O Ministério Público de Mato Grosso pediu que seja decretada a prisão preventiva dos policiais militares Wekcerlley Benevides de Oliveira, Jorge Rodrigo Martins, Leandro Cardoso e Wailson Alesandro Medeiros Ramos suspeitos de forjar um confronto policial para plantar a arma utilizada para matar o advogado Renato Gomes Nery, em Cuiabá. Eles foram presos pela Polícia Civil durante a Operação Office Crimes – A Outra Face, no mês de março, mas foram soltos no fim de maio pelo juiz Francisco Ney Gaíva, da 14ª Vara Criminal da Capital.
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Os militares Leandro Cardoso, Jorge Rodrigo Martins, Wailson Alesandro Medeiros Ramos e Wekcerlley Benevides de Oliveira.
Segundo recurso do Ministério Público, ao qual o teve acesso, a prisão preventiva do grupo se justifica para assegurar a aplicação da lei penal, diante do risco concreto de evasão do distrito da culpa. “A gravidade dos crimes, cujas penas máximas somadas ultrapassam 30 anos de reclusão, e a condição dos investigados, conhecedores dos mecanismos de investigação e das eventuais falhas do sistema, configuram circunstâncias que potencializam o risco de fuga”, diz trecho.
Ainda no documento, o MP pediu a suspensão do porte e da posse de todas armas de fogo dos denunciantes, “seja de arma particular ou da instituição militar estadual, a qual deverá providenciar os recolhimentos das mesmas”.
Caso a prisão preventiva não seja aplicada, o promotor Henrique de Carvalho Pugliesi pediu à 7ª Vara Criminal que sejam decretadas medidas cautelares contra os policiais, como: comparecimento periódico em juízo; proibição de acesso ou frequência a determinados lugares; proibição de manter contato com pessoas relacionadas ao processo; proibição de ausentar-se de Cuiabá; recolhimento domiciliar no período noturno; suspensão do exercício de função pública e uso de tornozeleira eletrônica.
Conforme a denúncia do Ministério Público, ao qual o teve acesso, o grupo de policiais fazia parte da organização criminosa criada para matar o advogado Renato Nery. Os PMs, que atuavam no Batalhão de Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam), era do “Núcleo de obstrução” do crime.
“Responsável especificamente pela ocultação posterior da arma do crime mediante sua inserção em contexto forjado, e por outras ações destinadas a dificultar as investigações”, diz trecho da denúncia sobre o núcleo.
Nery foi atacado a tiros no dia 5 de julho, enquanto chegava em seu escritório, localizado na Avenida Fernando Corrêa, em Cuiabá. Ele foi socorrido e encaminhado ao hospital, mas morreu no dia seguinte.
Seis dias depois do crime, em 12 de julho, aconteceu um confronto, na Avenida Contorno Leste, envolvendo os agentes. Na situação, Walteir Lima Cabral morreu baleado e Pedro Elias Silva e Jhuan de Oliveira, ficaram baleados. O trio teria participado de um roubo horas antes.
Segundo o MP, o confronto foi forjado, já que a vítima do roubo disse que viu apenas um dos autores do crime armado, enquanto o outro apenas simulou estar armado. Além disso, a perícia constatou que não foram encontradas perfurações de disparos em nenhum dos veículos envolvidos no confronto forjado – nem na viatura policial, nem no Gol em que os três autores do roubo estavam.
“O que seria implausível caso tivesse havido, de fato, uma troca de tiros entre os ocupantes do Gol e os policiais. Não foi identificada pela perícia nenhuma situação de risco efetivo que caracterizasse um confronto armado real como o descrito na versão policial”, afirma a denúncia.
Outro fato que também chamou a atenção foi de que a arma, uma glock calibre 9mm, foi entregue nas mãos da polícia civil por Jorge Rodrigo Martins, e não colhidas na cena dos fatos, como deve ser o procedimento padrão.
“Essas conclusões do Ministério Público, no referido processo, corroboram fortemente o entendimento de que não houve confronto real, mas sim uma execução deliberada pelos policiais, seguida de inovação artificiosa da cena do crime para encobrir tanto esse homicídio quanto outros crimes anteriores”, acrescenta o MP na denúncia.
FONTE: RDNEWS