Vereadora de primeiro mandato, a feirante Marilda Giraldelli, conhecida popularmente como Baixinha Giraldelli (Solidariedade), tem sua base política no bairro Pedra 90, onde fez quase dois mil dos seus 2.843 votos. Autêntica e polêmica, Baixinha é sem filtros e sem papas na língua.
Tem hora que penso ‘chega, isso não é para mim’. É muita pressão
Ao comentar sobre a CPI da CS Mobi, que foi aberta por colegas para investigar o contrato entre a Prefeitura e a empresa sobre o estacionamento rotativo na região central da Capital, Baixinha, que é a favor do rompimento do contrato, não demonstrou confiança em que a comissão efetivamente dê resultado.
Para ela, apesar da corrupção escancarada em alguns episódios da última gestão, dificilmente políticos “são punidos”.
“Rompe logo o contrato e pronto. Não é que ache que vai terminar em pizza [a CPI da CS Mobi], mas pode acontecer. Agora, como eu vejo a política em si, ninguém vai preso. Quem vai preso são os invisíveis que roubaram uma latinha de sardinha no mercado, mas o ‘paletó’, os que usam gravata, ninguém vai preso”, afirmou em entrevista ao MidiaNews.
No terceiro mês de mandato, Baixinha disse que sofre muita pressão pelo cargo e que já pensou em desistir.
Ela também comentou sobre algumas polêmicas em que já esteve envolvida nos últimos meses, como uma foto com um suposto membro de facção criminosa e um vídeo no carnaval de Balneário Camboriú, com o deputado estadual Faissal Calil.
Na entrevista, a vereadora ainda analisou os primeiros meses da gestão Abilio Brunini, o saldo da gestão Emanuel Pinheiro (MDB) e temas em alta nas discussões do Parlamento, como a extinção da Arsec.
Confira os principais trechos da entrevista (e a íntegra do vídeo abaixo da matéria):
MidiaNews – Até ser eleita vereadora, a senhora não era muito conhecida da imprensa em geral. Qual trabalho desenvolvia antes de tentar uma candidatura?
Baixinha Giraldelli – No meio político, eu até era conhecida. Venho desde a época da beira do Rio Cuiabá, numa luta antiga da mudança do Mercado do Porto, do qual fui presidente.

Todo mundo olha para mim e fala: ‘Ela não sabe nada’, mas sou bacharelada em Direito. Não parece!
Então, no meio político em si, eu era conhecida, sempre comprei briga, sempre discutindo os direitos dos feirantes e um Ceasa para Cuiabá. Eu fazia doações da verdura toda quinta-feira, a gente dava para umas 150 famílias em um trabalho social que já venho fazendo há muitos anos.
Fiquei como presidente do mercado do Verdão até que fui para o Pedra 90, onde abri uma distribuidora de bebidas. Ali comecei a perceber o descaso do poder público, achava que a pobreza não existia em Cuiabá.
Vi a necessidade daquelas crianças no meio da rua, de não ter um apoio, e onde estava o poder público? Todo mundo olha para mim e fala: ‘Ela não sabe nada’, mas sou bacharelada em Direito. Não parece!
A minha luta maior é para um banco de alimentos, porque é muito desperdício, além do incentivo para quem quer plantar, para a agricultura familiar.
MidiaNews – Muita gente que entra para a política acaba se decepcionando com a morosidade do poder público ou das negociatas. Como tem sido a experiência nestes primeiros meses de mandato?
Baixinha Giraldelli – Assumi dois meses como suplente na Câmara [na última legislatura] e naquela época eu batia muito duro em cima dos vereadores que estavam ali. Porque o vereador é para fiscalizar, é para ajudar, e eu não via isso.
Teve algumas pessoas que nem gostavam que eu estivesse ali. Se eu estou ali é porque, primeiramente, Deus que me colocou e está me usando e segundo, o povo, que acredita. Então, devo respeito e devo meus votos para uma pessoa só: o povo.
Sendo sincera, tem hora que dá vontade de desistir. Tem hora que penso: ‘Chega, isso não é para mim’. É muita pressão, então, quando tem muita pressão, você larga da sua vida, da família, dos seus filhos… Quase não se tem tempo para os seus filhos e netos.
MidiaNews – A Camara abriu uma CPI para investigar o contrato com a CS Mobi, empresa responsável pelo estacionamento rotativo no Centro. A senhora tem acompanhado os desdobramentos?
Baixinha Giraldelli – Não tenho acompanhado, mas tenho reclamações. Meu ponto de vista: cansei de assistir tanta CPI no passado terminar em pizza.

Meu ponto de vista: cansei de assistir tanta CPI no passado terminar em pizza
A Prefeitura deveria ter advogados bons que falassem: ‘Se tem tanta denúncia, cancela o contrato’. Nós temos que pensar daqui para frente, não adianta ficar batendo [o passado], que é atraso de vida.
Qual é o momento? A saúde não está boa, falta remédio, falta médico, falta estrutura, Cuiabá está cheia de buraco. Eu acho que deveríamos nos preocupar como nós vamos fazer para começar o mais rápido possível a fazer o trabalho.
MidiaNews – Então, é a favor que se rompa esse contrato?
Baixinha Giraldelli – Sim, porque já tem muita denúncia. Rompe logo o contrato e pronto.
Não é que ache que vai terminar em pizza, que pode acontecer. Agora, como vejo a política em si, ninguém vai preso. Quem vai preso são os invisíveis que roubaram uma latinha de sardinha no mercado, mas o ‘paletó’, quem usa gravata, ninguém desses vai preso.
MidiaNews – O prefeito Abilio sinaliza a intenção de extinguir a Arsec e criar uma agência reguladora exclusiva para água e esgoto, enquanto coleta de lixo, transporte público, iluminação e estacionamento rotativo ficarão a cargo das secretarias, por meio de conselhos. É a favor da extinção da Arsec?
Baixinha Giraldelli – Não sou a favor. Acho que a Arsec tem que continuar. No final do ano, se não me engano, toma posse uma nova diretoria, [que deveria] fazer um novo regulamento. Ela tem que fazer o papel dela, o Brasil inteiro tem agências que fiscalizam.

Mas a população é muito injusta, teve anos para reclamar e ficou calada
Acho que tem outras coisas para se preocupar no meu ponto de vista, que são bocas de lobo abertas, arrumar parcerias.. Será que essas empresas que constroem em Cuiabá não têm condições de ajudar a arrumar pelo menos umas vinte bocas de lobo, tampar uns cem buracos da cidade?
Se estão construindo, eles têm interesse em Cuiabá, no futuro elas também vão ter benefícios. Melhor que ficar discutindo se vai ou não vai fechar [a Arsec]. Eu sou contra.
MidiaNews – Qual é a avaliação faz desses primeiros meses de gestão do prefeito Abilio?
Baixinha Giraldelli – Está indo, está caminhando, mas é muito cedo para julgar. Eu não queria estar no lugar dele de jeito nenhum. Eu não queria.
Mas a população é muito injusta, teve anos para reclamar e ficou calada. E você sabe que não é da noite para o dia que começa a fazer alguma coisa. Então, eu seria injusta em ‘descer o pau’ agora.
Em 2022 eu já brigava pelos buracos de Cuiabá, ninguém fez nada. PSFs fechados há anos, ninguém abriu a boca. Então acho isso injusto agora. Ao invés de ficar criticando, por que não reza para dar tudo certo?
Daqui a um tempo, seis ou sete meses, aí terei uma opinião formada se está indo bem ou mal.
MidiaNews – Qual sua avaliação da gestão Emanuel Pinheiro? Como acha que ele deixou Cuiabá?
Baixinha Giraldelli – Acredito que ele deixou a cidade descuidada. Mas não é só ele, os assessores, secretariado… Ele poderia ter escolhido melhor o secretariado dele, poderia ter colocado outro onde não deu certo. Então, ele tem culpa sim.
MidiaNews – No Carnaval circulou um vídeo da senhora em Balneário Camboriú ao lado do deputado Faissal Calil. Recebeu algum tipo de crítica por essa viagem?
Baixinha Giraldelli – As pessoas têm que ser felizes. Você pode fazer o que quiser na tua vida, é seu direito. As pessoas misturam muito, ‘ah, porque é político’, mas também somos feitos de carne, osso, sangue. Eu pelo menos sou uma pessoa normal.
Victor Ostetti/MidiaNews
Baixinha sobre críticas a seu vídeo no carnaval: “Será que não é inveja também?”
O ser humano se preocupa porque você vestiu uma saia, e aí? Não pode? Você não pode ir para uma praia? Imagina se tivesse uma foto minha de biquíni e colocassem ali? Então assim, é maldade.
Será que não é inveja também? Aquelas pessoas recalcadas, que tinham vontade de vestir uma saia e pular o carnaval.
MidiaNews – Marcos Baiano, líder comunitário do bairro Pedra 90 é bem polêmico e já até brigou com seus assessores. O que pensa dele, vocês são parceiros?
Baixinha Giraldelli – Não somos parceiros. A gente não pode também tirar o mérito dele, toda a vida ele lutou pelo Pedra 90. Mas ele não aceita ninguém no Pedra, não aceita parceria e não é assim.
Ele é polêmico, mas respeito, cada um tem o seu modo de ser. Mas ele está procurando isso [confusões] e cada um procura o que você quer.
MidiaNews – A senhora tem uma foto com um homem suspeito de ser integrante de uma facção criminosa. Não pegou mal isso?
Baixinha Giraldelli – Pegar mal não pegou, porque eu abraço todo mundo e brinco com todo mundo.
MidiaNews – Mas a senhora não sabia?
Baixinha Giraldelli – Não, eu até fiquei magoada, sabe? Porque eu achei que foi uma maldade. Na quinta-feira, eu tinha ido à Câmara e falei: ‘Vou dar meu nome para ser presidente da Mesa’. Foi eu falar isso que na sexta colocaram a foto. Maldade!

Ninguém tem escrito na testa assim: ‘bandido’, ‘assaltante’, ‘gente boa’
Eu moro num bairro carente há anos, conheço todo mundo. Ninguém tem escrito na testa assim: ‘bandido’, ‘assaltante’, ‘gente boa’. Não tá escrito, as pessoas vêm, me abraçam, pode ser até um mendigo que vier e eu dou um abraço.
Fiquei chateada, porque ninguém falou da minha vida passada, do trabalho social que faço. Nunca ninguém falou nada.
MidiaNews – O vereador Rafael Ranalli acusou que parlamentares foram eleitos com apoio do crime organizado. A senhora se sentiu de alguma forma atacada?
Baixinha Giraldelli – Eu não, em nenhum momento. Não estou nem aí, porque não devo, minha consciência é limpa. Investiga a minha vida de baixo para cima, não estou nem aí. Não me senti nenhum momento atacada. Indiferente para mim.
MidiaNews – A senhora tem se destacado por vídeos curiosos nas redes sociais. De quem foi a ideia de fazer esses vídeos? Esse tipo de comunicação diferenciada tem atraído bastante seguidores?
Baixinha Giraldelli – É do Carlos, que estudou com meu filho e que mexe com a rede social. Ele ajudou na minha campanha, com alguns vídeos que fazia muito engraçados.
Ele estava até com medo de fazer alguma coisa minha e mandou perguntar para o meu filho, perguntou primeiro para o meu filho se eu queria fazer uns vídeos diferentes. ‘Será que a tua mãe vai ficar brava?’. Aí falei, não cara, pode fazer.
É um modo de chamar atenção também. As pessoas têm que participar mais, ir para a Câmera, assistir, cobrar. Vejo algumas críticas e dá vontade de responder ‘procurem meu Instagram, procurem saber quem eu sou. Procura Marilda Giraldelli, vai lá ver’.
As pessoas têm mania de julgar sem conhecer. Então, não estou preocupada com isso. Hoje, não lembro [quantos seguidores tem], mas não ligo se caiu ou deixou de cair.
MidiaNews – Sobre os permissionários do Mercado Municipal, que denunciaram que o novo valor dos aluguéis pode chegar a R$ 18 mil ou mais. Não seria injusto?
Baixinha Giraldelli – Absurdo! Estamos em uma crise, Cuiabá está numa crise econômica horrível. Conhecia, inclusive, gente que trabalhava ali há anos, que ficaram ali mesmo naquela ‘imundice’.
Esse é o perigo da terceirização. Se não tivesse uma crise financeira, poderia cobrar, você está ganhando para isso. É a mesma coisa o Mercado do Porto, hoje não sei quanto eles vão pagar, pois virou um negócio de turismo.
Tem que ser conversado. E vamos agir, mesmo que a Câmara não agir, eu vou entrar nessa luta independente de secretaria ou prefeito. Estou brigando pelo que é justo.
Veja a entrevista completa:
FONTE: MIDIA NEWS