O ano era 1990, quando Richard Sandrak, conhecido como “o menino mais forte do mundo”, ganhou notoriedade mundial. À época, o físico do garoto chamou tanta atenção que ele passou a frequentar programas de televisão e competições internacionais. Ícones do cinema, Arnold Schwarzenegger e Lou Ferrigno, protagonista de O Incrível Hulk, ficaram surpresos com o corpo escultural do menino.
Em 2005, sua rotina foi documentada no filme O Menino Mais Forte do Mundo, que mostrou os rigorosos treinos e a dieta restritiva imposta pelo pai, o campeão de artes marciais, Pavel Sandrak. Mas, o que ninguém poderia imaginar é que a infância do ‘garoto de sucesso’ era marcada por abusos físicos e psicológicos. Hoje, aos 32 anos, ele rompeu o silêncio em entrevista ao jornal britânico Metro e detalhou os traumas causados pelo pai.
Richard relatou que, por trás da notoriedade, havia muito sofrimento. “Quando as pessoas falam em memórias de infância, geralmente se lembram de algo positivo. Eu não consigo me identificar”, contou.
Filho de Pavel Sandrak e da ginasta Lena Sandrak, Richard nasceu na Ucrânia, mas foi para os Estados Unidos com os pais ainda pequeno. Aos cinco anos, ele começou a ser submetido a treinos diários de musculação e artes marciais. Aos oito, já levantava no supino um peso três vezes maior que o próprio corpo.
O rapaz ainda relata que era submetido a treinamentos intensos de até 12 horas seguidas, muitas vezes, com acessos de ira, que tornavam os exercícios “sessões de tortura”. “Aprendi desde cedo a nunca pedir para parar. Só podia aguentar e obedecer”, revelou.
E a infância dele não foi marcada apenas pelos abusos físicos, mas também pelas restrições alimentares. Na época, ele era proibido de consumir alimentos considerados comuns na fase infantil como, por exemplo, guloseimas. Richard era obrigado a seguir uma dieta rigorosa e, inclusive, era orientado a fazer agachamentos enquanto assistia TV com o objetivo de manter a forma.
Os abusos foram cessados em 2023, quando Pavel Sandrak foi preso por violência doméstica contra a esposa e deportado para a Ucrânia. Aos 16 anos e livre do pai, Richard abandonou o fisiculturismo e se dedicou a outros esportes, como natação, basquete e skate. “Musculação se tornou uma espécie de transtorno pós-traumático para mim”, afirmou ele, revelando que nunca mais quis levantar peso.
Por conta dos longos anos de abusos e para amenizar as dores que ficaram no corpo e na alma, Richard passou a consumir bebidas alcoólicas e precisou enfrentar o alcoolismo. Hoje, restruturado e sóbrio, há um ano, o ‘ex-menino mais forte do mundo’ leva uma vida tranquila como gerente de loja e mora com a namorada e dois gatos. “Sou mais feliz com a vida que tenho hoje”, declarou.
Com relação ao pai, Richard declarou que ainda não conseguiu perdoá-lo. “Talvez o perdoe um dia, mas nunca vou esquecer o que ele fez comigo.”
FONTE: Folha Max