de Guarujá, Santos, Bertioga, Mongaguá e Peruíbe explicaram que as notificações de viroses não são obrigatórias para o Ministério da Saúde. Por isso, o levantamento foi feito com base no número de atendimentos relacionados à doença nas unidades de saúde dos municípios. Itanhaém não respondeu sobre o vazamento na praia.

Turistas ignoram surto

O surto de virose que atinge a Baixada Santista, no litoral de São Paulo, não impediu que turistas visitem a praia neste início de ano. Mesmo com o aumento dos casos na região, 123.251veículos seguiram para o litoral entre 0h de sexta-feira (3) e 12h deste sábado (4) . A informação é da Ecovias, que administra o Sistema Anchieta-Imigrantes.

Virose

Ao g1, o infectologista Leandro Curi explicou que vírus são transmitidos pelo ar, pela água ou alimentos contaminados. A água, por exemplo, é um local propício para esses agentes infecciosos por ser de fácil acesso ao ser humano. “Pode estar na água do rio, do mar, na água que a gente bebe”, disse ele.

Ele ressaltou que o termo “virose” é utilizado popularmente para designar várias doenças, mas define somente as causadas por vírus. Segundo o especialista, é comum que doenças causadas por bactérias apareçam no esgoto. Um exemplo é a cólera, tipo de gastroenterite bacteriana. Assim como elas, os vírus também podem estar presentes nesse ambiente.

Curi explicou que, no caso dos sintomas que têm sido observados na Baixada Santista, é menos provável que o vírus esteja contaminando pelo contato com a pele. “A gente acredita que seja mais da ingesta dessa água ou no uso dessa água para higienização de alimentos ou hidratação direta”, disse.

Como prevenir?

O governo estadual divulgou medidas preventivas a serem adotadas para evitar a Doença de Transmissão Alimentar (DTA) no verão, quando há grande concentração de turistas por conta das festas de fim de ano e férias escolares. Veja:

Evite alimentos mal cozidos;

Mantenha os alimentos bem refrigerados, com atenção especial às temperaturas dos refrigeradores e geladeiras dos supermercados onde os alimentos ficam acondicionados;

Leve seus próprios lanches durante passeios ao ar livre;

Observe bem a higiene de lanchonetes e quiosques;

Lave as mãos antes de se alimentar;

Tenha atenção redobrada com comidas em self-service;

Beba sempre água filtrada;

Não consuma gelo, “raspadinhas”, “sacolés”, sucos e água mineral de procedência desconhecida.

Também é importante prestar atenção à balneabilidade das praias – que define se o mar está próprio ou não para o banho. O boletim divulgado na quinta-feira (2) indica que, das 175 praias monitoradas no litoral, 38 apresentam condição imprópria. Confira no site da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).

FONTE: Folha Max

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