A falta de uma rotina de sono pode causar grandes impactos para o cérebro, tanto a curto quanto a longo prazo, com início de redução da atenção, do tempo de reação e do processamento cognitivo, que fica mais lentificado, além de muitas instabilidades de humor. A pessoa começa a ficar mais irritada, com dificuldade de concentração e dificuldade na tomada de decisões diárias.
A neurologista Rafaella Resplande, que atende no Hospital São Judas Tadeu, contou que nota-se um impacto na rotina desse paciente. E, a longo prazo, essa desregulação do ciclo circadiano causa uma deterioração da memória de forma progressiva.
“É um paciente que pode ter um maior risco de demência, redução do volume cerebral em áreas específicas, alterações estruturais, maior risco de doenças psiquiátricas, como depressão, ansiedade e bipolaridade. Todos esses são os prejuízos tanto a curto quanto a longo prazo”, explicou ela.
Ter uma rotina de sono muito bem ajustada é importante para o desempenho cognitivo. O sono tem fases e estágios, ajudando na consolidação da memória, transferindo aquela memória de curto prazo do dia para uma memória de longo prazo.
Além disso, ajuda a manter a atenção sustentada, aumentando a velocidade de processamento, sendo um dos motivos pelos quais é tão importante não ter essa privação do sono. Quando ela ocorre, as pessoas terão um déficit de memória recente, podendo perder o foco, não conseguindo concluir atividades rotineiras do dia a dia, e acabam tendo ineficiência na tomada de decisões, o que impacta diretamente sua rotina diária.
Os principais distúrbios do sono associados à falta de regularidade nos horários de dormir e acordar são os transtornos do ritmo circadiano do sono. Dentro desses transtornos, há a síndrome da fase atrasada do sono, avançada, transtornos de sono irregular ou até mesmo por trabalhos em turnos noturnos.
“Eles são bem variados e vai depender de qual o prejuízo que o paciente tem ali e em qual fase do sono ele está. Essa irregularidade do sono pode agravar outras condições, como a insônia crônica, depressão e ansiedade”, comenta a especialista.
Pessoas que trabalham em turnos alternados ou em horários instáveis podem criar uma rotina de sono funcional, porém é algo complicado, porque isso alterna conforme a rotina do paciente no trabalho e no cotidiano dele, sendo a melhor estratégia tentar manter, de certa forma, uma regularidade relativa dentro daquele padrão estabelecido e da atividade laboral que ele pratica.
Um dos casos atípicos é o dos trabalhadores noturnos ou que realizam turnos alternados, em que a orientação é criar blocos de sono consistentes após um turno e tentar fazer uma rotina de sono adequada para ver se consegue-se amenizar os prejuízos, mesmo a realidade sendo mais complicada. Mas os médicos dizem que precisa ser possível, dentro de cada realidade, estabelecer isso como meta diária.
Por isso, o ideal é tentar fazer um ciclo de sono de acordo com a sua atividade laboral e manter um ambiente escuro, silencioso, evitar bebidas estimulantes horas antes de dormir, como a cafeína, evitar alternâncias de turnos e tentar manter uma regularidade, trabalhando sempre nos mesmos turnos, para ter uma rotina melhor e permitir que o corpo se adapte.
“E, quando acordar, ter realmente uma exposição à luz, até para o corpo entender o que é dia e o que é noite. Em alguns casos específicos, nós podemos usar indutores de sono, como, por exemplo, a melatonina, que vai ajudar a ter um sono mais restaurador e mais reparador. Porém, essa última prescrição é só sob orientação médica”, ressalta Resplande.
O ideal é sempre manter dois pontos fundamentais: a duração do tempo necessário para ter um sono reparador e horários fixos para ir dormir e para acordar. Estudos mostram que essa irregularidade de horário, dormir em um horário e acordar em outro, pode aumentar o risco de diabetes, depressão, declínio cognitivo e obesidade, mesmo com o número total de horas adequadas.
“A gente vê que esse ciclo circadiano é muito importante, porque não é apenas sobre o sono. A gente vê que, no nosso organismo, nós temos liberação hormonal, variação de temperatura corporal, função imunológica, memória. Tudo isso é influenciado pelo sono, por isso que é tão importante manter essa regularidade, tanto das horas totais de sono quanto da regularidade ao ir dormir e ao acordar”, concluiu a médica.
Importante ressaltar que especialistas recomendam, em média, 8 horas de sono por dia, sem interrupções. Esse número pode variar de acordo com a idade de cada indivíduo e as necessidades de desenvolvimento de seu corpo, conforme o indicado.
Para os adultos (18 a 60 anos), recomenda-se de 7 a 8 horas de sono de qualidade e em horários regulares por dia. Já os adolescentes (13 a 18 anos) precisam dormir cerca de 8 a 10 horas diariamente, as crianças (6 a 12 anos) necessitam de 9 a 12 horas de sono a cada dia, e os bebês (4 a 11 meses ) precisam dormir de 12 a 16 horas por dia, de acordo com a diretriz publicada em 2019, pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Por isso, se sentir algum incômodo ou hábito incomum em conseguir dormir, ter blocos regulares de sono ou irregularidade na hora de descansar, o MT Saúde disponibiliza um Guia Médico com diversos especialistas que podem ajudar. Uma rede credenciada, capacitada e preparada para ajudar conforme sua dificuldade.
FONTE: matogrossosaude