Por favor não nos esqueçamos dos pobres | RDNEWS

Às 7h35 de 21 de abril de 2025 os sinos das igrejas católicas do mundo todo tocaram 88 vezes para anunciar a morte do líder da Igreja Católica por 12 anos. O Papa Francisco, aos 88 anos, volta para a casa do Pai.

O caixão de madeira com o Papa Francisco foi levado à basílica em procissão acompanhado por cardeais, bispos e padre de todo o mundo, sob o olhar presente de líderes mundiais de pelo menos 50 países e 130 delegações estrangeiras. Os procedimentos para velar e sepultar os Papas estão previstos no livro de ritos fúnebres do Vaticano, ‘Ordo Exsequiarum Romani Pontificis’, o Papa Francisco, porém, expressou em testamento escrito em junho de 2022 o desejo de que sua última viagem terrena fosse simples, sem decoração, túmulo na terra e com a singular inscrição: Franciscus.

A compaixão de Francisco, a coragem de abordar temas polêmicos e antes evitados pode ter promovido pequena evolução nas tradições católicas, mas seguramente ele iniciou processos de transformações e fez da Igreja um espaço para todos

Ao longo de seu mandato histórico como o primeiro jesuíta e o primeiro latino a liderar a Igreja Católica, o Papa Francisco dedicou seu tempo na terra a elevar os menos favorecidos, os perdidos no vício, os deixados à margem da vida e os presos pelos horrores das guerras. Foi uma voz transcendente em favor da paz, da dignidade humana e da justiça social. Deixa um legado de fé, compaixão e não somente isso. No Parque Tejo em Portugal, o Papa dirigiu uma mensagem potente de humildade aos jovens, durante a Jornada Mundial da Juventude de 2023: “Sede criativos com gratuidade, dai vida a uma sinfonia num mundo que vive de lucros. Assim, sereis revolucionários. Ide e dai, sem medo! Saia, caminhe com os outros, colora o mundo com os teus passos e pinta de Evangelho as estradas da vida. Levanta-te e vai. Levanta-te da terra, porque somos feitos para o Céu”.

 O Papa Francisco também compreendeu a urgência em proteger o planeta e chamou todos à responsabilidade de proteger a nossa casa comum. Escreveu a primeira Encíclica Papal sobre o clima “Laudato Si”, em 2015, considerada uma contribuição importante para a mobilização global que resultou no histórico Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, assinado, por 196 países. Os Estados Unidos saíram do acordo nos dois governos de Donald Trump.

Papa Francisco lia muito. Publicou uma carta dizendo que quando não conseguia encontrar o sossego da sua alma para enfrentar as tempestades, procurava ajuda num bom livro Escreveu a “Carta do Sandro Padre Francisco sobre o papel da literatura na educação” e disse que o crente que deseja entrar em diálogo com a cultura do seu tempo, ou com a vida de pessoas concretas, a literatura torna-se indispensável. Na sua lista de leitura encontrei o francês Marcel Proust, o conterrâneo dele, argentino Jorge Luis Borges, o americano-britânico, T.S.Eliot.

Em um mundo cada vez mais fragmentado, Francisco nos lembrou que pertencemos uns aos outros. Pediu-nos que olhássemos nos olhos do outro e víssemos não um estranho, mas uma pessoa próxima; não uma ameaça, mas um reflexo de nós mesmos. Francisco, com humildade e empatia despojou-se das tradições da propagada vida luxuosa do Vaticano e remodelou o papado com seu estilo inclusivo. Em 2017 ganhou uma Lamborghini Huracán personalizada. Leilou o carro e destinou o valor para os projetos humanitários de reconstrução das áreas afetadas pela guerra no Iraque, o valor contribuiu para custear cirurgias na África. Há pouco, já debilitado doou seus bens pessoais a projetos sociais em prisões italianas. É preciso coragem para não ignorar a dor, para tocar as mãos de quem pede uma moeda e olhar nos olhos de quem ajudamos.

“O único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é quando queremos ajudá-la a se levantar”.

O Brasil é o país com maior número de católicos no mundo, são cerca de 182 milhões, 13% da população católica do mundo, segundo divulgação da Secretaria de Estado do Vaticano.  A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou que o Papa Francisco foi compreendido pela Igreja como um pastor humilde e corajoso, que conduziu a Igreja com sabedoria evangélica, compaixão e espírito missionário, enfatizando que a verdadeira grandeza da Igreja está em sua capacidade de encontro com as feridas da humanidade”.

A compaixão de Francisco, a coragem de abordar temas polêmicos e antes evitados pode ter promovido pequena evolução nas tradições católicas, mas seguramente ele iniciou processos de transformações e fez da Igreja um espaço para todos, para quem erra, para quem cai, para quem vive em constante dificuldade. Seu amor foi sentido em todos os cantos.    

Olga Lustosa é socióloga e cerimonialista pública. Escreve com exclusividade para esta coluna aos domingos. E-mail: olgaborgeslustosa@gmail.com​

FONTE: RDNEWS

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