sexta-feira, janeiro 24, 2025

Em nota, CRM-MT diz que Abílio tenta “criminalizar médicos”

O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT) criticou em nota, divulgada nesta quinta-feira (23), o prefeito de Cuiabá, Abilio Brunini (PL), e o acusou de tentar “criminalizar os médicos”

 

As UBSs não foram feitas para o atendimento de urgências e emergências, e que a população tome conhecimento

A nota é uma resposta a um vídeo publicado por Abilio nas redes sociais em que ele afirma que trocará equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) que se recusem a pacientes de classificação verde (veja abaixo).

 

No vídeo, ele disse que a Policlínica do Pedra 90 estaria lotada de pacientes da classificação considerada mais leve, enquanto o posto de saúde do bairro, localizado ao lado, estaria praticamente vazio.

 

Em nota, o CRM rebateu as cobranças de Abilio e afirmou que as UBSs não tem estrutura para atender pacientes de classificação verde. Segundo a entidade, nessas unidades só são realizados atendimentos com consulta previamente marcadas, e não casos de urgência ou emergência.

 

“Há grandes diferenças entre Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Policlínicas. As UBSs não foram feitas para o atendimento de urgências e emergências, e que a população tome conhecimento que não tem nenhuma estrutura para isso”, consta na nota.

 

“Usando como exemplo a iniciativa privada, elas funcionam como o consultório do médico, enquanto as UPAs são os Pronto-Atendimentos dos hospitais. Quando alguém tem dor, febre, vômitos e outros sintomas, esta pessoa não liga para marcar uma consulta, ela vai ao Pronto-Atendimento”.

 

O conselho ainda classificou como “irresponsável” a cobrança de Abilio sobre a quantidade de atendimentos diários realizados e afirmou que há subnotificação por conta do sistema da Prefeitura. No vídeo, o prefeito diz que são realizados somente 10 atendimentos por dia.

 

“Ao criminalizar e, inclusive, ameaçar os profissionais de saúde de demissão, o prefeito tenta imputar a estas pessoas a situação caótica do sistema como um todo e, como em outros episódios, tenta criar uma cortina de fumaça, vendendo a ilusão de que um problema tão complexo possui uma solução simples”. 

 

“O comportamento do prefeito, inclusive, contribui para o aumento no número de casos de violência contra médicos, verificado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Em média, um profissional é vítima de violência a cada três horas, considerando apenas os casos em que Boletins de Ocorrência foram lavrados”. 

 

Por fim, o conselho afirmou que, caso haja episódios de violência física ou verbal contra algum médico após a publicação de Abilio, irá responsabilizá-lo pelo ocorrido. 

 

O vídeo

 

No vídeo, Abilio diz  que a Policlínica do Pedra 90 estaria lotada de pacientes da classificação considerada mais leve, enquanto o posto de saúde do bairro, localizado ao lado, estaria praticamente vazio.

 

“Estou assistindo aqui, nas câmeras, a situação da Policlínica do Pedra 90 e do Posto de Saúde do lado da Policlínica do Pedra 90. Estão desfocadas as imagens, mas a Policlínica do Pedra está lotada! Lotada! Enquanto no posto de saúde tem três pacientes esperando atendimento”, disse ele.

 

Se o posto de saúde não atender classificação verde, vamos trocar essas equipes

“A classificação da maioria desses pacientes da policlínica do Pedra é classificação verde. O posto de saúde poderia estar atendendo. No Pedra 90 tem três equipes em cada um desses dois postos de saúde. Não tem justificativa para o posto de saúde estar vazio e a policlínica lotada”.

 

Em seguida, Abilio pede que os secretários-adjuntos de Atenção Primária e Secundária à Saúde façam uma fiscalização nas unidades e cobra que sejam feitos os atendimentos, caso contrário, ele iria trocar os médicos.

 

“Então, já estou pedindo: secretário-adjunto de [atenção] primária, secretário-adjunto de [atenção] secundária, vá e fale com esses postos de saúde. Se o posto de saúde não atender classificação verde, vamos trocar essas equipes”.

 

“Não podemos deixar as UPAs e policlínicas lotadas e as unidades básicas de saúde vazias. Não vou aceitar isso. A média de atendimento nas unidades básicas de saúde é de dez pessoas por dia nos consultórios médicos. Não podemos aceitar isso”. 

 

Veja o vídeo:

 

 

 

Leia a nota do CRM:

 

NOTA DE ESCLARECIMENTO

 

Diante de mais uma tentativa, por parte do prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini, de criminalizar e imputar a responsabilidade pelo caos vivido no Sistema de Saúde da Capital aos médicos, o Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT) vem a público esclarecer que:

 

– Há grandes diferenças entre Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Policlínicas. As UBSs não foram feitas para o atendimento de urgências e emergências, e que a população tome conhecimento que não tem nenhuma estrutura para isso . Usando como exemplo a iniciativa privada, elas funcionam como o consultório do médico, enquanto as UPAs são os Pronto-Atendimentos dos hospitais. Quando alguém tem dor, febre, vômitos e outros sintomas, esta pessoa não liga para marcar uma consulta, ela vai ao Pronto-Atendimento;

 

– Ao dizer que os pacientes classificados nas UPAs e policlínicas com classificação de risco verde, o prefeito dá a entender que estas pessoas poderiam ser atendidas nas UBSs, o que não é verdade e para que a população tenha conhecimento nem ambulância de transporte tem . Essa postura do prefeito tem levado pacientes com problemas mais graves às unidades, colocando em risco a vida destas pessoas. Embora sejam menos prioritários que aqueles com classificação vermelha ou amarela, estes casos também demandam cuidados na própria UPA;

 

– Ao longo dos anos, a Atenção Primária passou por um verdadeiro desmonte e, hoje, as UBSs não possuem estrutura adequada para tratamento dos pacientes. Foi retirado do médico até mesmo o direito da emissão da Autorização de Internação Hospitalar (AIH). A população, que busca uma UBS sabe que o médico que atende nesta unidade conta apenas com uma caneta e com o bloco de receituário médico e que os exames pedidos não serão feitos, ou serão feitos após um, dois e até mesmo três anos;

 

– Sem nenhuma condição de atendimento, o que se vê é uma baixa taxa de resolutividade. Quem busca a UBS e tem o encaminhamento para a realização de um exame de imagem, por exemplo, leva, com sorte, mais de um ano para fazer o procedimento. O Conselho lamenta que, até o momento, não há nenhuma movimentação por parte da Prefeitura em contratar empresas para a realização destes exames. É justamente por não conseguir solucionar os problemas de saúde dos pacientes que as UPAs estão lotadas;

 

– Falando justamente do caso do Pedra 90, a realidade é que as UBSs 3 e 4 do bairro estão em reforma há pelo menos 8 anos, obra ainda não foi concluída. Isso sem contar a autorização para a criação de mais 100 equipes de Atenção Primária cuja efetivação até o momento não ocorreu no município;

 

– Do mesmo modo, é necessário que haja a compreensão de que uma consulta em uma UBSs é diferente de um atendimento em uma UPA. Comparar, quantitativamente, o número de pacientes atendidos como forma de medir a produção médica é irresponsável. Além do mais, muitas das consultas feitas em uma UBSs acabam sem registro no sistema por falhas do software utilizado pela Prefeitura de Cuiabá;

 

– Ao criminalizar e, inclusive, ameaçar os profissionais de saúde de demissão, o prefeito tenta imputar a estas pessoas a situação caótica do sistema como um todo e, como em outros episódios, tenta criar uma cortina de fumaça, vendendo a ilusão de que um problema tão complexo possui uma solução simples. O comportamento do prefeito, inclusive, contribui para o aumento no número de casos de violência contra médicos, verificado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Em média, um profissional é vítima de violência a cada três horas, considerando apenas os casos em que Boletins de Ocorrência foram lavrados. O CRM-MT alerta que responsabilizará o prefeito caso ocorram ameaças injúria, difamação, agressões e outros crimes praticados contra os médicos na rede pública de Saúde;

 

– Por fim, o CRM-MT seguirá atento e cobrando medidas que efetivamente solucionam a causa principal desta situação, a falta de estrutura, organização, recursos e investimentos.



FONTE: MIDIA NEWS

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