Rodinei Crescêncio/Rdnews
A relação entre sono e dor é uma via de mão dupla. Quem sofre com dores crônicas ou agudas frequentemente tem dificuldades para dormir. Por outro lado, noites mal dormidas aumentam a sensibilidade à dor, tornando-a ainda mais intensa e difícil de lidar. Esse ciclo vicioso compromete a qualidade de vida e pode gerar impactos na saúde física e mental. Por isso, tratar tanto a dor quanto os problemas do sono é essencial para uma recuperação eficaz e para o bem-estar geral.
Como o sono afeta a percepção da dor?
O sono tem papel fundamental na regulação da dor. Durante o sono profundo, o corpo libera hormônios responsáveis pela recuperação muscular, pelo controle da inflamação e pela regulação da sensibilidade nervosa. Quando o sono é insuficiente ou de má qualidade, ocorre um aumento da sensibilidade à dor, tornando qualquer desconforto mais difícil de suportar. Estudos indicam que uma única noite mal dormida já pode aumentar a percepção da dor, enquanto a privação crônica do sono pode levar ao desenvolvimento de condições dolorosas persistentes, como a fibromialgia e a dor lombar crônica.
Como a dor interfere no sono?
A dor, especialmente quando crônica, dificulta o relaxamento necessário para iniciar e manter um sono profundo e restaurador. Muitas pessoas com dor crônica relatam acordar várias vezes durante a noite, ter dificuldades para encontrar uma posição confortável para dormir e sentir fadiga ao acordar, mesmo após várias horas de sono. Além disso, a dor pode aumentar os níveis de estresse e ansiedade, o que leva à ativação do sistema nervoso e à liberação de hormônios que dificultam ainda mais o sono. Dessa forma, quem sofre com dores constantes pode acabar desenvolvendo um quadro de insônia, agravando ainda mais o problema e entrando em um círculo vicioso difícil de quebrar.
Como quebrar o ciclo?
A solução passa por um tratamento combinado da dor e do sono. Isso pode envolver: • Controle adequado da dor, com acompanhamento médico e, quando necessário, o uso de tratamentos analgésicos e terapias regenerativas.
• Melhoria dos hábitos de sono, aplicando estratégias de higiene do sono para melhorar a qualidade do descanso.
• Tratamento de condições emocionais como ansiedade e depressão, que podem piorar tanto a dor quanto os problemas de sono.
Higiene do sono: o que fazer para dormir melhor? A higiene do sono consiste em um conjunto de hábitos e práticas que favorecem um sono de qualidade. Seguir essas recomendações pode ajudar a reduzir a percepção da dor e melhorar a saúde geral.
Mantenha um horário regular de sono Ir para a cama e acordar sempre no mesmo horário, inclusive nos fins de semana, ajuda a regular o ritmo circadiano e melhora a qualidade do sono.
Evite estímulos eletrônicos antes de dormir Celulares, tablets e televisões emitem luz azul, que inibe a produção de melatonina, o hormônio do sono. O ideal é evitar telas pelo menos 1 hora antes de dormir.
Crie um ambiente adequado O quarto deve ser um local tranquilo, escuro e silencioso. Ajustar a temperatura para um nível confortável também é fundamental.
Invista em um colchão e travesseiro de qualidade Uma superfície inadequada pode piorar as dores e prejudicar o sono. Escolher um colchão que ofereça suporte adequado para a coluna e um travesseiro confortável pode fazer toda a diferença.
Evite cafeína e álcool à noite Cafeína, encontrada no café, chás e refrigerantes, pode atrapalhar o sono. O álcool, embora cause sonolência inicial, prejudica a qualidade do sono e aumenta os despertares noturnos.
Pratique atividade física regularmente Exercícios ajudam a melhorar a qualidade do sono e a reduzir dores musculoesqueléticas. No entanto, é importante evitar atividades intensas muito perto da hora de dormir.
Adote uma rotina de relaxamento Práticas como meditação, alongamento leve, banho morno ou leitura de um livro ajudam a desacelerar a mente e preparar o corpo para o descanso.
Evite sonecas longas durante o dia Dormir durante o dia pode dificultar o sono noturno. Se precisar descansar, limite a soneca a no máximo 30 minutos e evite dormir após as 16h.
Controle a alimentação noturna Refeições pesadas antes de dormir podem causar desconforto e refluxo. O ideal é optar por alimentos leves e evitar comidas gordurosas ou muito condimentadas.
Se acordar durante a noite, não fique rolando na cama Se não conseguir dormir em 20 minutos, saia da cama e faça uma atividade relaxante em ambiente com pouca luz até sentir sono novamente.
Quando procurar ajuda médica?
Se as dores e os problemas de sono persistirem, é fundamental buscar ajuda profissional. O tratamento pode envolver:
• Terapias para controle da dor, como fisioterapia, acupuntura, medicina regenerativa e terapia por ondas de choque.
• Avaliação da qualidade do sono, podendo incluir exames como a polissonografia. • Uso de medicamentos específicos, quando necessário, sempre com prescrição médica.
Conclusão
Sono e dor estão intimamente conectados. Para quem sofre com dores crônicas ou frequentes, dormir bem é essencial para a recuperação do corpo. Da mesma forma, melhorar a qualidade do sono pode reduzir a percepção da dor. Investir em hábitos saudáveis e buscar ajuda profissional são passos fundamentais para quebrar esse ciclo vicioso e garantir mais qualidade de vida.
Fellipe Ferreira Valle é formado em medicina pela Universidade de Medicina de Teresópolis -RJ, realizando posteriormente residência médica em ortopedia na Santa Casa de Belo Horizonte onde também realizou especialização em cirurgia do joelho e cirurgia do ombro e cotovelo. É também membro fundador da Sociedade Brasileira de Regeneração Tecidual e Socio efetivo da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Professor de medicina na UNIVAG e preceptor da residência de ortopedia da UNIC. Instagram :@dr.fellipe
FONTE: RDNEWS
