‘Violncia comea com cimes e controle, diz delegada | FOLHAMAX

 

A violência contra a mulher está muito além das agressões físicas, ela começa lentamente com um ciúme excessivo, manipulações e a crença de que o corpo da vítima é um bem. Nas últimas semanas, o Brasil parou para acompanhar o caso de Juliana Garcia dos Santos, agredidas com 61 socos pelo então namorado, no elevador do prédio em que morava, no Rio Grande do Norte. Mas antes de ter o rosto quebrado em várias áreas pelo agressor, Juliana também sofria violência psicológica. O cenário violento não começo com o golpe, ele escalona até que seja fatal.

Em entrevista ao programa “Entrevista Coletiva”, da TV Assembleia, a delegada titular da Delegacia Especializada em Defesa da Mulher de Cuiabá, Judá Marcondes, falou sobre os casos de feminicídio, delito pelo qual Mato Grosso figura como campeão há dois anos.

“A violência psicológica demorou para ser tratada como um crime, como a violência física é. A diferença é que a violência psicológica é tão severa que, em boa parte dos feminicídios, o homem nunca bateu nessa mulher. Mas ele controla essa vítima de toda forma, que ela não percebe que está nesse ciclo de violência, a ponto desse homem matar e ela nem acreditar que esse homem é capaz disso”, detalha a delegada.

Ela pontua que o perfil do feminicida é de homem controlador e ciumento, que possui condutas normalizadas e romantizadas pela sociedade. Como a autoridade sobre as roupas que veste, o celular, com quem conversa.

“Ele vai manipulando e exercendo um controle sobre ela, que afasta essa mulher de pessoas que ela gosta e a querem bem. A nossa sociedade ensina os meninos que a honra dele está no corpo dessa mulher e, para que ele mantenha essa honra, ele precisa controlar essa mulher, por meio de uma ‘proteção’, ‘ciúmes’, ‘amor’, e entende que se ela fugir dessa lógica de dominação, é como se ele deixasse de ser homem e por isso ele acredita que tenha que matá-la”, explica a policial.

O conceito explica o aumento de homens que se matam após matar a mulher, por atender que sua honra seja maior que a vida dele.

61 socos

No dia 26 de julho, o elevador de um edifício localizado na cidade de Natal (RN) quase se tornou palco de um feminicídio. Na ocasião, Juliana Garcia dos Santos, 35, foi espancada com mais de 60 socos pelo então namorado, o ex-jogador de basquete, Igor Eduardo Pereira Cabral, 29.

Em entrevista ao jornalista Roberto Cabrini, após passar por cirurgia de reconstrução na face, a promotora de vendas falou pela primeira vez sobre o caso.

“Nós faríamos dois anos de namoro. Era uma relação tóxica e abusiva, porque ele era muito controlador, mas ele justificava isso como uma forma de amor. Eu sempre soube do histórico de agressão dele com outros homens, mas eu nunca pensei que comigo seria assim”, contou.

Juliana conta que percebeu o namorado descontrolado nos últimos dias, fazendo uso de bebida alcoólica por longos períodos no fim de semana, o que o deixava pior. “Aconteceu um fato, cerca de uns 7 meses atrás, que durante uma discussão nossa, dele me empurrar e eu cair. Quando isso aconteceu eu puxei a camisa dele para que eu não caísse e descosturou 3 pontinhos da camisa dele, e ele disse que tinha sido agredido e chamou a polícia”, relembrou.

Na época, a polícia foi até seu apartamento, questioná-la se gostaria de fazer um registro de Maria da Penha, porém a jovem negou, imaginando que aquilo seria algo pontual.

Já em 25 de julho, ela conta que eles saíram do trabalho, foram à academia e voltaram para casa. No dia seguinte, data dos fatos, eles se preparavam para receber alguns amigos na área de convivência do condomínio.

“Quando estávamos na piscina, ele pediu para eu falar com um amigo dele, questionando se ele iria para a confraternização e ele afirmou que sim. Eu falei para ele que o amigo tinha respondido e ele falou ‘deixa eu ver a resposta’, e ele alegou que eu estava traindo-o. Tinha outro amigo nosso que já estava lá e ele queria mostrar meu celular para esse amigo, eu fiquei indignada e disse para ele me devolver o celular porque eu não permitia que ele mostrasse as minhas mensagens para ninguém”, ela explicou.

Já durante a tarde, Juliana questionou sobre o que ele iria fazer, se ele iria quebrar seu celular, pois Igor já havia quebrado outros dois telefones dela, a acusando de traição. Na hora, o agressor jogou seu celular na piscina.

Câmeras de segurança mostram o momento em que Igor passa correndo pela área de lazer, em direção ao elevador, porém, a chave do apartamento estava com Juliana. Logo depois, ela, que estava sentada em um banquinho perto do bloco, pega outro elevador e também sobe para o apartamento.

“Eu subi para que ele não entrasse no apartamento e quebrasse tudo. Quando chegou lá em cima, os elevadores chegaram praticamente juntos, e então fiquei falando para ele descer, para sair de lá e ele disse para que eu saísse do elevador, e eu sabia que fora, não tinha câmera, eu me recusei a sair porque eu sabia que ele estava muito alterado”, relatou.

Ainda no elevador, Igor ficou pedindo para que Juliana saísse, e que abrisse a porta para que ele entrasse no apartamento e buscasse suas coisas.

“Eu disse para ele que no elevador tinha câmeras, apontei as câmeras e gesticulei porque sabia que tinha pessoas monitorando as imagens e para elas perceberem o que estava acontecendo, mas foi em vão. Então ele disse ‘você vai morrer’ e depois disso, ele começou a me bater”, contou.

Foram cerca de 36 segundos, do 16° até o andar 0, sendo agredida.

“Eu projetei o meu braço para frente do meu rosto para tentar me defender. Eu lembro que naquele momento meu propósito era me manter viva e consciente dentro do possível, porque eu sei que se eu me entregasse, eu não estaria aqui”, finalizou.

FONTE: Folha Max

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