As mulheres são, pela primeira vez em cinco décadas, maioria em todas as grandes regiões do Brasil. As mulheres são mais escolarizadas que os homens, apesar de terem conquistado representatividade como gestoras, apenas 38% exercem cargos de liderança. Das 142 prefeituras de Mato Grosso, apenas 13 são administradas por mulheres. O estado tem a maior participação feminina nas Câmaras Municipais de sua história, das 1.404 vagas para vereador, 277 mulheres foram eleitas, cerca de 20% do total. Cuiabá elegeu 8 vereadoras. Há avanços aqui, retrocessos ou estagnação ali. Essa maioria da população brasileira, ainda sofre com agressões, ameaças, preconceitos, feminicídio e desigualdade salarial.
A história das mulheres foi, durante muito tempo, contada a partir do relato dos homens uma vez que a palavra era concedida somente a eles. Contam que no século XVII, havia uma crença sobre a mulher na sociedade francesa: “um animal imperfeito, sem fé, sem lei, sem medo, sem consistência”.
A incompletude citada e falta de autonomia da mulher seguiu sendo explorada pejorativamente, mesmo resguardando contexto histórico, por filósofos e sociólogos, como o francês Auguste Comte, que inicialmente descreveu as mulheres como seres biologicamente inferiores aos homens cuja missão natural era educar os filhos e zelar pelo lar para mais tarde, propor a transformação da humanidade a partir da educação das mulheres. Em Jean-Jacques Rousseau, a mulher tem mais espírito, o homem mais gênio, a mulher observa, o homem raciocina. Rousseau aconselhava que: “um deve ser ativo e forte, o outro passivo e fraco; para que um queira e possa, basta que o outro resista pouco.”
“A liberdade gozada pelas mulheres é o que é hoje porque o movimento feminista foi o que foi no passado”
Na introdução do livro O Segundo Sexo, a filósofa francesa, Simone de Beauvoir, cita o filósofo grego Aristóteles, para quem “a mulher é fêmea em virtude de certa carência de qualidades, devemos considerar o caráter das mulheres como sofrendo de certa deficiência natural”. O filósofo alemão Arthur Schopenhauer, arremata afirmando que “a mulher sofre de uma miopia intelectual que lhe permite, por uma espécie de intuição, ver de uma maneira penetrante as coisas próximas; mas o seu horizonte é limitado, escapa-lhe o que é distante”.
O tempo passou, a participação feminina começou a ganhar destaque em algumas esferas da vida em sociedade. Porém, Simone de Beauvoir, em 1949, abordou a posição secundária da mulher em relação ao homem na sociedade da época. Uma das frases mais marcantes do livro é: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, que serviu para a filósofa ilustrar que os papéis que associamos às mulheres não são dados a elas inerentemente, em virtude de sua biologia, mas são construídos socialmente, através de lutas e levantes diante da opressão que sofreram. As mulheres aprenderam o que devem ser na vida, que tipo de papéis podem ou não desempenhar.
Betty Friedan, jornalista e psicóloga americana escreveu “A Mística Feminina”, lançado em 1963, denunciando o vazio existencial da vida das mulheres, com a limitação de seus papéis sociais, o que deu início a uma fase radical do movimento de luta por direitos iguais entre homens e mulheres e o lançamento do livro reforçou o movimento de libertação das mulheres das amarras machistas. O livro causou forte impacto na discussão apaixonada sobre o papel das mulheres na sociedade moderna. Simone de Beauvoir e Betty Friedan são leituras imprescindíveis para se entender o contexto em que as lutas por oportunidades e reconhecimento aconteceram e para que as mulheres sigam vigilantes àquilo que tem direito, porque até aqui, quase nada foi oferecido e sim, fruto de conquistas.
A liberdade gozada pelas mulheres é o que é hoje porque o movimento feminista foi o que foi no passado. O que passou a médica e mulher admirável, ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, para do alto de sua experiência dizer que uma mulher na política, muda a mulher. Muitas mulheres na política, mudam a política.
O caminho está sendo pavimentado, com muitas mulheres interessantes ocupando espaços políticos. Uma deputada americana certa vez foi perguntada, com ironia por um colega parlamentar sobre a “incoerência” de ser mãe e deputada ao mesmo tempo, ao que ela respondeu: “Tenho um cérebro e um útero e sei usar os dois”. Quando uma mulher aspira um cargo político, a direção de uma empresa, a presidência de um país, ela o faz pelas mesmas razões que qualquer homem, porque ela entende e firmemente acredita que é capaz de executar bom trabalho.
FONTE: RDNEWS