Polícia Civil, Conselho Regional de Medicina (CRM-ES) e Prefeitura da Serra, na Grande Vitória, investigam o caso. Todos os profissionais que participaram do primeiro atendimento a vítima de 27 anos também foram afastados. Homem morre após procurar unidades de saúde na Serra
Uma médica que trabalhava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Serra, na Grande Vitória, foi demitida após a morte de um homem de 27 anos. Segundo a família de Melvin Aquirrame Ferreira Lourenço, o homem foi até o local no sábado (5) sem conseguir andar, mas recebeu alta.
Ainda de acordo com parentes da vítima, ele procurou outras duas unidades da cidade e morreu na UPA de Castelândia, no mesmo município, cerca de 8h depois do primeiro atendimento.
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A família informou que a causa declarada para a causa da morte são: edema cerebral, choque cardiogênico, edema agudo do pulmão e tromboembolismo pulmonar.
O nome da profissional não foi divulgado. A administração afirmou que também afastou os demais profissionais diretamente envolvidos na ocorrência até total apuração dos fatos (veja nota completa da prefeitura no final da reportagem).
O Conselho Regional de Medicina (CRM) e a Polícia Civil investigam o caso.
Atendimentos
Vítima de 27 anos buscou o primeiro atendimento por volta das 5h15 na Upa de Serra Sede, na Serra, Espírito Santo
Prefeitura Municipal da Serra
O cunhado de Melvin, Denilson Pires, relatou que a vítima acordou na madrugada de sábado se sentindo mal, não conseguia andar e caiu. O patrão do homem então o levou à UPA.
“Ele chegou de cadeira de todas porque ele não conseguia andar. O médico fez a triagem, perguntas e pediu exames. Nesse tempo trocou o plantão da unidade e outra médica prosseguiu com o atendimento dele. E essa médica reavaliou, aplicou medicação para dor, e depois de um tempo diagnosticou uma lombalgia. Deu um atestado de dois dias para ele, passou uma medicação e deu alta”, disse.
Mas o cunhado contou que mesmo com a liberação, o homem ainda reclamava de dores e passou a sentir os braços formigando.
Melvin foi levado para o Hospital Jayme Santos Neves, na mesma cidade. No local, o homem não conseguia sair do carro e a enfermeira avaliou o paciente dentro do veículo.
“Olharam a pressão, a saturação, fizeram uma avaliação prévia e identificaram que ele tinha sintomas cardiovasculares”, comentou o cunhado.
Depois, vítima foi levada ao Hospital Estadual Jayme Santos Neves, na Serra, espírito santo
Reprodução TV Gazeta
Mas depois da avaliação inicial, a profissional de saúde explicou ao paciente que o hospital possui um protocolo em que só pode atender pessoas encaminhadas por médicos ou que chegam de ambulância. A mulher orientou que Melvin voltasse para a UPA.
“A própria enfermeira falou para voltar para a UPA e pedir o encaminhamento, explicar os sintomas e aí voltar para o Jayme. Ela falou que tinha um neurocirurgião disponível para atender, tinha vaga e leito”, pontuou.
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Melvin então foi levado até a UPA de Castelândia por volta das 11h e passou mal momentos depois de ser atendido, relatando dores no peito e falta de ar.
“O pessoal disse que a enfermeira levou ele correndo para a sala e começaram a reanimar. O médico que socorreu ele tentou entender o que tinha acontecido antes, porque ele chegou na sala do médico já tão grave. Ele relatou que tentaram reanimá-lo por 45 minutos, que é até um período acima do protocolo, que é de 30 minutos, mas por ele ser um paciente mais jovem, tentaram por mais tempo”, destacou.
Investigação
Por último, a vítima de 27 anos procurou a Upa de Castelândia, na Serra, Espírito Santo, passou mal enquanto aguardava atendimento e morreu
Everton Nunes
A família registrou um boletim de ocorrência e contou ter anexado provas entre fotos e mensagens sobre tudo o que aconteceu no dia.
“Ele não passou mal e faleceu. Ficou desde às 5h15 da manhã até uma da tarde sem receber um atendimento que era urgente. É desgastante e revoltante tentar entender tudo isso”, afirmou.
A Polícia Civil disse que o caso será investigado pelo 11º Distrito Policial da Serra.
O Hospital Jayme Santos Neves lamentou a morte do paciente Melvin Aquirrame Ferreira Lourenço e se solidarizou com familiares e amigos.
A unidade destacou que recebe pacientes regulados pela Secretaria da Saúde (Sesa) que chegam por meio de transferências de Prontos Atendimentos, UPA’s e outras unidades hospitalares da rede, além de atendimentos classificados como vaga zero pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192).
“De acordo com os protocolos da rede de urgência e emergência, os pacientes que buscam atendimento diretamente nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s) são avaliados por equipe médica local. Caso seja identificada a necessidade de encaminhamento para uma unidade de maior complexidade, como o Hospital Jayme, o próprio serviço faz a solicitação de vaga ou aciona o Samu, quando for o caso. No entanto, isso não ocorreu com o paciente em questão. Reforçamos que o Hospital não nega atendimento em emergências graves e segue todos os fluxos definidos pela rede estadual de saúde para garantir agilidade e segurança na assistência ao paciente”, disse a nota.
Nota na íntegra da Prefeitura da Serra
A Secretaria de Saúde da Serra (Sesa) informa que, diante da gravidade do ocorrido no último sábado (5) nas unidades de pronto atendimento do município, adotou de imediato medidas administrativas rigorosas. A médica envolvida no caso foi demitida e os demais profissionais diretamente relacionados à ocorrência foram afastados preventivamente, até a completa apuração dos fatos.
Foi instaurada uma comissão específica para a investigação detalhada dos atendimentos prestados nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s) de Serra Sede e Castelândia. Além disso, o Conselho Regional de Medicina (CRM) foi formalmente notificado para avaliar a conduta médica de forma independente.
A Organização Social responsável pela gestão da UPA de Castelândia também foi notificada e está sendo responsabilizada por possível omissão de socorro por parte de seus colaboradores. A Sesa reafirma seu compromisso com a vida, a ética, a transparência e a segurança dos usuários do sistema público de saúde. Assume também o compromisso de adotar medidas para evitar eventuais erros e prevenir a recorrência de casos semelhantes.
A Secretaria lamenta o ocorrido, se solidariza com familiares e está prestando apoio à família, por meio de atendimento pessoal e foi ofertado acompanhamento psicológico e assistente social. A gestão não compactua com qualquer tipo de negligência nos atendimentos médicos e reforça seu compromisso com um cuidado digno, humano e respeitoso à população.
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FONTE: Lapada Lapada
Homem morre após buscar atendimento em 3 unidades de saúde e médica é demitida no ES
