Rodinei Crescêncio/Rdnews
Em uma sessão, um líder me disse:
— Sabe uma coisa que eu reparei, mas ainda não encontrei lógica? Existem algumas situações problemáticas na empresa em que mudamos as pessoas, mas os problemas continuam os mesmos. Tiramos o Marcos, que achávamos ser o “problema-alvo”. Sai o Marcos, entra a Tereza, e, depois de um tempo, o problema persiste. E assim seguimos com os “paredões” — sorriu, comparando aos paredões do reality show Big Brother, onde os participantes eliminados passam pelo processo de votação do público. — Ah — ele prosseguiu — e antes que você diga que o problema pode estar nos processos ou na tecnologia, já adianto que esses aspectos são altamente desenvolvidos aqui na empresa. O problema que estamos enfrentando é de outra natureza.
— Problemas comportamentais? — perguntei.
“Digamos, metaforicamente, que precisamos colocar a empresa no divã”
Cynthia Lemos
— Isso! — respondeu ele. — Mas é estranho, porque parece que algo externo impacta internamente essas pessoas, que, durante a entrevista ou quando passam por promoções internas, não apresentavam esses comportamentos antes. É curioso. Depois de algumas substituições, mudanças de processos, alteração de salas e de gestores, eu sei, com convicção, que não se trata mais de trocar pessoas. Tem algo a mais aí.
— Sim, digamos, metaforicamente, que precisamos colocar a empresa no divã — comentei, rindo, pois já sabia do que se tratava.
Ele sorriu e me olhou, curioso.
— Roberto — chamei-o pelo nome —, o problema aqui chama-se cultura disfuncional. Nas empresas, ela é como as ervas daninhas de um jardim: sempre existe e precisa ser controlada. São pragas que, sem a devida manutenção, crescem e tomam conta, desconfigurando a naturalidade e a beleza do ambiente. Algumas pragas precisam ser cortadas pela raiz, porque só assim conseguimos manter a vitalidade local e evitar incidentes mais graves.
— Esse exemplo que você mencionou provavelmente é um desses casos. Quando uma área troca pessoas mais de duas ou três vezes e o problema persiste, pode haver falta de clareza sobre a cultura desejada. Nesse contexto, será necessário fazer a manutenção do “jardim”: eliminar as pragas, redesenhar a cultura e blindar as áreas de fragilidade, protegendo-as. É preciso demarcar cada ponto com clareza de valores e objetivos, como um jardim bem definido, com tipos, características e beleza que saltam aos olhos.
A cultura desejada de uma empresa deve ser expressada diariamente, tanto em discursos quanto em comportamentos. Ela precisa orientar as pessoas sobre como se desenvolver, crescer e prosperar naquele ambiente.
Cynthia Lemos é psicóloga e empreendedora; fundadora da Grandy Psicologia Empresarial e escreve neste espaço quinzenalmente às quintas-feiras
FONTE: RDNEWS