quinta-feira, agosto 7, 2025

Cenários complexos | RDNEWS – Portal de notícias de MT

Adentramos um período caracterizado por incerteza e insegurança econômica e política, sobretudo. Como escreveu Zygmunt Bauman nada mais parece fixo e a própria tecnologia que avançou como uma perspectiva de progresso inadiável, propaga tanta informação, que não podemos absorvê-la para descobrir o que está realmente acontecendo. Qualquer um, de qualquer lugar pode usar a tecnologia para qualquer propósito, sem respeito algum às instituições e aos especialistas. Ao falar sobre os avanços tecnológicos, o sociólogo e escritor brasileiro Sérgio Abranches observa que a democracia permaneceu analógica enquanto a sociedade se tornou digital.

De acordo com Sérgio Abranches, o poder Judiciário está sendo forçado a intervir e preencher as lacunas, tentando corrigir as omissões de um poder Legislativo fraco, que não responde nem se provocado

Em uma longa entrevista a um respeitado veículo de comunicação sobre economia, Abranches analisou detalhadamente o fluxo dos desacertos políticos atuais e inicialmente já deixou claro que com esse congresso que elegemos nenhuma reforma estrutural jamais acontecerá. Acusa o legislativo brasileiro de colocar a faca no pescoço do executivo nas discussões e chantagens que envolvem as emendas parlamentares, utilizadas, grosso modo, para alimentar processo de reeleição dos parlamentares.

Um estudo publicado pelo Instituto Não aceito Corrupção revela que foram destinados 106 bilhões de reais em emendas em nos últimos 5 anos, ignorando completamente os indicadores sociais  dos municípios.

A crônica política, segundo Abranches gira em torno de uma versão do ‘conflito entre os poderes da República, na qual são protagonistas uma Presidência que não está funcionando a pleno vapor, um Congresso dominado pelo centrão, conglomerado de partidos amorfos, hospedeiros de caciques expoentes do fisiologismo e um Judiciário intrometido’.

Ao falar sobre os grupos grandes no Congresso Nacional, como o antigo e sempre oportunista centrão, Abranches observa o grupo não age coletivamente e que os interesses pessoais e paroquiais tornam o grupo inerte politicamente, mas voraz na ocupação de cargos e nem por isso, responde com lealdade ao governo, nem mesmo quando em votação está algum projeto de interesse público. De acordo com Sérgio Abranches, o poder Judiciário está sendo forçado a intervir e preencher as lacunas, tentando corrigir as omissões de um poder Legislativo fraco, que não responde nem se provocado.

Abranches confirma a percepção que citei acima de que uma transformação rumo a incerteza, exaustão e insatisfação está acontecendo em toda parte e esta transformação está diminuindo a capacidade dos governos, mesmo os mais democráticos de atender as necessidades da população. Esses sentimentos negativos concentram insatisfação até com a democracia, porque ela não está sendo representativa nem está levando avanços a população brasileira.

No fim das contas, esse cenário marcado por insatisfação e insegurança traz enorme volatilidade eleitoral, o que pode beneficiar ou prejudicar qualquer candidato. Elaborar estudos ouvindo as pessoas falar sobre política está ficando perigoso para quem preza o respeito pelo pensamento alheio e a imprevisibilidade pode ter um impacto significativo nas perspectivas políticas do Brasil de 2026. Por ora, a situação política do Brasil em 2025 é uma mistura complexa de oportunidades, desafios e desconfiança.

Olga Lustosa é socióloga e cerimonialista pública. Escreve com exclusividade para esta coluna aos domingos. E-mail: olgaborgeslustosa@gmail.com​

FONTE: RDNEWS

comando

DESTAQUES

RelacionadoPostagens