A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) criticou o Plano Safra 2025/26, anunciado nesta terça-feira (1º) pelo Governo Federal. Em nota, a entidade afirma que o plano, apesar de apresentar um volume recorde de R$ 516,2 bilhões, oferece pouco avanço real para os produtores rurais – especialmente os que mais precisam de crédito para manter as atividades.
Segundo a Aprosoja, boa parte dos recursos anunciados virá por meio de instrumentos do mercado privado, como as Cédulas de Produto Rural (CPR) lastreadas em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), que não possuem taxas de juros controladas. Para a entidade, isso, na prática, reduz em mais de 17% o volume de dinheiro público com condições fixas.
Aprosoja-MT
“Na prática, temos menos dinheiro disponível para contratar”, explicou o presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber. Ele destaca também que, em um cenário de endividamento crescente no campo, os juros elevados – alguns próximos da taxa Selic – tornam o acesso ao crédito quase impossível para muitos.
A entidade também chama atenção para o aumento considerado “insuficiente” nos recursos com taxas prefixadas: um crescimento nominal de 5% em relação ao plano anterior, que, ao ser ajustado pela inflação, representa na verdade uma leve queda. Além disso, parte do dinheiro já está comprometida com dívidas da safra passada.
Ainda segundo a Aprosoja, no caso do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) o valor de R$ 69,1 bilhões mantém juros diferenciados, mas sem compensar a perda do poder de compra causada pela inflação. Os recursos livres, que não têm taxas reguladas, tiveram queda de 31% e continuam exigindo garantias consideradas pesadas para quem precisa contratar.
Outro ponto criticado pela entidade é o aumento da taxa de juros na linha de custeio empresarial, que passou de 12% para 14% ao ano. Segundo o diretor administrativo da entidade, Diego Bertuol, isso afasta ainda mais os produtores do crédito. “No último Plano Safra, só 70% do valor prometido chegou, de fato, ao campo”, lembrou.
Sugestões ignoradas
A Aprosoja-MT também não vê com bons olhos a exigência do cumprimento do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a liberação do crédito de custeio. Para a entidade, o instrumento nem sempre acompanha a realidade das lavouras, tornando-se mais um entrave do que uma ajuda.
Na área de armazenagem, a entidade afirma que o governo ignorou sua sugestão de ampliar o orçamento do Programa de Construção de Armazéns (PCA) para R$ 9 bilhões.
“A Aprosoja MT havia sugerido, com base em estudos do déficit de armazenagem, ampliar o orçamento do Programa de Construção de Armazéns (PCA) para R$ 9 bilhões, com condições facilitadas para pequenos e médios produtores. No entanto, o governo destinou apenas R$ 3,7 bilhões para estruturas de até 12 mil toneladas, com taxa de 8,5% ao ano, e R$ 4,5 bilhões para estruturas maiores, com juros de 10%”, diz trecho da nota.
Já nas políticas ligadas à sustentabilidade, a Aprosoja-MT propôs que produtores engajados em programas de melhoria contínua tivessem um incentivo maior – um ponto percentual de desconto nas taxas. Mas o governo ofereceu apenas metade disso, o que a entidade considera pouco para impulsionar práticas sustentáveis de verdade.
Para Lucas Costa Beber, o plano anunciado traz metas difíceis de alcançar diante do atual cenário econômico. “O governo precisa rever seus gastos e focar em uma política fiscal que permita ferramentas monetárias mais eficientes. Do contrário, a produção de alimentos no país pode ser comprometida”, alerta.
“A Aprosoja MT reforça que, afora das peças publicitárias, o Plano Safra 2025/26 não trouxe avanços significativos e que o excesso de regulamentação prejudicará a efetividade da política pública. A entidade continuará atuando em defesa da política agrícola nacional, concreta e exequível, nos termos da Constituição Federal para que os recursos efetivamente cheguem às propriedades e para que o produtor rural tenha acesso a crédito com condições justas”, conclui a nota.
FONTE: RDNEWS