Rodinei Crescêncio/Rdnews
Vivemos um momento em que a política brasileira se assemelha cada vez mais a um campo de batalha — e não apenas no sentido figurado. Entre disputas narrativas nas redes sociais, embates no plenário e a corrida para conquistar corações e mentes, cada movimento é calculado, cada palavra pode virar munição. Nessa arena, vencer não depende apenas de ter boas propostas, mas de saber jogar com estratégia. E é aí que lições extraídas de Estratégias de Guerra, de Robert Greene, ganham valor para quem quer sobreviver e prosperar na política contemporânea.
Mais do que “brigar” com adversários, trata-se de entender o campo de batalha — que, no caso da política, é formado pela opinião pública, pelas redes sociais, pelas alianças e pelas narrativas.
1. Encontre um inimigo claro — e torne sua luta visível
Na política, todo projeto precisa de um contraponto. Ele não precisa ser uma pessoa, mas sim um problema que simbolize tudo o que você combate. Pode ser a corrupção, a burocracia, o abandono de uma região, a desigualdade social. O governador Tarcísio de Freitas, por exemplo, transformou a “ineficiência do Estado” no seu inimigo simbólico, posicionando-se como o gestor que entrega onde o sistema falhou.
2. Transforme sua política em símbolo e emoção
Números convencem, mas símbolos emocionam. Políticos que comunicam usando imagens fortes, frases simples e símbolos marcantes geram conexão mais rápida.
Juscelino Kubitschek, com o lema “50 anos em 5”, criou uma visão grandiosa que virou parte da memória nacional — muito mais do que qualquer planilha de obras.
3. Seja imprevisível para não ser controlado
O adversário se prepara para o que já conhece. Quando um político quebra o padrão e age de forma inesperada, muda o jogo. A senadora Mara Gabrilli, por exemplo, conquistou espaço não apenas por pautas esperadas da sua trajetória, mas por se posicionar em temas onde poucos imaginavam que ela entraria, surpreendendo aliados e opositores.
4. Controle a narrativa antes que ela seja controlada
Em tempos de redes sociais, silêncio é espaço para que outros contem sua história por você.
Durante a pandemia, prefeitos que se anteciparam às críticas, explicando cada medida de forma clara, conseguiram reduzir desgastes e manter apoio popular, mesmo em decisões impopulares.
5. Use a força da coalizão
Na guerra, aliados podem definir a vitória. Na política, coalizões inteligentes ampliam alcance e legitimidade.
Lula, ao formar uma frente ampla em 2022, não apenas somou partidos, mas construiu um arco narrativo de “união contra o retrocesso”, transformando alianças em símbolo.
6. Escolha suas batalhas com cuidado
Nem todo ataque merece resposta. Grandes líderes sabem onde colocar energia.
Magno Malta, por exemplo, escolheu debates estratégicos para concentrar sua retórica e se manter relevante, evitando dispersar sua base em polêmicas secundárias.
Conclusão: Estratégia é mais que disputa
Ao adaptar ensinamentos militares para a política, fica claro que vencer não é só sobre atacar adversários. É sobre saber onde, quando e como se posicionar.
Em um campo tão competitivo, a vitória é de quem entende que cada movimento comunica — e que toda guerra política é, antes de tudo, uma batalha de narrativas.
Mariana Bonjour é advogada e consultora política. Escreve com exclusividade para esta coluna às sextas-feiras
FONTE: RDNEWS