domingo, agosto 10, 2025

“VG é a cidade com mais favelas em MT; o centro não tem esgoto”

A prefeita de Várzea Grande, Flávia Moretti (PL), fez um duro diagnóstico sobre a situação do município: “Parou no tempo”.

 

Segundo ela, a Cidade Industrial enfrenta um agravamento da criminalidade, com a expansão das facções criminosas, e a relacionou com a extrema pobreza do município.

 

Se caracterizarmos como favela os lugares sem infraestrutura, até o centro da cidade entraria na lista

Flávia destacou que, conforme levantamento do IBGE, Várzea Grande possui oito favelas — número que, na avaliação dela, é ainda maior.

 

“Se caracterizarmos como favela os lugares sem infraestrutura, até o centro da cidade entraria na lista. Não temos rede de esgoto, não temos rede de água… Somos a cidade que mais tem favela no estado de Mato Grosso”, afirmou.

 

“Se não levantarmos o município, essa realidade só vai piorar”, emendou.

Ao MidiaNews, a prefeita disse que encontrou a segunda maior cidade do Estado com prédios e as finanças “depredadas” e contou sobre a relação com o vice, o Tião da Zaeli, com os vereadores e o que pensa sobre a eleição de 2026 no Estado.

 

 

Confira os principais trechos da entrevista (e a íntegra no vídeo ao final da matéria):

 

MidiaNews – No primeiro domingo de agosto, bolsonaristas fizeram um ato pedindo o impeachment do ministro Alexandre de Moraes e anistia a condenados pelo 8 de janeiro de 2023. A senhora participou, fez uma fala dura a respeito da Justiça.  Como analisa os atos, contemplou as expectativas do PL em Mato Grosso e no Brasil?

 

Flavia Moretti – O ato contemplou as expectativas. A gente sabe que o domingo é um dia muito difícil para o trabalhador brasileiro, que está em casa, descansando. E há ainda aqueles que estão trabalhando. O horário é um complicado por causa dos ônibus, mas o importante é o movimento, é a união, em que todos estavam pessoalmente ou pelas redes sociais.

 

Meu discurso foi, sim, duro. Porque eu, como advogada, sei que a Justiça tem que ser imparcial, tem que ter o equilíbrio da balança e a partir do momento que ela tira a venda e passa a enxergar quem é quem, colocar as partes, independente do direito, acaba-se o direito,  acaba-se a aplicação da justiça. Começa a se olhar apenas para um lado. Quando a balança pende para um lado, acabou. Como advogada, vejo que existe essa parcialidade no STF. 

 

Quando a balança pende para um lado, acabou. Como advogada, vejo que existe essa parcialidade no STF.

MidiaNews – A senhora está falando especificamente do ministro Alexandre de Moraes e das decisões contra a família Bolsonaro?

 

Flavia Moretti – A gente não pode ter perseguições políticas. Assim como a liberdade de expressão, a liberdade do voto, a liberdade política é muito importante. O fato de você ser de direita ou de esquerda não deve conduzir a uma perseguição política. 

 

Hoje, o que a gente vê no Brasil é que se você é de direita e quem está no poder é de esquerda, você sofre uma perseguição política. 2026 já chegou em Mato Grosso e no nosso Brasil e temos que conduzir e trabalhar no intuito de nos conscientizar, analisar se a gente quer continuar nessa polaridade e perseguição política. 

 

Para isso não acontecer, temos que fazer a mudança nas urnas o ano que vem. 

 

MidiaNews – Acha que tem ambiente no Senado para tramitar o impeachment do ministro? Ou o presidente do Senado Davi Alcolumbre vai cumprir com o que disse e não vai colocar em pauta? 

 

Flavia Moretti – Eu não vou me manifestar quanto a isso, vai depender do Senado. O senador Wellington Fagundes falou que faltava três assinaturas, mas ainda tem o movimento do presidente. Então, a gente tem que torcer e fazer com que eles coloquem isso [em pauta].

 

O processo de impeachment é um processo longo, tem o devido processo legal, que não está acontecendo dentro do Tribunal [STF].

 

 

MidiaNews – Acredita que Bolsonaro pode se tornar elegível no pleito do ano que vem? 

 

Flavia Moretti – Eu tenho fé.  Acho que a fé é que move as montanhas. Para Deus nada é impossível. Diga que eu estou onde estou. Eu oro todos os dias para que ele retorne na condição de elegível. E que se isso também não for da vontade de Deus, que venha um nome forte para nos representar de outra forma.

 

Não para representar a direita ou a esquerda, mas para representar o crescimento do Brasil, que é isso que o Brasil tem que retomar, o crescimento político, econômico, social, financeiro e de posição política a nível mundial.

 

MidiaNews – Há alguns dias, a senhora deu uma entrevista e falou sobre um rombo de R$ 144 milhões nos cofres da Prefeitura de Cuiabá. O que a gestão está fazendo para superar esse déficit?

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Flávia Moretti

“Estamos fazendo um esforço fiscal”, disse a prefeita de VG, Flávia Moretti

Flávia Moretti – Estamos fazendo um esforço fiscal. Porque enxugar a máquina é complicado porque também tenho que os serviços fins. Tenho que ter X equipe na Unidade Saúde Familiar. Se tiro uma pessoa, perco o credenciamento do Ministério da Saúde, não posso perder e sim manter aquela pessoa. E eu tenho que ter a entrega do serviço de saúde. 

 

Então, estamos fazendo um esforço fiscal e um levantamento nas áreas de IPTU, das empresas que estão em Várzea Grande, mas estavam emitindo informações de notas fiscais de ICMS ou até de serviços para a Cuiabá. 

 

Estamos fazendo esse monitoramento fiscal dentro do município para levantarmos a receita. Além de pedir aos poderes executivos, aos ministérios de Brasília, os aumentos nos nossos repasses federais e estaduais. Aqueles repasses que são por leis. 

 

Estamos fazendo tudo isso para aumentar o nosso percentual sobre o ICMS, do FPM [Fundo de Participação dos Municípios], para podermos melhorar a arrecadação junto ao Governo do Estado do repasse do ICMS.  A mesma coisa no Governo Federal, estamos buscando os aumentos do Teto MAC [limite financeiro para o financiamento de serviços de saúde]…

 

Por exemplo, na Educação. A gente perdeu quase R$ 4 milhões este ano, porque a gestão passada não cadastrou as crianças que tinham laudadas e perdemos esse recuo. Então, esse ano a Secretaria da Educação está tomando todas as providências para regularizar no Ministério da Educação para que a gente possa receber esse valor. 

 

MidiaNews – Nessa toada, o presidente da Câmara de VG, vereador Wanderley Cerqueira (MDB), criticou os deputados federais do PL por não estarem trazendo dinheiro para a cidade, distribuindo as emendas em outros municípios. Isso procede?

 

Flavia Moretti – Não, não, não! Chegou emendas de infraestrutura e da rodoviária do Coronel Assis e de infraestrutura do Nelson Barbudo e do José Medeiros. E da Coronel Fernanda chegou para Reurb [Regularização Fundiária Urbana]. São emendas pontuais para um trabalho específico e não de custeio.

 

Já na Assembleia, o deputado estadual Gilberto Cattani ainda não mandou emenda e o Eliseu Nascimento ficou de mandar para a área da saúde e esporte. mas ainda não mandou. Mas outros deputados também já prometeram e ainda não mandaram.

 

Eu tenho buscado recurso, mas os recursos vêm para um determinado projeto. Por exemplo, o deputado estadual Wilson Santos mandou R$ 1 milhão. Destes, R$ 500 mil foi para custeio da saúde e R$ 500 mil para reformar uma unidade de saúde do Capão Grande. E eu tenho que reformar. Só que isso não é a máquina. A máquina gira todo mês. 

 

Antes se mandava muito dinheiro para a Várzea Grande: para pagar a folha, custear a máquina, a despesa… Hoje não. Trabalho com poucas emendas, valores poucos, destinado para um determinado projeto onde não posso desviar. E eu fico à mercê. 

 

 

MidiaNews – Então, a prefeitura tem fechado o caixa no vermelho? 

 

Flávia Moretti – Eu trabalho no limite. Eu fecho caixa no vermelho, principalmente da saúde, porém ainda consigo aportar… Eu falo que a gente faz uma ginástica financeira.

 

MidiaNews – Nesse período inicial, a senhora conheceu a máquina. Encontrou algum esqueleto nas gavetas da Prefeitura? Se encontrou, fez alguma denúncia formal aos órgãos de controle? 

 

Flávia Moretti – Nós levantamos várias situações. A mais recente, veio por uma denúncia na ouvidoria. Fomos apurar e vamos mandar para o Ministério Público. Mas é referente a transportes, da educação, de 2024. 

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Flávia Moretti

A prefeita de VG, Flávia Moretti, que formalizou denúncia sobre transporte coletivo à órgãos de controle

MidiaNews – Não pode adiantar?

 

Flávia Moretti – Não, porque está em auditoria interna. Tenho várias auditorias internas abertas apurando isso. O Tribunal de Contas também esteve dentro do município apurando contratos. Mas, a gente está encaminhando diretamente para o Ministério Público de Contas ou para o Ministério Público Estadual. Eles devem apurar se houve crime, irregularidade ou se não houve.

 

MidiaNews – Desde o início da gestão, a senhora fez algumas trocas nas secretarias, a última na Educação, e foi alvo de críticas por isso. Tem a reflexão de que talvez possa ter escolhido mal esses gestores? 

 

Flávia Moretti – A troca é justamente para melhorar o trabalho que, às vezes, não estava à contento. E teve vários motivos pelas trocas de secretários. Mas da Educação, especificamente, o padre [Edson Sestari] pediu para se desligar e no caso do Cleito [Marino Santana], disse que estava assoberbado com uma pós-graduação em São Paulo, viajava muito e eu preciso de um secretário full time.

 

Foram várias ocorrências dentro das pastas. Não aconteceu de eu dizer: “Não gostei, não quero, tchau”. Existem várias situações. Um deles, por exemplo, eu vi que não se identificou com a gestão pública. Era empresário, super competente, com doutorado, mas não tinha um perfil de gestor público e aí tem que trocar.

 

MidiaNews – Essas mudanças não passam a impressão de uma gestão confusa ou desorganizada?

 

Flávia Moretti – Não, pelo contrário. Cada vez estamos nos consolidando como um grupo que caminha junto. Sabe aquele joguinho, o cubo mágico? É assim. Vamos encontrando as peças e vamos nos encaixando. É tranquilo e assim é a vida.

 

MidiaNews – A senhora se classifica como uma pessoa exigente? 

 

Flávia Moretti – Muito. Sou muito exigente. 

 

MidiaNews – E o Tião também vai nessa mesma linha? 

 

Flavia Moretti – Tião mais ainda que eu, porque ele fica do lado acompanhando passo a passo.

 

MidiaNews – E como anda a relação de vocês? No início da gestãohouve um pequeno acirramento. Como estão essas diferenças?

 

Flávia Moretti – Muito tranquilo. Tivemos nossas diferenças pelo próprio estresse, ansiedade e nervosismo do começo da gestão. Hoje, estamos muito bem, conversando todos os dias, dialogando, tomando decisões conjuntas. Outras decisões eu tomo e apenas comunico [risos]. Eu tenho essa autonomia.

 

A gente passou por uma fase muito de ansiedade pela forma que a gente pegou o município. Não imaginávamos que íamos pegar um município tão depredado. Depredado fisicamente, economicamente… Em um situação muito feia.

 

 

MidiaNews – Mas hoje a gestão consegue caminhar melhor?

 

Flávia Moretti – A comunicação na gestão está muito positiva. Hoje, consigo sentar com os secretários, faço videochamada dentro do meu carro, despacho com eles. Então, temos essa interlocução de secretarias e tudo avança mais rápido. 

 

O município é uma engrenagem que não pode parar. Os secretários não podem me esperar chegar ao gabinete para decidir o que vai acontecer na secretaria deles. E hoje temos um planejamento que vai dar certo. A partir do ano que vem vai ter mais entregas, mas esse ano a gente já consegue ver que caminhou. Veja a saúde, foram 37 mil atendimentos só dentro do Fila Zero, fora urgência, emergência, UPAs.

Victor Ostetti/MidiaNews

Flávia Moretti

Flávia Moretti destacou programa Fila Zero e apontou: “O pronto-socorro de Várzea Grande era um hotel”

 

Hoje, se tem alguém no corredor do pronto-socorro é porque o teto está em reforma. Estamos fazendo uma reforma consolidada, estrutural. Hoje, você entra no pronto-socorro e se precisa operar em uma cirurgia ortopédica consegue em 48 a 72 horas. Em uma semana a pessoa está em casa. Antes, ficava-se dois meses. Virava hotel. O pronto-socorro de Várzea Grande era um hotel. 

 

Um dia cheguei lá, tinha uma mulher com aquelas malas de 23 quilos. Ela me disse: “Eu estou aqui faz dois meses”.

 

MidiaNews – A água ainda é uma das maiores questões do município. Como está esse processo de privatização do Departamento de Água e Esgoto de Várzea Grande (DAE-VG)? Pretendem fazer uma consulta à população?

 

Flávia Moretti – A pergunta à população vai ser feita nas audiências públicas, quando tiver o plano de saneamento, a modelagem do DAE, e a valoração. Quando a FIPE [Fundação Instituto de Pesquisas Econômica], que foi contratada por mim, para fazer o diagnóstico e o plano de saneamento, quando acontecer isso, e vier com a modelagem da concessão, vão ser feita as audiências para issoAí a população vai ser consultada. Depois vai para a Câmara.

 

 

MidiaNews – O Tião falou que essa concessão pode vir o ano que vem.  Enquanto isso, como estão os investimentos? Não fica meio inviabilizado já que vai privatizar?

 

Flávia Moretti – Temos um projeto que vamos apresentar ao Governo do Estado, que é para melhoria das adutoras para distribuição. Todo investimento que a gente fizer no DAE, vai para a valoração dela, para quanto vai valer a outorga. 

 

Não tem prejuízo nenhum, nem dos investimentos dos PACs que estavam parados, nem de investimentos novos que poderiam vir pelo Governo Federal ou Estadual. Todos os investimentos vão estar dentro do patrimônio do DAE.

 

Na concessão, não vende o patrimônio, vende a outorga. O patrimônio continua sendo do município de Várzea Grande. 

 

MidiaNews – Existe outra reclamação recorrente a respeito do transporte público de Várzea Grande.  Eles falam de ônibus muito precários, sobre a pontualidade… Como está esse diálogo da Prefeitura com a União Transportes? 

 

Devo estar com R$ 1 bilhão em dívidas de todas as gestões passadas

Flávia Moretti – A Prefeitura de Várzea Grande deparou com uma dívida de mais de R$ 20 milhões a favor da empresa. Devemos R$ 20 milhões à empresa. Só para recapitular, os R$ 144 milhões é só daquela dívida do administrativo. Temos quase R$ 700 milhões em precatório, mais uns R$ 300 milhões em dívidas judicializadas correntes que ainda não transitou em julgado. Então, devo estar com R$ 1 bilhão em dívidas de todas as gestões passadas. 

 

Essa dívida de R$ 20 milhões é uma dívida judicializada, estamos em uma mesa técnica junto ao Tribunal de Contas. O contrato da empresa União Transporte está vigente até o ano que vem.

 

Vou estudar lançar um edital da nova concessão privada com um plano de mobilidade urbana para que até o vencimento dessa empresa, a União Transporte, eu consiga concluir esse processo. A população tem que entender. Mas, até que eu construa esse processo, tenho feito algumas exigências para a empresa para cobrir isso, porque tem multas, cobrança, e por isso estamos na mesa técnica.

 

MidiaNews – E nesse nova concessão que deve produzir, terão exigências como ônibus novos, elétricos…? 

 

Flávia Moretti – É para mudar. Por isso estou tomando muito cuidado de fazer, assim que eu tiver os recursos, o plano de mobilidade urbana, para que a gente saiba onde realmente tem que passar a linha de ônibus.

 

Hoje, as linhas de ônibus de Várzea Grande passam no meio de um bairro. O bairro imenso e o ônibus passa só em uma rua. O ônibus tem que trafegar dentro dos bairros. Então, teremos um plano de mobilidade urbana em que a linha do ônibus passe para atender toda a população de uma região e não em uma via principal. Em Várzea Grande tem bairro que a linha do ônibus passa apenas onde tem asfalto.

 

As críticas que alguns vem fazendo não condizem com a verdade. Nós estamos trabalhando muito

MidiaNews – A senhora também teve um tensionamento com a Câmara dos Vereadores. Em uma coletiva que a senhora deu à imprensa chegou a sussurrar que eles não trabalham. Como está esse relacionamento hoje? Há atritos?

 

Flávia Moretti – Eu não tenho atrito com os vereadores. As críticas que alguns vem fazendo não condizem com a verdade. Nós estamos trabalhando muito, executando muito com parcos recursos financeiros. Sobre o transporte coletivo, por exemplo: a empresa tem um contrato vigente até o ano que vem e não tenho como interromper o contrato. É uma concessão e não se faz concessão de transporte na noite para o dia. É preciso sentar e dialogar para resolver algumas emergências.

 

Não adianta o vereador falar: “Por que você não está resolvendo?”. Eu estou! Pergunte para mim o que estou fazendo e depois fale que estou ou não fazendo. Estou fazendo e muito.

 

 

MidiaNews – É uma crítica pela crítica?

 

Flavia Moretti – É crítica para se colocar. A mesma coisa no Bairro Paiaguás. Vai lá, filma e diz que está esburacado. As máquinas estão lá, fazendo um trabalho dentro de um cronograma. O projeto de asfaltamento é da gestão passada. Mas a realização e toda a condução do processo é nossa. A gestão fez um projeto, buscou recursos, mas ficou parado, não fizeram nada.  

 

Com os vereadores é uma construção. Não imponho ninguém gostar de mim. Não imponho ninguém gostar do meu trabalho, do jeito que trabalho. Não vou impor. Quer vir fazer uma crítica construtiva? Quer caminhar junto? Quer me ajudar com soluções? Me ajude com soluções. Me ajude com recursos. Isso, sim, vai ser bom para a sociedade e não a promoção.

 

MidiaNews – Há um avanço das facções criminosas em Várzea Grande. De que forma a Prefeitura está trabalhando para frear isso? Há um diálogo aberto com o Governo?

 

Cerca de 75 mil famílias estão como vulneráveis e o outros 39 mil extrema pobreza. Temos uma condição de muita pobreza

Flávia Moretti – O governador já sinalizou positivamente. Estamos iniciando um processo de vigilância do município, para ampliar a segurança. Não só por conta de crimes contra as pessoas ou patrimônio, mas também crimes ambientais, que são pessoas jogando entulho, lixo, em áreas proibidas, de APP (Área Preservação Permanente) e também de crimes de trânsito. A questão do trânsito, não usaremos radar, mas câmeras para monitoramento melhor do trânsito.  

 

Sobre as facções, a nossa secretária de Assistência Social [Cristina Setsuco] está querendo atender melhor as famílias, colocar as famílias dentro do CadÚnico, para começarem a sair da criminalidade.

 

Eu quero colocar equipamentos públicos mais próximos dessas áreas, estar com a Guarda Municipal mais próxima, para mostrar que o município não quer confronto, o município quer atender aqueles mais necessitados. E a questão do tráfico, é com a Segurança Pública, lógico que o Estado tem que intervir, seja com a Polícia Militar, seja com a Guarda Municipal. 

 

É interessante que nosso município é muito pobre, talvez por isso ainda existe essa questão da predominância da criminalidade, das facções. Estamos com município muito empobrecido, mais de 50% da população está no CádÚnico. Cerca de 75 mil famílias estão como vulneráveis e o outros 39 mil extrema pobreza. Temos uma condição de muita pobreza. 

 

MidiaNews – A senhora tem um bom diálogo com o Governo Federal, apesar de ser do PL. Está tendo essa abertura, diálogo, com Governo Lula para atrair mais recurso para combater essa situação?

 

Flávia Moretti – No Governo Federal existe uma PEC da Assistência Social que visa determinar um valor X para as cidades. Hoje a gente recebe muito pouco. Muito pouco. São R$ 30 mil por mês para fazer assistência social do Governo Federal em Várzea Grande.

 

A gente depende das cestas básicas do município e do estado, que são 3 mil a cada três meses. Então, com 39 mil famílias, eu não consigo atender nem os mais vulneráveis. Eu dependo muito de ação social, de doações… Isso é fato. 

 

Se a gente não levantar o município a gente vai continuar tendo alto índice de criminalidade por conta da situação de pobreza no município

Somos o segundo município que mais arrecada do Estado e o que menos recebe a devolutiva do Estado pelo ICMS, pelo FPM. Não temos esse recurso de volta.  E ficamos à mercê… Porque recebemos R$ 13 milhões e arrecadamos mais de 130 milhões ao mês. A gente perde R$ 300 milhões ao ano. 

 

Por conta dos percentuais de saneamento, do meio ambiente, da educação, do desenvolvimento social, do IDH…  E eu não consigo levantar. Então, se não tiver um olhar diferenciado do Governo de Mato Grosso, do Governo Federal, da bancada mato-grossense federal e dos deputados estaduais para dizer: “Vamos levantar a Várzea Grande”… A cidade parou no tempo. A criminalidade vai continuar aumentando e ela migra de Várzea Grande para Cuiabá, para Santo Antônio do Leveger, para Chapada dos Guimarães.

 

Então, se a gente não levantar o município a gente vai continuar tendo alto índice de criminalidade por conta da situação de pobreza no município. 

 

Nós temos 8 favelas em Várzea Grande, segundo o IBGE, para mim tem muito mais, conheço. Se a gente caracterizar como favela lugares que não tem infraestrutura, o centro da cidade não tem infraestrutura. Não tem rede de esgoto, não tem rede de água… Somos a cidade que mais tem favela no estado de Mato Grosso.

 

MidiaNews – Varzea Grande é uma cidade com diversos frigoríficos e que contribuem para a arrecadação de ICMS da cidade. Há um temor de que o tarifaço do presidente dos EUA, Donald Trump, afete o setor e as finanças da cidade?

 

Flávia Moretti – Sim, conversei com a Marfrig, mas somente com ela. Com os outros frigoríficos ainda teremos uma reunião. O que sei é que eles estão muito tranquilos, porque sabem que o mercado absorve bastante a produção, mas é perigoso, sim. Pode haver um desequilíbrio fiscal dentro do município. Porém, eles me deixaram muito tranquila que o mercado absorva essa produção. 

 

MidiaNews – O Eduardo Bolsonaro foi quem capitaneou essa questão das sobretaxas. Qual a sua avaliação com relação ao tarifaço?

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Flávia Moretti

“O presidente Lula precisa tomar as rédeas da situação”, diz a prefeita Moretti sobre tarifaço de Trump

Flavia Moretti – Eu não vou concordar com o tarifaço. Não dá pra concordar. Houve essa rusga política. Mas nós, brasileiros, não podemos perder por isso. O Governo Federal tem que dialogar, tem que fazer uma coisa mais contundente. O presidente Lula precisa tomar as rédeas da situação.

 

E o nosso país está assim: a inflação aumentando, os preços subindo, o mercado de trabalho sendo restrito, investimentos caindo… Estamos num declínio econômico que é prejudicial. Há um prejuízo econômico a longo e médio prazo. Nós já passamos isso no Brasil há muitos anos atrás, vamos querer reviver? Esperar para ver? Está na hora da gente reagir.

 

MidiaNews – Algumas pesquisas dão que por conta desse interferência da família Bolsonaro na política externa, o presidente Lula cresceu na intenção de votos para 2026. O ex-presidente Bolsonaro tem alguns nomes para lançar: Michelle, Tarcísio de Freitas… O presidente Lula pode ser reeleito?

 

Flávia Moretti – O Lula já fez o que tinha que ser feito no mandato dele. Pronto! Acabou. Não tem mais vez. Olha o jeito que está o Brasil, a política… É uma política de radicalismo, de ceticismo. Então, não dá! Chega! 

 

Sou de direita, não apoio a reeleição dele de forma alguma. Acredito que se o Bolsonaro não vier, o PL vai levantar um novo nome. A Michelle é um bom nome, como mulher, o Tarciso, que foi levantado, também é um excelente nome.  Entendo que o partido até lá vai caminhar e o que o partido consolidar vou apoiar, vou estar ao lado levantando a bandeira.

 

MidiaNews – E em Mato Grosso, hoje no campo da direita, tem dois candidatos próximos a senhora: Wellington Fagundes e o vice-governador Otaviano Pivetta. Qual será o caminho a se tomar em 2026?  Acredita que os dois possam caminhar juntos?

 

Flávia Moretti – Espero que tenha uma conversa ainda. Muita água vai rolar debaixo dessa ponte. Mas entendo que eles vão ter várias conversas, diálogos, composições… Para política nada é impossível.

 

O Wellington é um político consolidado no Estado, tem uma força dentro do PL nacional, do PL estadual, e dentro dos municípios mantém-se forte e consolidado. O Pivetta, como vice-governador, fez um trabalho ao lado do Mauro Mendes. Em Várzea Grande, ele sempre me apoiou, estendeu a mão, abriu a vice-governadoria, o Governo…

 

Acho que são dois nomes de peso. Vai ser difícil para todo mundo entender quem vai apoiar, mas sou PL, sou partido, me mantenho dentro do partido, e o que o partido decidir deliberar e fizer os acordos, estou junto para caminhar.

 

MidiaNews – E quanto ao Tião, seu vice, nesse cenário. Recentemente, ele anunciou que vai vir candidato a Assembleia Legislação. 

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Flávia Moretti e Tião da Zaeli

A prefeita Flávia Moretti e seu vice Tião da Zaeli: “É o momento dele ser candidato para a Assembleia Legislativa”

Flávia Moretti – Falei para ele que precisa ser candidato. É o momento dele, se vai sair a estadual ou federal, vou estar ao lado dele pedindo voto, caminhando com ele. Mas anseio muito que ele venha candidato, sim, e é um nome que vai poder contribuir muito com Varzea Grande.

 

Várzea Grande depende dos deputados para o crescimento, mas uma defesa efetiva. Aquele que defende a cidade, que fecha a camisa: “Eu sou de Varzea Grande”, “Eu vou buscar mais recursos para a minha Várzea Grande”, “Vou melhorar essa lei, porque é para a minha Várzea Grande”.

 

É esse deputado que o Tião vai ser por Varzea Grande, se eleito for, seja na Assembleia, seja na Câmara, onde ele quiser ser ou partido colocá-lo.

 

MidiaNews – Essa “cutucadinha” que a senhora acabou de dar nos deputados é para o Júlio Campos e o Fabinho? 

 

Flávia Moretti – A gente precisa que os deputados olhem mais para gente. Uma emenda R$ 1 milhão ou R$ 1,5 milhão não vai resolver o problema da água de Várzea Grande. Precisamos de R$ 16 ou R$ 20 milhões. Não vai resolver o problema da saúde, porque só a saúde tem uma folha de R$ 18 milhões e eu ainda tenho custeio.

 

Eles podem olhar e eu preciso que eles olhem por Várzea Grande no sentido de me ajudar com o Governo de Estado sobre o FPM, sobre a devolutiva do ICMS para o município. Nós já pedimos a reavaliação dos valores, dos percentuais, teve uma pequena melhora, mas não é o suficiente. 

 

Quantos anos tem os deputados de Várzea Grande que não sabiam o quanto que a gente recebia da saúde pública? Temos o Teto MAC de R$ 3,7 milhões enquanto Cuiabá recebe R$ 40 milhões, enquanto Chapada dos Guimarães recebe R$ 2,8 milhões, Rondonópolis recebe R$ 20 milhões. E eles não sabiam da realidade financeira da cidade? Agora já sabem. Olhem por Várzea Grande. Muitos já estão me ajudando, mas peço que olhem com carinho, com fervor.

 

MidiaNews – Em Cuiabá, a primeira-dama Samantha Iris já anunciou que é candidata a deputada estadual no ano que vem. E seu marido, Carlos Alberto de Araújo, pensa em se candidatar a algum cargo eletivo?

 

Flávia Moretti – Não, ele não pensa em cargo eletivo. Mas eu já cutuquei: “Olha virou moda, e aí?”, “E se o Tião não for, quem vamos apoiar em Várzea Grande?”. Mas não, a gente tem outros deputados que a gente pode apoiar.

 

Fato é que o Carlos não tem pretensão política e a gente prima por fortalecer a candidatura do Tião.

 

Assista a íntegra:

 

 

FONTE: MIDIA NEWS

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